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Sábado, 29 de junho de 2024

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Novo presidente colombiano herdará país com três milhões de deslocados

A situação de 3,3 milhões de pessoas vítimas de deslocamento interno forçado na Colômbia é um dos principais problemas sociais que o futuro presidente do país herdará após ser eleito, no próximo domingo (20).


"Não há um problema humanitário mais grave, que tenha crescido mais em um governo, que o que ocorreu com o deslocamento forçado na administração do (presidente Álvaro) Uribe", afirmou Jorge Rojas, presidente do Conselho Consultivo para os Direitos Humanos e Deslocamento Forçado (CODHES na sigla em espanhol) da Colômbia.

"A administração Uribe produziu mais deslocados internos do que todo o contexto da guerra na Colômbia", afirmou.

De acordo com dados oficiais, quando Uribe assumiu o governo, o número de deslocados forçados era de pouco mais de 1 milhão de colombianos. Entre 2002, início da era Uribe, e dezembro de 2009, os despejos forçados atingiram outras 2,3 milhões de pessoas, levando ao total de 3,3 milhões.

"É uma das principais crises humanas sobre deslocamento em todo o mundo", afirmou à BBC Brasil Francesca Fontanini, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) em Bogotá.

Segundo o Acnur, a Colômbia só perde para o Sudão em número de deslocamentos forçados internos.

Redução
Uribe reconheceu que em seu governo não foi possível colocar "um ponto final" nos deslocamentos (forçados), mas que o índice está se reduzindo.

No ano passado, 286 mil pessoas sofreram deslocamentos forçados, 24% menos que o número de afetados em 2008, quando o saldo era de 380 mil.

O governo afirma ter apoiado o regresso de 700 mil pessoas a seus lugares de origem nos últimos anos.

Na última década, houve uma redução da população rural em 9%, segundo o censo oficial da Pesquisa de Verificação Nacional.

Violência
De acordo com o CODHES, o número total de migrações forçadas seria ainda maior do que a estimativa do governo, contabilizando um total de 4,9 milhões de pessoas que teriam sido obrigadas a abandonar suas casas em consequência do conflito armado.

As causas tradicionais dos deslocamentos forçados na Colômbia estão relacionadas com a disputa territorial entre guerrilhas e paramilitares por corredores do narcotráfico, combates entre Exército e guerrilhas - incrementados com a aplicação da política de segurança do atual governo -, fumigações em áreas de cultivo ilícito, violência sexual contra mulheres e crianças e recrutamento forçado por parte de grupos armados.

De acordo com a promotoria colombiana, porém, o ressurgimento dos grupos paramilitares na última década e sua suposta atuação juntamente com empresas transnacionais produtoras de etanol se tornou outro importante fator para a migração forçada no país.

"Há um novo gerador forte de deslocamentos que é a nova geração de paramilitares. Eles ressurgem com muita força e têm pressionado a saída das pessoas", afirmou à BBC Brasil o padre Ricardo Martinez, diretor do albergue Casa de Paz, no município de Soacha, periferia de Bogotá, para onde vão grande parte dos deslocados que chegam do campo.

Segundo Martinez, a maioria das pessoas que se refugiam no albergue são vítimas de paramilitares. "A maioria chega em condições lamentáveis", afirma.

Empresas
A CODHES afirma que uma suposta aliança entre paramilitares e transnacionais teria também contribuído para a migração de grupos indígenas e afrodescendentes que antes ocupavam regiões de terras férteis ou de fácil acesso a fontes de água.

Para Jorge Rojas, a política agrária do governo, focada na expansão de fazendas de monocultura para geração do etanol, também incentiva, ainda que indiretamente, o aumento dos despejos forçados.

"O discurso do governo incentiva a expansão das transnacionais do campo relacionadas com a produção de palma africana, a expansão de cultivos para biocombustíveis em detrimento da produção de alimentos", afirmou o presidente do CODHES.

"E esses empresários usam os grupos paramilitares para assegurar esses objetivos", afirma.

No final de maio, o governo ordenou a prisão de 24 empresários produtores de palma africana acusados de despejos forçados, formação de quadrilha e "invasão de áreas de especial importância ecológica".

Autoridades afirmam que os produtores de palma teriam se aliado a grupos paramilitares para obrigar os moradores do Departamento (Estado) de Chocó, nordeste da Colômbia, a abandonar suas terras.

Os moradores da região seriam vítimas permanentes de "ameaças, extorsões e homicídios", segundo as autoridades.

Dois chefes paramilitares acusados de envolvimento com despejos forçados em Chocó estão presos.

Segundo o Acnur, o marco legal colombiano "é um dos mais avançados" em relação à proteção de migrantes forçados, porém o governo ainda tem dificuldades de garantir um processo definitivo de readaptação que garanta acesso a saúde, educação e trabalho à população deslocada.

Para o presidente do CODHES, Uribe entregará o governo no próximo dia 7 de agosto sem ter superado "uma dívida histórica".

"A dúvida é se o novo governo será capaz de resolver a crise ou, ao contrário, irá aprofundá-la e agravar os despejos forçados, como vem ocorrendo", disse Jorge Rojas.
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