Sempre que dona Rosa Amoré da Silva, de 58 anos, recebe uma carta, fica sem reação. Não sabe o que fazer com o papel ou com o conteúdo que, para ela, é só rabisco. Criada na zona rural de Tupã, no interior de São Paulo, ela não aprendeu ler nem escrever. Há dois meses, porém, já consegue assinar o próprio nome - tem frequentado as aulas de um projeto da Prefeitura de Paraíso do Norte, a 98 quilômetros de Maringá, no norte do Paraná, que oferece alfabetização gratuita para pessoas acima de 40 anos. Além disso, a administração municipal paga R$ 80 mensais para cada aluno que vai à escola.

“O meu maior sonho é aprender a ler. Você sabe o que é uma pessoa entregar um pedaço de papel na minha mão e eu não saber o que é aquilo? É triste. Agora, com ajuda das professoras, já aprendi a escrever meu nome”, comemora dona Rosa.

A estudante sempre trabalhou entre cafezais e canaviais. Teve três filhos, mas dois morreram com menos de dois anos completos – um menino foi vítima de choque elétrico em uma geladeira e uma menina morreu de “doença forte”, cujo nome dona Rosa não sabe dizer qual é.

“Minha vida foi muito sofrida. Há pouco tempo, eu não tinha nem cama para dormir. Agora, o dinheiro que recebo para estudar ajuda muito. Com o que ganho, eu consigo até comprar uma ‘misturinha’ para o mês”, conta a ex-agricultora. Segundo ela, o marido também vai às aulas do projeto para, além de aprender, completar a renda mensal do casal, que é de cerca de R$ 600.

Além do incentivo financeiro, a prefeitura do município de 13 mil habitantes disponibiliza material didático, transporte e consultas periódicas com um oftalmologista, de acordo com o secretário de Educação do município, Roberto Raimundo de Lima.

O programa de alfabetização começou há três anos, com 60 alunos matriculados - hoje, já são mais de 120 pessoas inscritas, conforme números da administração municipal. O projeto funciona em parceria com o programa Paraná Alfabetizado, do governo estadual, que paga R$ 280 aos professores, que ainda recebem R$ 250 do município.

Para se matricular no programa, basta ser morador de Paraíso do Norte e procurar a Secretaria de Educação municipal, que fica Rua Catulo da Paixão Cearense, 373, na regiao central da cidade.

“Queremos acabar com essa mancha vergonhosa para o país [o baixo índice de alfabetização]. Já conseguimos reduzir o índice para 9% de analfabetos no município. Em três anos, todo mundo em Paraíso do Norte vai saber ler", projeta o secretário. De acordo com o índice da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) um município é livre do analfabetismo quando menos de 5% da população não sabe ler.

"É um investimento para todos os setores do município. Se mudarmos a educação, mudamos todo o resto", garante Lima.