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Domingo, 28 de julho de 2024

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Renda venezuelana cai e Chávez enfrenta onda de conflitos trabalhistas

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, fortalecido após a vitória no referendo que abriu as portas para sua reeleição, enfrenta uma onda de protestos de milhares de trabalhadores, que pedem melhores condições de vida em um momento de queda da renda do país --consequência direta da queda dos preços do petróleo.


As manifestações e greves aumentaram depois da vitória de Chávez no referendo do último dia 15 de fevereiro, atingindo setores públicos vitais como o petróleo, a energia elétrica, a indústria básica e o metrô da capital, Caracas.

"As empresas básicas estão quase paradas. Além do fato de os trabalhadores cruzarem os braços, não há como pagar as dívidas com os fornecedores. O atraso tecnológico é muito grande, assim como a dívida trabalhista", afirma Pastora Medina, congressista dissidente do partido do governo.

Os conflitos trabalhistas se multiplicam por todo o país, em um momento em que o preço do petróleo, principal recurso venezuelano, oscila em torno dos US$ 40, contra uma média de US$ 90 em 2008 e os US$ 60 calculados no orçamento oficial de 2009.

Diante desta situação, Chávez, cujo segundo mandato termina em 2012, endureceu sua postura. "Se uma empresa do Estado parar, está se metendo comigo; isso é sabotagem e eu não vou tolerar. Isso é um recado para aqueles que estão fazendo politicagem nas empresas dizendo que são um desastre e estão se desmantelando", advertiu o presidente.

Chávez chegou a ameaçar uma militarização do metrô de Caracas caso haja uma greve, e pediu à inteligência venezuelana que investigue casos de corrupção em indústrias como a do alumínio, indicando que os privilégios de executivos e líderes sindicais às vezes "beiram o obsceno".

Em 2009, a Venezuela arrecadará entre US$ 35 e US$ 40 bilhões a menos que em 2008, quando apenas a renda do petróleo chegou a quase US$ 95 bilhões, disse o analista José Manuel Puente.

Isso significa que a renda do país ficará abaixo do total estimado para as importações venezuelanas. O problema é agravado ainda pela inflação, que em 2008 chegou a 30,9% --a mais alta do continente--, fazendo com que os salários perdessem 10% de seu poder de compra, observou o analista.

"Dificilmente o governo poderá fazer ajustes acima da inflação", afirmou Puente, prevendo um ano de "muitos conflitos trabalhistas".

O ministro das Finanças, Alí Rodríguez, anunciou um corte dos gastos públicos e um plano de austeridade, que no caso da estatal petroleira PDVSA inclui uma revisão profunda das tarifas de empresas terceirizadas.

Apesar da delicada situação, Chávez garantiu que não fará demissões nem reduzirá a verba de seus programas sociais, responsáveis por grande parte de sua popularidade.

Renegociação

Neste momento, uma das prioridades é renegociar os contratos coletivos de aproximadamente dois milhões de funcionários, que, em alguns casos, venceram há quatro anos, explicou Froilán Barrios, da Confederação de Trabalhadores da Venezuela (CTV).

Também é necessário encontrar uma solução para uma dívida trabalhista que ronda os 20 bilhões de dólares e data de 1997, segundo estimativas sindicais.

As discussões, no entanto, encontram ainda outro obstáculo: a divisão dos sindicatos entre governistas e opositores. "Impera uma prática na qual os decretos substituem o diálogo", denuncia Barrios, cuja associação passou de 1,3 milhão de afiliados, em 2001, para 500 mil.

Do outro lado, Franklin Rondón, presidente da Federação dos Trabalhadores da Administração Pública, que diz representar 400 mil empregados, assegura que "há grupos opositores estimulando conflitos" contra o governo.

Rondón afirma que o executivo "melhorou o pagamento" da dívida, e que deve começar reduzindo os salários dos gerentes, que podem chegar a US$ 20 mil mensais, destaca.

Barrios, por sua vez, concorda com esse pedido, mas questiona por quê Chávez deixou passar a bonança petroleira sem colocar em dia suas dívidas com os servidores públicos. "Agora que vêm as vacas magras eles querem que os trabalhadores paguem o pato", lamenta.
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