Sediar uma Copa do Mundo de Futebol é privilégio para poucos países. As exigências da Federação Internacional de Futebol (Fifa) são muitas e a nação que recebe o torneio deve aproveitar a oportunidade para trazer melhorias para a população.
Na França, por exemplo, que recebeu o Mundial em 1998, a região de Saint Dennis, na periferia de Paris, foi toda revitalizada para a construção do Estade de France.
A secretária-geral para Grandes Eventos Esportivos da França, Thérèse Salvador, explica que a população de Saint Dennis ainda aproveita os benefícios gerados pela construção do estádio. “Houve uma revolução. Um ponto muito importante é que o atual prefeito da cidade faz todo o possível para que a população de Saint Dennis, que muitas vezes é uma população carente, possa participar de todos os eventos de maneira fácil e espontânea”. Ela lembra a importância do esporte e da cultura para promover projetos de integração social.
O urbanista brasileiro Iuli Nascimento, que mora em Paris há 30 anos, observa que não basta fazer as obras. É necessário um plano integrado de longo prazo. “Um evento em si não traz desenvolvimento. Se for criado um equipamento sem planejamento do que vem a longo termo, não é tão benéfico, como foi o caso, porque o francês tem o hábito de planificar. Quando se planifica e se integra isso com a perspectiva de desenvolvimento da área a longo prazo, é sempre positivo.”
Em Marselha, que também foi sede da Copa de 98, foram investidos cerca de 61 milhões de euros na reforma do estádio, além de 27,5 milhões de euros para as obras em volta da arena. O líder da Maioria no Conselho Municipal, Yves Moraine, diz que o Vélodrome foi completamente reconfigurado para poder receber 60 mil pessoas. “Aproveitamos para reformar também, todo o entorno – podemos falar de um plano de embelezamento em torno do Vélodrome.” Moraine ressalta que, entre 1995 e 1998, não houve tempo de fazer um plano de revitalização e reconstrução de todo o bairro.
Na Alemanha, que organizou o Mundial de 2006, as mudanças foram sentidas pela população. O seminarista brasileiro Bruno César Pereira de Souza, que está em Berlim desde 2005, lembra que os alemães, conhecidos como pessoas frias, foram contagiados pela alegria que uma Copa do Mundo proporciona. “Todos estavam na expectativa de receber o mundo inteiro, mas também porque todos fizeram uma reforma na cidade, mudou a cara da cidade um pouco. Os alemães prepararam muito bem a estrutura e também a recepção das pessoas.”
Tanto na França quanto na Alemanha, foram necessários três anos para concluir as obras da Copa. O desafio da África do Sul foi muito maior, já que o país não contava com toda a infraestrutura que os europeus já tinham.
O tesoureiro da Federação de Futebol da Alemanha, Horst Schimidt, que também foi consultor da Fifa na África do Sul, garante que todas as exigências da entidade foram cumpridas. “O investimento na África do Sul em estádios, transportes, infraestrutura e assim por diante vai ser bom não só para a Copa do Mundo, mas também para o futuro desenvolvimento do país. É por isso que, quando se pergunta à população, ele respondem que são a favor da Copa do Mundo, pois essa Copa do Mundo acelerou as medidas de infraestrutura”. Schimidt acredita que, sem a Copa, essas medidas seriam tomadas muito mais tarde.
O Brasil tem quatro anos para se preparar. O responsável pelo Departamento de Esportes no Senado alemão, Jorg Fisher, aconselha o país a iniciar o quanto antes os trabalhos. Segundo ele, em Berlim, a preparação começou no ano de 2003, mais de três anos antes da Copa, mas nas outras cidades-sede, as obras tiveram início em 1998, oito anos antes, quando o país ainda era candidato a sediar a Copa.
Outra providência a ser tomada, de acordo com Fisher, são as medidas relacionadas ao financiamento. “Isso tem que ser esclarecido o mais cedo possível, para que se tenha o dinheiro disponível para tomar todas as medidas requeridas para uma Copa do Mundo.”
