Mais um grupo de brasileiros retidos em Santiago desde o terremoto que atingiu o Chile no sábado (27) desembarcou no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande São Paulo), nesta quarta-feira. Alguns chilenos que também desembarcaram para visitar familiares contaram como estava a situação no país.
Guido Liber, 37, chegou ao Brasil de muletas no voo 0780 da LAN, que deveria pousar às 10h50 mas acabou aterrizando por volta das 12h30. Ele mora com a família no Brasil e passa períodos de trabalho na terra natal.
No sábado, Liber estava no segundo andar de um prédio em Viña del Mar (a cerca de 100 km de Santiago). Quando o terremoto ocorreu, ele contou ter tentado usar a escada, mas o grande volume de pessoas congestionou o local. Assustado, pulou da janela e acabou ferindo o pé na queda.
Desde o acidente ficou internado em uma clínica particular, a espera de um voo para o Brasil, onde deve passar por cirurgia --seu plano de saúde não cobre o procedimento fora do país. "O embarque estava caótico hoje de manhã. Eram muitos passageiros e poucos voos. Foi preciso ter paciência", disse, sobre a situação no aeroporto de Santiago.
Outra chilena, Sonja Garrao, 47, contou que viria ao Brasil na segunda (1º) para visitar uma parte da família, mas conseguiu embarcar somente nesta manhã, no mesmo voo.
"Estava dormindo quando ocorreu o terremoto. Ouvi o som de louças se mexendo e caindo, fiquei muito assustada. As coisas mexiam como em um brinquedo de parque de diversões", disse, ao abraçar o irmão no terminal de desembarque 2.
"Fico triste em saber que nesta situação terrível as pessoas ainda façam saques. O Chile é conhecido por ser um país de pessoas boas, então é triste."
Brasileiros
O voo 9379 da TAM estava previsto para pousar no em São Paulo às 11h40, mas atrasou em Santiago e acabou chegando no aeroporto somente por volta das 13h. A maior parte dos passageiros era brasileira.
Roberto Lima, 48, turista de Fortaleza (CE), foi um dos primeiros a desembarcar, e reclamou da Embaixada Brasileira em Santiago, onde foi buscar ajuda após o tremor. "Estava uma confusão lá, o atendimento ao público era precário. Parecia que os funcionários não sabiam muito bem o que fazer", disse. Lima contou que dormiu dois dias no saguão do hotel em que estava, com medo de que mais réplicas do terremoto causassem estragos.
Outro turista, Joel Moraes, 58, contou que viveu momentos de pânico. "Foi a coisa mais horrível que já vi na face da terra. Em Santiago, eu vi postes, vidros e edifícios caídos. Na hora do terremoto, a terra fazia um barulho assim", disse, reproduzindo o som que escutou no sábado.
Moraes disse ainda que no aeroporto de Santiago, apesar da abertura para operações, ainda há grande transtorno para conseguir um voo. Nesta quarta-feira, disse ter ido ao local por volta das 2h, mas acabou embarcando somente às 8h30.
Brasileiros que desembarcaram mais cedo em Cumbica contaram que algumas áreas do aeroporto permanecem fechadas, e o atendimento aos passageiros é feito em tendas na área externa.
Mário Neis, 45, estava com grupo de profissionais da área da saúde que foi ao Chile para um encontro sobre um medicamento contra a gripe. Ele disse que o prédio do hotel em que estava se inclinou muito, pareceu que iria desabar, mas aguentou porque tinha estrutura especial. "Mas na hora todo mundo saiu correndo de cueca, camisola, foi uma confusão", disse.
Desde o tremor seu grupo tentava voltar ao Brasil, e ele disse que até já havia comprado uma passagem de ônibus para Mendoza, na Argentina, onde tentaria pegar outro voo.
Já Beatriz Brandão desembarcou agradecendo a hospitalidade chilena. "Fomos muito bem tratados, em todos os momentos. A capacidade de recuperação que vi em Santiago é impressionante. O metrô já funcionava quando viemos embora", disse, antes de seguir para o voo que a levaria para o Rio.
