Desde o começo do ano passado, quem frequenta o Terminal Rodoviário Josias Moreira Braga, em Anápolis (GO), a 55 km de Goiânia, se acostumou a cruzar com bandidos algemados e vítimas de algum crime nas proximidades do Cidade Jardim, bairro onde fica o estabelecimento. É que no segundo andar do prédio, acima das plataformas de embarque, funciona provisoriamente o 5º Distrito Policial da cidade.

A cabeleireira Analice Santos Cristóvão, 28 anos, disse que se assustou quando viu a primeira vez um homem algemado na rodoviária. Ela costuma ir de ônibus para Goiânia com frequência. "Achei que alguém tinha sido preso lá dentro, mas aí depois descobri que tinha a delegacia lá. Fiquei com medo. Se estou aqui e foge um bandido?", diz.

A preocupação de Analice tem fundamento. Já fugiu preso da delegacia, sem estrutura de segurança nem cela improvisada. Um preso conseguiu escapar após ser algemado à janela a uma das três salas comerciais integradas, que comportam a delegacia. "Na janela não tinha nem grade, então ficou fácil para ele fugir", conta o delegado Manoel Vanderic Correa Filho, titular do 5º DP.

Sem privacidade
Como não foi feita adaptação, é possível ver do corredor externo do segundo andar todos os cômodos da delegacia, inclusive quando o delegado interroga alguém - testemunha, vítima ou criminoso. Os inquéritos ficam expostos em estantes de ferro. Para invadir o 5º DP, basta quebrar uma das janelas.

Há uma porta de grade de ferro que é fechada à noite e impede o acesso ao corredor onde fica a delegacia. "Realmente aqui a segurança é precária. E outra coisa que incomoda muito é o barulho. Toda hora tem vários ônibus entrando e saindo, barulho dos passageiros, isso acaba estressando os agentes, desconcentrando o nosso trabalho", conta o delegado.

Uma mulher que foi registrar uma queixa e pediu para não ser identificada na reportagem disse que estranhou a delegacia estar dentro da rodoviária. "É esquisito, fica tudo aberto, todo mundo vê você. Se eu fosse uma testemunha, não ia lá para todo mundo me ver. Mas é melhor isso que não ter delegacia nenhuma", diz.

Já o gerente administrativo Rossini Duarte Afonso, da Atlântica Construção, Comércio e Serviço Ltda., empresa que administra a rodoviária, é só elogios para a mudança temporária da delegacia. Diz que o número de furtos e roubos dentro e fora do terminal caiu para zero depois que o delegado se mudou com seus agentes e escrivães para o local.

"O único pedido que fizemos, depois que eles se instalaram aqui, é que usassem a entrada dos funcionários, para que os passageiros não cruzassem com os presos. Isso no começo assustou, mas eles atenderam nosso pedido".

O 5º DP - que atende a população de 22 bairros - se transferiu para a rodoviária depois que foram expulsos da casa alugada no mesmo bairro por falta de pagamento. Achar uma nova residência é difícil. "Os vizinhos reclamam, o dono do imóvel tem medo de atraso e a instalação de uma delegacia pode marcar o local", diz Correa Filho. Comprar ou construir um imóvel é algo descartado pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp).

O delegado Jerônimo Borges, titular da Delegacia Regional de Anápolis, disse que já foi escolhida uma residência para abrigar o 5º DP e que a transferência deve ocorrer "em breve". Mas não especificou uma data. Afirmou que é preciso aguardar os trâmites burocráticos e que o imóvel não precisará passar por reformas. "Só uma pintura".