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Quinta-feira, 18 de julho de 2024

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Parentes de vítimas da Kiss mudam suas vidas para superar trauma

Os personagens desta reportagem, além de terem alcançado muitas realizações em 2013, têm outra característica comum: são parentes próximos de vítimas do incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria. A maior tragédia do ano. Uma das maiores de todos os tempos. Mas a mensagem dessas pessoas não é de desespero, e sim de superação e de esperança.


A Dona Celanira ganhou o primeiro netinho, ou melhor, netinha. “A Rafaela, para mim, é uma esperança, uma renovação, uma vidinha que veio para nos impulsionar para frente, para a gente continuar, uma continuidade da nossa família. É muito importante pra nós”, ela diz.

Até a data do nascimento foi especial: 5 de junho, o mesmo dia do tio do bebê, o Ricardo, que morreu na tragédia.

“Vou continuar comemorando o aniversário dele e dela. Porque, para nós, foi uma mensagem dizendo assim: ‘a vida continua e sigam em frente, porque vocês têm todo motivo para seguir’. E um baita motivo”, diz Paula, a mãe de Rafaela.

Já o Seu Mário, gaúcho da fronteira, abriu uma escola de laço. Um sonho antigo dele e do filho, o laçador de primeira categoria Mateus, outra das vítimas fatais do incêndio.

“Com cinco anos ele já começou a tirar o laço e ele gostava! Era o brinquedo dele desde pequenininho. E ele sempre ganhava algum prêmio: ou primeiro ou segundo, ele sempre estava ganhando alguma coisa”, lembra..

Seu Mário explica o que é uma escola de laço: “Nós começamos dando a parte de iniciação ou treinamento. Criança ou adulto, a gente tem essa estrutura para ensinar eles a montar a cavalo. Outros já montam a cavalo, mas não conhecem o laço, conhecem do rodeio, conhecem de vista, mas gostariam de participar do laço, então a gente faz essa iniciação ao laço e também o treinamento”.

Cinco mulheres criaram uma ONG, uma entidade para ajudar crianças carentes. As filhas delas, amigas inseparáveis, já faziam caridade, mas de um jeito informal. As mães é que se uniram e decidiram organizar a história.

“A gente não tinha ideia do que era uma ONG, como ela funcionava, o trâmite legal foi todo feito por amigos, por advogados que sabem, são amigos. O nosso momento de alegria, de prazer e de conforto agora é atender essas crianças”, diz Vanda.

A ONG se chama "Para sempre Cinderelas". Começou apoiando uma única creche.

“Fizemos festinha de aniversário de todos, levamos doações que a gente ganha, doações de alimentos, brinquedos. As crianças, quando a gente chega, falam: ‘as mães das Cinderelas’, ou ‘quando é que as mães das Cinderelas vão vir?”, diz Ligiane da Silva.

A entidade "Para sempre Cinderelas" homenageia cinco amigas que morreram juntas na Kiss: Flávia, Mirela, Gilmara, Vitória e Andrielle, filhas das organizadoras da ONG, que gostavam muito de se arrumar para ir a festas.

Dos parentes que perderam, os entrevistados desta reportagem procuram guardar as melhores memórias.

“Ele era incrível. Ele era calado, era inteligente, muito esperto. A gente se dava muito bem. Eu era louca por ele”, lembra Paula, irmã de Ricardo.

“Eu me abraço na mochila dele, tem o cheiro dele ainda, então eu o sinto presente. Eu nunca quero pensar que ele foi para sempre, sempre estará no meu coração. O amor continua, o sentimento...”, diz Dona Celanira.

“O Mateus conviveu muito com gente adulta, com o pai e a minha turma. Então ele também se tornou adulto muito cedo. Ele tinha um carisma muito grande”, conta Seu Mário.

“Elas eram jovens, vaidosas, bonitas, gostavam realmente de passear, de baladas, muito bem vestidas. Mas elas eram muito responsáveis. Todas elas tinham cuidado conosco, mães, em casa. Cuidado de ajudar, de colaborar, de participar”, diz Giuzélia.

“Eu não posso ficar sempre chorando. Eu penso que ele não queria me ver triste, não gostaria de me ver triste”, diz Dona Celanira.

“Nós estamos nos dedicando o nosso possível para superar essa dor, multiplicando e ajudando outras pessoas, isso tem nos ajudado muito”, destaca Seu Mário.

Uma das mais ativas na ONG "Para sempre Cinderelas", Helena perdeu os dois filhos no incêndio da Kiss: Mirela e José Manuel. É a eles que a mãe dedica o trabalho. “Eles continuam vivos na nossa memória, nossas lembranças. Se alguém estiver passando por um momento que nem a gente, é coragem. Continuar a vida, trabalhando, fazendo sempre o que eles gostavam de fazer. É tocar a vida por eles”.

A entrega às atividades da ONG, a vontade de ensinar à meninada a arte do laço, a dedicação à primeira netinha são motivos fortes para enxugar as lágrimas e seguir em frente.
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