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Sábado, 20 de julho de 2024

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Uno quer o trono do rei Gol

Uno quer o trono do rei Gol
Era uma vez, um mercado automobilístico em um país chamado Brasil. Nele, o rei Volkswagen Gol assumiu o trono em 1987 e não mais deixou o posto. É claro que em alguns meses ele perdeu a soberania para os Fiat Tipo e depois o Palio, mas, no final do ano, lá estava ele no topo. Mas a Fiat não desiste de alcançar o primeiro lugar de vendas entre os modelos e ameaça o reinado com o novo Uno.


Desde que foi lançado, em maio, o Uno diminuiu a vantagem do Gol em relação ao Palio, então segundo colocado. Em abril, o Volkswagen, em suas duas gerações vendidas, somou 22.175 unidades contra as 13.381 do rival. O Mille, sozinho, vendeu 13.081. Com a chegada do Uno, que soma suas vendas com as do Mille, o placar foi favorável ao líder em 24.236 a 14.161. Em julho, a diferença foi somente de 2.258. Na primeira quinzena de agosto, a perseguição continua, mas ainda favorável ao Gol, com 12.170 a 10.679.

Para cativar o consumidor, a Fiat bebeu na mesma fonte da Volkswagen quando trocou a geração do Uno. Assim como o Gol, o novo modelo remete ao antigo, mas com um desenho muito mais moderno. Ao contrário do sisudo e metido a esportivo rival, o Fiat adotou um desenho lúdico e temático, espalhando o quadrado com as pontas arredondadas por toda a carroceria, da grade assimétrica aos refletores traseiros. Por dentro, eles estão na escala da temperatura do controle de ar e na estampa dos bancos.

O Gol foi feito para lembrar a sua primeira versão, lançada em 1980. A traseira tem uma caída mais suave e lanternas pequenas nas extremidades da carroceria. O estilo, como em todo Volkswagen, é mais conservador, o que tende a dividir menos as opiniões, ao contrário do Uno.

Os reis estão nus

Para chegar ao topo com o novo Uno, a Fiat mirou na parte mais sensível do ser humano: o bolso. Deixou o Mille como o modelo mais barato de sua linha (R$ 23.780) e lançou o Uno abaixo do Gol. A nova geração custa R$ 27.590. O Gol G5 sai por R$ 30.880. No duelo com o Mille, a Volkswagen tem o Gol G4, que custa R$ 27.530.

Mas voltando às versões mais novas de Gol e Uno, os preços não são exatamente baixos, ainda mais quando olhamos para a lista de itens de série. As montadoras rechearam os catálogos com calotas integrais, porta-luvas com tampa e hodômetro digital, mas o fato é que os dois vêm pelados. O único que leva vantagem é o Gol, por ter para-choques pintados na cor da carroceria e rodas de 14 polegadas. O Uno tem econômetro no painel. Itens como limpador e desembaçador do vidro traseiro, ar quente e conta-giros, só pagando à parte.

Populismo ao volante

O atual rei, quando o assunto é dirigibilidade, agora tem um pouco a temer o seu desafiante. Se o Mille era duro demais e o Palio, macio demais, o novo Uno achou um meio termo interessante. A suspensão é macia e confortável na cidade, mas não chega a inclinar demais a carroceria em curvas de rodovias. O câmbio ainda sofre com a pouca precisão, mas já está melhor do que na geração anterior que, convenhamos, é de 1984.

O Gol, quando mudou de geração, também deixou um projeto ultrapassado para trás. O antigo tinha motor longitudinal, que roubava espaço interno e deixava a frente alta. Empinava em arrancadas e adornava em frenagens. Fora o volante e os pedais deslocados. Mas o G5, com a mesma plataforma de Fox e Polo, foi feito para agradar a todos. Ou quase todos. Há quem o ache duro e com bancos desconfortáveis.

Essas pessoas não estão erradas. Os bancos foram herdados do Gol antigo e realmente pecam pela falta de apoio e densidade de espuma. Por outro lado, a suspensão dura não chega a transmitir todos os defeitos do piso para os ocupantes e ainda passa uma maior sensação de segurança para quem está dirigindo. O câmbio, então, não há do que reclamar.

Dentro do gabinete

Não é só dirigindo que os dois carros agradam. Ambos exageram no plástico por dentro da cabine, mas é difícil achar rebarbas e peças mal-encaixadas. No Uno elas são mais comuns, mas nada que cause arrependimento no comprador, a não ser pela tampa do porta-luvas, que exige uma pancada mais forte para fechar.

Os dois populares possuem porta-objetos variados, com dois porta-copos à frente do câmbio. Quem escolher o Uno, pode comprar o kit Comfort por R$ 345, que inclui o console no teto com espaço para mais objetos e um espelho convexo para espiar o banco traseiro, bom para quem leva crianças.

O pênalti do Uno está na posição dos comandos dos vidros elétricos abaixo do rádio. O mesmo defeito que o Gol já teve, mas corrigido na quarta “geração” do modelo. Pelo menos eles são de apenas um toque para descer e subir. Mas quem fizer questão de acionamento elétrico nas janelas traseiras, vai ter de procurar uma solução em lojas de acessórios, pois a Fiat não oferece. Vale lembrar que instalar esse tipo de equipamento, mesmo em concessionárias, pode acarretar na perda da garantia.

Potências reais

Se for para avaliar os números, diríamos que o desempenho dos dois carros são muito parecidos. Os dois motores são de 1,0 litro com cabeçotes de 8V e funcionam com etanol e gasolina. O Uno tem 73 cv (g) e 75 cv (e) a 6.250 rpm. O torque máximo é de 9,5 kgfm (g) e 9,9 kgfm (e) a 3.850. O Gol tem pequena vantagem com álcool. Seu motor gera 72 cv (g) e 76 cv (e) a 5.250 rpm; e 9,7 kgfm (g) e 10,6 kgfm (e) a 3.850 giros.

De acordo com as fábricas, o Fiat acelera de 0 a 100 km/h em 13,8 segundos e pode atingir 151 km/h. O Volkswagen acelera em 13,5 segundos, mas passa dos 165 km/h. Na prática, como o iCarros avaliou, os números podem enganar um pouco. Como foi ressaltado na seção “A bordo do...”, na qual o Uno foi avaliado por 30 dias, a baixa quilometragem (menos de 2.000 km) pode ter prejudicado o Fiat, que se mostrou fraco nas arrancadas e retomadas.

O Gol foi mais valente com cerca de 10.000 km rodados na unidade avaliada, acelerando bem com menos ruído, dentro dos parâmetros exigidos para um popular 1.0. Tudo isso beneficiado pelo câmbio mais curto, principalmente nas duas primeiras marchas. O Uno tem a primeira curta, mas exige que a segunda fique engatada por mais tempo para desenvolver velocidade. Já embalado, em altas rotações, se comportou como um legítimo sucessor do rei.

Veredicto de Fernando Pedroso – A Fiat usou a estratégia correta para tentar o trono ocupado pelo Gol. Apesar de negar o objetivo de ter o modelo mais vendido do Brasil, a marca adotou um estilo que pode não agradar a todos, mas foi aceito por muita gente. Outro facilitador é o preço, que briga, na verdade, com o Gol G4. Isso faz do Uno a escolha mais racional deste comparativo.
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