"Desde crianças, ouvimos a história de que Papai Noel é um velho de barba e cabelo brancos, que mora no Polo Norte e que, com trenó puxado por renas, visita numa única noite todas as casas do mundo. Que coisa, hein? Mas eu nunca vi trenó de renas", disse Elio Lazzarotto neste sábado, na capital gaúcha, ao abrir sua palestra, no Theatro São Pedro. Mas quem é Elio Lazzarotto? Ora, ele é o Papai Noel do Brasil, e contou sua história no TEDxPortoAlegre.
O bom velhinho existe, sim. Com CEP próprio nos Correios, "nome e sobrenome" registrados no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi). Desde 1999, quando conseguiu realizar o sonho de ser um Papai Noel quase real - em vez de trenó, voa num helicóptero -, Lazarotto já visitou mais de 500 cidades na região Sul do País entregando presentes, já respondeu mais de um milhão de cartas. E espalha sua lição de generosidade por onde passa, a cada Natal.
A história começa, na verdade, há mais de quarenta anos. "Dois meninos pobres, mas pobres de verdade, que só ganhavam doces no Natal, numa visita de um tio ganharam dois doces, duas balas. Eles foram para cozinha. E o menino de oito anos tinha tanta vontade de chupar a bala que ele abriu a boca e acabou engolindo. O menino de seis, que tinha atrofia musculas, foi abrindo a sua devagar. O outro começou a chorar porque não tivera tempo de saborear a bala. O deficiente, então, propôs dividirem a bala e ficaram os dois a chupar. O menino de seis anos morreu aos 12. O de oito anos era eu", contou Lazarotto, muito aplaudido.
Seguiu dizendo que ao voltar do Rio de Janeiro, em 1982, foi convidado para animar uma festa para 300 crianças que dois empresários ofereciam, sendo Papai Noel. "Que emoção, a chegada em cima do carro dos Bombeiros, a alegria das crianças, que experiência fantástica". No ano seguinte, lá estava Lazarotto perguntando aos empresários "e aí, vamos fazer de novo?". Na última festa dessas, em 1988, já eram mais de mil crianças.
"Mas a gente percebia que tinha um jeito melhor de fazer esse trabalho." Lazarotto viu que a barba postiça não inspirava confiança nas crianças. Alguém sugeriu-lhe deixar a barba crescer naturalmente e, depois descolorir. "Que beleza, vou ser um Papai Noel de verdade!", comemorou.
Então, em 1999, já tinha 29 cidades de Santa Catarina contratadas para fazer a chegada do Papai Noel. Três dias antes, foi enfim fazer a tal descoloração. "Que química horrorosa, quase sufoquei, tive que usar um canudo pra respirar, meu rosto inchou todo. Mas no fim tudo deu certo", disse.
Em 2009, veio o registro no Inpi, o "nome e sobrenome" deste bom velhinho verdadeiro. Hoje, responde a mais de 140 mil cartas por ano, e recebe mais de um milhão delas, trabalha com escolas.
Quando uma menina de nove anos escreveu pedindo um colchonete, porque dividia uma cama de casal com a mãe e os irmãos, Lazarotto levou a carta a um empresário que decidiu doar o bem solicitado. Ao chegar na casa da criança, assustou-se com o que viu, as crianças e a mãe amontoadas em um cômodo só. Ergueu-lhe uma casinha melhor, deu roupas, cesta básica, até uma geladeira.
"Ele me falou depois que havia sido o melhor Natal da vida dele. E a partir daí todo ano E repete a ajuda a alguém todo ano", contou feliz o Papai Noel.
Esta é sua vida, esta é sua paixão: criar parcerias, ajudar a tornar os outros mais felizes, realizar sonhos. "E que todos vocês que estão aqui façam festa de Natal para poder partilhar, para levar adiante esta mensagem. Eeu sou um Papai Noel diferente, eu gosto de falar (não sei se receberam) e sempre gosto de falar do resgate do verdadeiro sentido do Natal, que é preciso partilhar. E um Feliz Natal pra todos vocês", despediu-se Lazarotto. Não faltou nem o clássico "Ho, ho, ho!".
TED e TEDx
O TED surgiu em 1984, na Califórnia - inspirado pelo arquiteto e designer gráfico Richard Saul Wurman, para quem a fusão das três disciplinas (Tecnologia, Entretenimento e Design) ajudava a dar forma ao mundo e impulsionava suas mudanças - como uma conferência anual de quatro dias reunindo ativistas, artistas, políticos e realizadores para dividir novas ideias, em palestras de no máximo 18 minutos. Em sua primeira edição, o TED demonstrou o novo computador Macintosh, a Sony apresentou o CD e o guru da inteligência artificial Marvin Minksy desenvolveu um novo e poderoso modelo da mente. Mas o sucesso não foi o esperado, e apenas seis anos depois se realizou a segunda edição. A partir daí o TED não parou mais, inclusive de crescer, gerando eventos semelhantes, embora autônomos, em diversos lugares do mundo. São os TEDx, com o mesmo espírito e formato, em palestras curtas para expor teorias, experiências e pensamentos que possam inspirar um mundo melhor. O "x" marca a independência do evento. No Brasil, já houve edições do TEDx em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Amazônia.
