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Quarta-feira, 17 de julho de 2024

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Referência em educação, Finlândia tem queda em ranking internacional; conheça o modelo de ensino do país

A educação finlandesa é conhecida como uma das melhores do mundo. Desde que o programa internacional de avaliação do estudante Pisa foi criado, há dez anos, o país é referência não só no ensino médio — que é o universo avaliado pelo programa — mas na pré-escola e no ensino superior de excelência.


Na semana passada, no entanto, o mundo inteiro e sobretudo os finlandeses ficaram surpreendidos com o último resultado do Pisa, no qual a Finlândia — que liderou o ranking em vários anos, como 2000, 2003, 2006 e sempre esteve entre os melhores — despencou dez posições em matemática e quatro em leitura, além de ter se saído pior também em ciências.

O debate global gerado entre os educadores questiona não apenas a educação finlandesa, mas o modelo educacional nórdico, uma vez que a Suécia caiu 17 posições em matemática e 27 em leitura e a Noruega tropeçou uma posição em matemática e ficou mais afastada da média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que edita o ranking do Pisa.

Paralelamente, a China — nova líder do ranking — e os países do sudeste asiático aparecem com uma proposta diferente da nórdica, na qual os alunos orientais têm conhecimento aprofundado em matemática.

Contudo, o modelo asiático pode não ser o substituto do nórdico, que é frequentemente referido pelo sistema educacional finlandês. De acordo com o consultor e diretor de educação da FutureTrends, o professor Eliezer Arantes da Costa, o resultado do ranking não necessariamente corresponde a uma perda.

— Perdeu? No que a Finlândia perdeu? Se ela não é mais a primeira, ela então teve algo a ganhar: um novo primeiro lugar com quem aprender. Os países devem olhar para o Pisa e se avaliar. Ver o quanto pontou em 2000, 2003, 2006, 2009 e agora no último, em 2012. A educação de outro país melhorar não significa que a de outro piorou.

No sistema asiático, a carga horária de estudos pós-aula é alta, chegando a totalizar 12 horas em um dia em escolas como a Juku, na Coréia do Sul, conhecida como a mais difícil do mundo.

— No Japão, por exemplo, há um método de ensino de violino chamado suzuki. Nele, os estudantes se dedicam ao instrumento oito horas por dia. Eles formam os melhores violinistas do mundo. Agora...eu quero formar máquinas de violino ou cidadãos no caso do Pisa?

No sistema de ensino finlandês, o aluno é guiado para gostar de estudar em uma dinâmica de ensino menos estressante, em que a carga de estudo é gradual com o passar dos anos e os professores são técnicos orientadores treinados para estimular a criatividade e curiosidade da pré-escola ao ensino superior.

Pré-escola e educação 3.0

Segundo Raija Toikka, diretora da pré-escola do colégio Luhtaan Päiväkoti, na cidade finlandesa de Tampere, região central da Finlândia, as autoridades locais têm autonomia administrativa na gestão das escolas, obedecendo a regras básicas do modelo de ensino.

— Aqui, geralmente as crianças estudam na escola do seu bairro. Os pais não escolhem uma escolinha do outro lado da cidade porque acham melhor. É importante que a criança conheça a vizinhança, e que a escola seja próxima dos pais.

Na Luhtaan, os professores conversam com pais semanalmente por duas horas, três vezes por semana, e por isso as escolas ficam abertas à noite. De dia, contudo, o que acontece é um esquema de rodízio, explica a diretora.

— As crianças de um a seis anos ficam juntas em seis grupos. Pela lei, são permitidas até sete crianças para um adulto. Há os professores, que são pós-graduados, e sempre duas enfermeiras. O grupo faz atividades que trabalham com o lúdico, o brincar, e vão aprendendo em ambientes externos, mesmo no frio, para ter contato com a natureza. Enquanto um grupo acompanhado de três adultos está na sala de desenho, o outro almoça, enquanto o outro já está na soneca da tarde.

