"Na verdade, ter uma biblioteca não garante que as pessoas vão ler". O comentário é do autor do livro Educação como exercício do poder - Crítica ao senso-comum em educação , o professor da Universidade de São Paulo (USP), Vítor Henrique Paro. Ao falar sobre a lei 12.244, que pretende universalizar as bibliotecas nas instituições de ensino do País, ele deixa patente a complexidade da questão.
Sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a nova legislação, que entrou em vigor nesta terça-feira (25), estabelece prazo de 10 anos para que as escolas, públicas e privadas, ajustem-se à regra.
O professor da USP não tira o mérito da lei, que considera "importantíssima", mas destaca a necessidade de se enfatizar discussões, como qualidade de ensino e investimento na educação.
-A nossa escola é tão ruim que faz as pessoas odiarem a leitura, porque as aulas são chatas. Estou falando de instituições públicas e privadas. Não tem diferença. O professor está mal formado, porque a escola é ruim. Está completamente invertido. Todas as políticas que existem por aí, todas as justificativas de políticas de educação que existem por aí deveriam ir para a lata do lixo, porque não têm o menor fundamento.
E acrescenta:
-Não adianta se os professores continuam com uma concepção atrasada de ensino. O aluno fica com ódio de Machado de Assis, por exemplo, uma das coisas mais lindas e maravilhosas que há.
De acordo com ele, apesar de positiva, a lei deve vir seguida de mais investimentos por parte do Estado, para que não seja aplicada de forma improvisada.
- Ela deveria obrigar também que houvesse não somente o espaço, mas alguém encarregado de administrar a biblioteca.O que acontece pelo Brasil afora é que só os professores mais magnânimos é que se revezam na função. Isso é absurdo. Já lhe dão pouco tempo para fazer o que têm que fazer, muitas vezes precisam trabalhar em duas escolas para ganhar o sustento para viver, e ainda têm que gastar - não perder! - tempo na biblioteca. Tempo que poderia ser usado para preparar melhores aulas. Isso me parece que é praxe. Não há uma pesquisa rigorosa a respeito do assunto, mas não é preciso uma pesquisa rigorosa para encontrar esse tipo de coisa.
Paro sugere, ainda, que é necessário mudar a concepção que impera em muitas instituições.
-Já cheguei a fazer pesquisa em biblioteca que não era aberta, para não estragar os livros. Parece anedota, mas há escolas desse jeito. A biblioteca existe, mas são poucos livros, que muitas vezes são de doação. Ela é importantíssima. Deveria ser a alma de uma escola. Mas o que vemos é que o Estado a abandona às condições mínimas de funcionamento.