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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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Dilma sai da sombra de Lula, mas ainda precisa deixar marca própria no governo

A presidente Dilma Rousseff encerrou seu primeiro ano de governo com índice de aprovação superior aos de seus antecessores, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT, 2003-2010) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2002). De acordo com a última pesquisa do CNT/Ibope, 72% dos brasileiros aprovam a maneira como ela tem conduzido o país, e 56% consideram o governo ótimo ou bom - marcas melhores que as conquistadas pelos ex-governantes.


Para especialistas ouvidos pelo R7, em 2011, Dilma conseguiu sair da “sombra” de Lula - seu mentor político e idealizador de sua candidatura. Porém, ela ainda precisa deixar uma marca própria em seu governo, cuja imagem continua totalmente vinculada à da gestão anterior, como avalia José Paulo Martins Júnior, professor do curso de ciências políticas da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro).

- É lógico que agora ela está exercendo um protagonismo, enquanto o Lula tem aparecido muito mais por conta de uma fragilidade na saúde [Lula foi diagnosticado com câncer de laringe em outubro e tem se dedicado ao tratamento]. Obviamente, ela vem se descolando dele, mas acho que a imagem dela vinculada à do Lula ainda é muito forte.

Para Martins Júnior, o distanciamento entre as figuras de Dilma e Lula deve ocorrer de forma gradual. Até porque, não há motivos para que a presidente se esforce para se afastar do antecessor que, além de ser seu amigo, deixou o governo com 80% de aprovação.

- A maioria das pessoas que votou nela votou pela continuidade do governo Lula, ainda que ele não estivesse à frente do governo.

Embora a imagem de Dilma continue atrelada à do ex-presidente - mesmo a imprensa internacional ainda destaca a ligação com frequência em reportagens -, a petista tem conseguido obter popularidade em regiões que tradicionalmente não eram tão simpáticas ao PT.

Segundo a mesma pesquisa do Ibope, divulgada em dezembro, 61% dos entrevistados do Sul disseram aprovar o governo dela - em março, esse índice era de 52%. Vale lembrar que, em 2010, Dilma perdeu para o adversário José Serra (PSDB) nos três Estados da região.

Na avaliação de Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política na USP (Universidade de São Paulo), esse avanço no Sul tem duas razões: a primeira é a aprovação da postura “tolerância zero” que Dilma adotou para lidar com as denúncias de corrupção em seu governo; a segunda é a formação profissional da presidente.

- O que influencia também é a origem de classe da Dilma. A classe média não tem o horror que tinha do Lula, o horror que ela conserva do PT. [...] Lula sofreu um preconceito de classe muito forte contra ele, que não existe contra a Dilma. Nas redes sociais, por exemplo, as queixas que existem ao governo são muito mais direcionadas ao PT que à própria Dilma.

Para Celso Roma, cientista político e doutor pela USP, os altos índices de aprovação também refletem a forma como Dilma conduziu o Brasil durante a crise econômica internacional. Enquanto o mundo vivia um “turbilhão”, o país pouco sentiu os efeitos da crise, que afetou com força as nações europeias e os Estados Unidos.

- Os índices de aprovação ao governo Dilma se justificam pelo bom desempenho da economia, em termos de criação de empregos formais e o crescimento da renda dos trabalhadores e a redução da desigualdade social.

Promessa para 2012

Apesar de apostarem na continuidade da “dobradinha” entre Lula e Dilma durante toda a gestão, os analistas políticos creem que a troca de ministros realizada em 2011 e a reforma ministerial prevista para ocorrer no início de 2012 contribuem para ajudar a deixar o governo mais com a “cara da Dilma”. Foi o que destacou o cientista político Rogério Schmitt, para quem a presidente deve conquistar “brilho próprio” no próximo ano.

José Paulo Martins Júnior, da Unirio, concorda com o colega e lembra que, dos sete ministros que deixaram suas pastas neste ano, cinco exerciam a função desde o governo Lula.

- De certa forma, o que pra qualquer outro governo poderia significar uma crise de governabilidade, para a Dilma representou mais uma tomada de pé da situação do governo. E, com isso, ela está conseguindo formar um governo mais com a cara dela. [...] Com isso, ela consegue ganhar uma maior autonomia frente aos aliados e frente ao governo Lula.

A marca de Dilma também deve se consolidar, avalia Schmitt, na medida em que os projetos de longo prazo do governo comecem a apresentar resultados significativos.

- A marca do governo Lula foi o Bolsa Família, mas sobrou pouco espaço para a Dilma avançar nessa área. Em 2011, ela focou bastante na questão da saúde pública, ou seja, na tentativa de dar mais eficácia à rede de serviços do SUS [Sistema Único de Saúde], o que, provavelmente, acabará sendo a marca do governo dela.
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