Sai o aquecimento global, entra o saneamento básico. Num esforço para popularizar sua principal bandeira de campanha, a presidenciável Marina Silva (PV) prepara uma nova versão do discurso ambientalista, voltada para os problemas dos moradores de favelas e periferias das grandes cidades.
A ideia é mostrar que o debate sobre o futuro do planeta não interessa apenas à classe média "ecoantenada". E que a ocupação desordenada do solo e a degradação dos recursos naturais têm consequências graves sobre a vida dos mais pobres.
"Essas populações são as mais atingidas", diz a senadora. "Elas são condenadas ano após ano a ver deslizamentos e enchentes sendo tratados como se fossem fenômenos naturais, e não resultado da ausência de políticas públicas".
O discurso do "ambientalismo para as massas" será testado amanhã, na festa de lançamento da pré-candidatura, em Nova Iguaçu (RJ). A escolha da Baixada Fluminense sintetiza a aposta do PV para seduzir o eleitorado popular.
"Ao realizar nosso lançamento lá, sinalizamos não só para a periferia do Rio, como para as de outras grandes cidades, como São Paulo, Belo Horizonte e Recife", explica Marina.
Segundo a última pesquisa Datafolha, a senadora tem 18% de intenções de voto entre eleitores com renda familiar acima de 10 salários mínimos. Na faixa abaixo de dois salários mínimos, ela despenca para 10%.
Principal figura do PV no Rio, o pré-candidato a governador Fernando Gabeira reforçará a mensagem no palanque. "Queremos falar de coisas que interessem às classes mais pobres", diz o deputado. "Vamos tratar de problemas que atingem essas áreas, como a falta de saneamento básico e a ocupação das encostas".
Tragédias recentes que atingiram o Estado, como os deslizamentos na Ilha Grande e no Morro do Bumba, serão tema obrigatório nos discursos.
Marina já tem tentado popularizar a causa ambiental em encontros com evangélicos, outro público-alvo do PV. "Quando dizemos que amamos o Criados e não respeitamos sua criação, estamos sendo incoerentes", discursou, em ato com pastores na última quarta-feira, em Natal.
Criada na Amazônia, ela afirma ter "muita expertise" em traduzir o discurso ambiental para os mais pobres. "Venho de uma tradição que começou a luta ambiental com os seringueiros do Acre", lembra.
Ela costuma dizer que já defendia a preservação da floresta antes de aprender o significado da palavra ecologia.
Ontem, Marina teve nova reunião com o empresário Guilherme Leal para tentar convencê-lo a assumir a vice na chapa do PV. O coordenador da campanha, Alfredo Sirkis, deve ter nova conversa com ele hoje, em São Paulo.