Em uma disputa que tem todos os ingredientes para se tornar acirrada, os dois principais candidatos ao governo do Rio Grande do Sul adotam como parte da estratégia para angariar votos o avanço sobre as bases de outros partidos, sejam eles integrantes ou não de coligações adversárias.
O PT, que tem como candidato ao governo o ex-ministro Tarso Genro, chegou a mobilizar sua estrutura para identificar dissidentes em outras legendas, e pretende finalizar nesta quinta-feira (14) um levantamento sobre a situação em cada região do Estado. O PMDB, cujo candidato é José Fogaça, entrou no jogo, e anuncia que tem o apoio de integrantes de diferentes partidos, mas que não faz listas por uma questão de respeito.
"Estamos fazendo a consulta por município. Esperamos ter uma lista de nomes que tenham a disposição de externar seu apoio ao Tarso, mas não queremos causar problemas porque, às vezes, as pessoas tem receio de vir a público", ressalva o coordenador geral da campanha de Genro, Carlos Pestana. "Não tenho interesse em aparecer e não ficamos escavando em partidos políticos. Trabalho em silêncio, e o trabalho vai aparecer. Nesta semana, vamos receber muitos apoios", rebate o coordenador de campanha de Fogaça, o deputado federal Mendes Ribeiro Filho.
Mesmo que de público lideranças petistas e peemedebistas, e os próprios candidatos assegurem que "respeitam" as questões internas dos outros partidos, na prática os movimentos são outros. Quem primeiro lançou mão da estratégia foi o PT, ainda no início da pré-campanha. Genro repete desde então que o PDT (principal aliado do PMDB na eleição estadual, e que indicou o candidato a vice-governador, o deputado federal Pompeo de Mattos), fará parte de seu governo caso ele vença a eleição.
Aproveitando a rejeição pública de alguns prefeitos pedetistas a Fogaça, e do prefeito da cidade de Taquara, Délcio Hugentobler, em específico, lideranças petistas sempre que possível reforçam a tese de que o PDT está rachado no apoio ao PMDB. Na semana passada, quando o ex-governador Alceu Collares (PDT) abriu o voto para Genro, a questão ganhou fôlego.
Dentro do PT há quem garanta que existem apoios importantes também no PTB e no PP. Na eleição estadual o PP está aliado ao PSDB, que tem a governadora Yeda Crusius candidata à reeleição. O PTB decidiu liberar seus filiados no primeiro turno e priorizar a campanha para a chapa proporcional (na qual, para a Câmara Federal, está aliado ao DEM). De público, já abriram apoio a Tarso quatro petebistas com expressão em seus municípios (as cidades de Canoas e Novo Hamburgo). Ainda não houve manifestações de progressistas.
A proximidade entre Genro e o senador Sérgio Zambiasi (PTB), que já abriu o voto para Dilma Rousseff à presidência e Paulo Paim ao Senado, é sempre lembrada. Mas, segundo o próprio Pestana, o PT não acredita que o senador vá informar em quem vota para o governo.
Enquanto isso, Fogaça assinala que também possui apoiadores dentro do PTB e do PP e, além deles, do DEM. É fato que o deputado estadual Paulo Borges (DEM) aceitou coordenar o comitê suprapartidário da campanha de Fogaça e que o partido quase tirou posição de apoio ao peemedebista após a candidatura do aliado PTB ao governo estadual não ter prosperado. E PTB, PP e DEM estão na base da administração municipal da Capital onde, até o fim de março, Fogaça era prefeito. "Tenho recebido diversas manifestações do PP, mas respeito muito o partido, que está em outra aliança", desconversa Mendes quando lhe pedem para citar nomes. Nesta terça-feira (13), o PMDB acredita ter conseguido marcar pontos na corrida para mostrar quem vai melhor entre os adversários. O presidente do PSB da mesma cidade de Taquara (aquela onde o prefeito pedetista apoia abertamente Genro), deu publicidade a sua opção por Fogaça. O PSB indicou o vice de Genro, o ex-prefeito das cidades de Cristal e São Lourenço do Sul, Beto Grill.
Apesar do constrangimento dentro do PDT e do PSB, nos partidos assediados que não integram as duas alianças a posição oficial é de indiferença. "É o momento em que todo mundo tenta atirar o anzol. Mas estamos com o PSDB e até agora não vi ninguém do PP dizer que vai votar em outro partido", informa o presidente do PP gaúcho, Pedro Bertolucci. Ele admite que o PP de Porto Alegre tem uma ligação forte com Fogaça e que há cidades onde PP e PT são aliados, mas considera que a discussão não é para este momento.
"Se existir um segundo turno no qual não estejamos, aí é outra eleição. O Fogaça é o vizinho mais próximo, mas há cidades onde estamos com o PT nas prefeituras, e nelas será possível uma conversa".
O presidente do PTB gaúcho, o deputado estadual Luis Augusto Lara, avalia que serão casos isolados os de apoio. "O PTB decidiu pela neutralidade no primeiro turno, que favorece os candidatos a deputado, porque eles ficam só com as suas adversidades e não precisam carregar um candidato ao governo".
Lara, porém, faz um alerta para os que pretendem abrir apoio no primeiro turno. "Como o partido vai ter posição no segundo turno da eleição, quem já tiver escolhido candidato pode passar por um certo embaraço. Posição individual nunca é boa", disse.