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Sexta-feira, 19 de julho de 2024

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Dilma muda estratégia e busca tempo "avassalador" na TV, mas teme inflação

O plano de voo de Dilma Rousseff para buscar a reeleição ganhou contornos mais claros depois que derrotas políticas e econômicas em série colocaram em xeque seu favoritismo. Mas, a preocupação sobre os efeitos da inflação nas suas chances de vitória continuam grandes e há um esforço concentrado para garantir um bom tempo de TV na propaganda eleitoral.


Pelo roteiro traçado, Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passarão a fazer agendas políticas conjuntas e deixarão evidente Aécio Neves (PSDB) como adversário preferencial. Essas viagens serão para grandes eleitorados, nas capitais, mas ainda não estão completamente definidas.

"O campo de batalha não é o BNDES, não é o superávit [primário]... Saímos dessa disputa onde temos deficiências", disse à Reuters um ministro que pediu para não ser identificado. "Fomos para onde temos força: no emprego, no crescimento da renda e nos avanços sociais. Fomos falar com os nossos eleitores."

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No entorno da petista, porém, a inflação — que desde o início do governo ficou no incômodo patamar de 6% ao ano, perto do teto da meta oficial — é motivo de grande preocupação para as chances eleitorais de Dilma, com pesquisas internas tendo mostrado o efeito negativo da alta de preços sobre o eleitorado cativo do governo.

Nessa frente, o Banco Central elevou o juro em 3,75% desde abril do ano passado, para 11% ao ano, e o governo tem se esforçado para controlar os preços que administra. No caso dos preços de alimentos, o governo trabalha com um cenário de arrefecimento.

Tarefas imediatas

Agora, com o cenário político-eleitoral um pouco mais claro e com os incêndios um pouco mais controlados, há duas tarefas imediatas para Dilma e o núcleo de sua campanha: garantir uma super aliança que lhe dê um tempo "avassalador na propaganda eleitoral", disse o ministro, e ter palanques fortes em todos os Estados.

"Garantir isso é fundamental, porque enquanto os outros terão poucos minutos para se apresentar, nós teremos um enorme tempo para mostrar o que já está sendo feito e que podemos fazer muito mais", argumentou o ministro.

Mas conseguir esses minutos e os palanques não são tarefas fáceis. Dilma cultivou rancores entre os aliados nos últimos três anos, irritou partidos inteiros de sua ampla coalizão e corre o risco de sofrer traições durante a corrida eleitoral.

O caso mais emblemático é o PMDB. No Planalto, é dado como certo que o partido manterá a aliança nacional com o PT, mas no seio peemedebista há muitas dúvidas. Numa reunião na semana passada, a cúpula da legenda deixou evidente um racha no partido que pode ter um desfecho ruim para Dilma na convenção marcada para 10 de junho.

No governo, a maior preocupação é com a renovação da aliança com PR e PP.

O presidente do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), se reuniu com Dilma nesta semana e disse que não sabe qual rumo o partido tomará na convenção de junho. "Há uma divisão muito forte no partido", disse a jornalistas após o encontro. No caso do PP, alguns expoentes do partido entendem que a sigla deveria se aproximar de Aécio.

Estrelas da campanha

As estrelas do horário eleitoral gratuito da presidente serão os programas Minha Casa, Minha Vida, Pronatec e Mais Médicos. "São marcas dela", sustentou o ministro.

Dilma já anunciou inclusive que lançará novas fases do Pronatec e do Minha Casa, Minha Vida. A extensão do programa habitacional deverá ser divulgada ainda em junho.

Isso tudo recheado com o debate político sobre os projetos do governo petista e dos adversários, em especial os tucanos, que já governaram o país.

Há, porém, quem veja riscos nas escolhas do PT para a campanha na TV e no rádio.

Para um aliado ouvido pela Reuters sob condição de anonimato, o governo pode ser cobrado, por exemplo, por mais vagas e resultados em relação ao Pronatec, já que o dinheiro para o programa de ensino técnico é arrecadado compulsoriamente das empresas pelo Sistema S, que inclui instituições como Senai, Sesc e Sesi, entre outras.

"No Mais Médicos também há problemas, são médicos cubanos. Talvez seja alvo de crítica", prosseguiu. "Será uma eleição muito difícil", avaliou o aliado.

Agente da mudança

De qualquer modo, no núcleo de campanha já há a certeza também que a propaganda e o discurso de Dilma não poderão ficar restritos ao debate sobre o passado. A presidente terá que se apresentar como agente da mudança que é ansiada pelos eleitores.

"Essa é uma eleição sobre o futuro. Ela terá que apresentar novas propostas para os serviços públicos. Ela deve defender a reforma política", disse à Reuters uma fonte do núcleo de campanha.

Os serviços públicos deficientes nas áreas de saúde, educação e segurança pública estiveram no centro das reivindicações populares de junho do ano passado, quando mais de um milhão de pessoas tomaram as ruas do país em enormes protestos. Depois dessas manifestações, a avaliação do governo e a popularidade de Dilma nunca mais foram as mesmas.

Reação

Os planos iniciais para a campanha ocorrem depois de meses conturbados para Dilma, que culminaram em abril com quedas na intenção de voto e de avaliação do governo.

Em abril, segundo o ministro ouvido pela Reuters, o governo viveu o "mais cruel dos meses". Foram elevadas as previsões para a inflação, Dilma caiu nas pesquisas eleitorais, a avaliação do governo piorou e ganhou força o "Volta, Lula".

Para completar, foi protocolada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista para investigar a Petrobras, os aliados formaram um bloco independente da articulação do governo e o PMDB se rebelou na Câmara.

Depois de tantos incêndios, muitos ainda ativos mas com menor intensidade, Dilma resolveu reagir e no pronunciamento sobre o 1o de Maio anunciou medidas para beneficiar a classe média e os mais pobres.

Segundo o ministro, naquele momento, as pesquisas internas do governo mostravam que Dilma não estava perdendo popularidade por causa das denúncias sobre a Petrobras. "Era a inflação que estava corroendo a renda dos mais pobres, justamente os que até então apoiavam majoritariamente a reeleição."

Outros movimentos foram realizados para estancar a queda nas pesquisas. Um deles foi deixar claro, principalmente para os petistas, que não havia possibilidade de Lula ser o candidato. Para isso, o Encontro Nacional do PT foi fundamental. O governo também mudou a estratégia de comunicação, passando a responder os ataques da oposição na mídia.

Na manhã da última quinta-feira (22), uma pesquisa Ibope mostrou Dilma crescendo a 40% das intenções de voto, ante 37% na sondagem anterior, em abril. Mas Aécio também subiu e chegou a 20% (ante 14%), assim como Eduardo Campos (PSB), que foi a 11% (ante 6%).

Como Dilma pode ter se beneficiado pela exibição do programa do PT na quinta-feira passada, ainda é cedo para saber a eficácia da nova estratégia eleitoral da presidente.
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