Quanto à carga horária escolar, a aula é integral nas pré-escolas finlandesas também para que se preencha o tempo correspondente ao que os pais estão no trabalho, o que faz com que a educação funcione sem obstáculos como um recurso para toda a sociedade em um sistema de ensino que opera de modo uniforme no país, oferecendo, assim, a cada criança, as mesmas oportunidades de aprendizagem e eliminando os privilégios e desvantagens de cada faixa econômica do país, conta a diretora.

— O objetivo é manter a equidade, em que todos estão no mesmo lugar e têm a mesma chance. Isso explica o porquê de não ter distinção entre escolas comuns e de elite. Prezamos pela equidade. Elas não diferem radicalmente quanto à origem socioeconômica do aluno. Temos algumas escolas particulares, e o ensino pré-escolar custa cerca de 200 euros.

Quanto ao ritmo da pré-escola, o modo de ensino é centrado no individuo e com estímulos enquanto a criança brinca.

— O objetivo é que, ao chegar em casa, a criança diga do que brincou quando o pai perguntar o que ela aprendeu hoje. Temos o cuidado em incentivar a criança a se perguntar, questionar o que está vendo.

No modelo nórdico de educação, a alfabetização não tem início aos seis anos, como em muitos países, e as primeiras letras começam a ganhar forma apenas no final da pré-escola, quando a criança já tem mais de sete anos, em média, explica Raija.

— A curiosidade pela escrita vem automaticamente.

Dada a autonomia das pré-escolas, cada instituição deste nível de ensino pode oferecer um modelo particular, com uma pequena ênfase em áreas como esportes, artes e mídias. Na Luhtaan, onde a ênfase é mídia, as atividades contam com Ipads e sofwares em que a criança faz um desenho, copia sua arte em uma telão que lhe permite aumentar ou diminuir as ilustrações.

— A atividade pode ser fotografar tudo que começa com "A", por exemplo.

Ensino fundamental e médio

O ensino fundamental finlandês começa aos sete anos, e dura cerca de nove. O vice-diretor da Apulaisrehtori, escola de ensino fundamental da cidade de Hämeenlinna, ao norte de Helsinque, conta que a escola procura manter a quantidade de alunos baixa em sala de aula, próxima dos 20 estudantes. Quanto à inserção social, as aulas são dadas separadamente, dependendo do caso, mas a recreação e o convívio é coletivo.

Outro aspecto de equidade no sistema escolar finlandês é a ênfase nos idiomas, conta Apulaisrehtori.

— A maioria dos alunos estuda línguas. No ensino fundamental, eles podem escolas uma língua para estudar por dois anos, e não podem trocar no meio do curso.

Universidades

No ensino superior, a Finlândia tem o sistema dividido em duas categorias. De um lado, mais próximo das empresas, as 24 escolas politécnicas, que são instituições de ciências aplicadas com foco no mercado. De outro, há outras 14 universidades "tradicionais".

Nas politécnicas, onde professores brasileiros da rede federal terão aula de capacitação e inovação em 2014, os alunos são preparados para organizar e analisar informações no acelerado ritmo de desenvolvimento tecnológico e de transferência de organizações de mão de obra especializada promovido pela globalização, explica a reitora PhD da Universidade de Haaga-Helia, Ritva Laakso-Manninen.

— Uma universidade de ciência aplicada busca adotar uma abordagem com foco nos problemas, e por isso a aproximação com as empresas. Estimulamos o emprego do pensamento criativo e do domínio de fatores culturais, e também as habilidades de comunicação necessárias para o trabalho em equipe.

No campus de Porvoo, a cerca de 50 km de Helsinque, a Universidade Politécnica de Haaga-Helia, por exemplo, abole a visão tradicional de salas de aula com alunos e professores para trabalhar no desenvolvimento de futuros profissionais a partir da supervisão de coordenadores.

Paralelamente ao método de ensino inovador, a educação superior da Finlândia tem forte apoio em desenvolvimento e pesquisa. Lá, o investimento em pesquisas chega a 3,4% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. Até o momento, a Finlândia é o quarto país que mais publica artigos científicos no mundo. Como resultado, ela é vista por muitos observadores como um dos primeiros países a caminhar em direção a uma economia genuinamente voltada à inovação e baseada no conhecimento, em um sistema uniforme em que educação é prioridade desde a infância.
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