No início de fevereiro, o carnaval carioca levou um susto. Um incêndio – de causas ainda não determinadas – destruiu os barracões das escolas de samba Portela, União da Ilha e Grande Rio na Cidade do Samba, na Zona Portuária do Rio. Das três, a Grande Rio foi a mais prejudicada, e perdeu absolutamente tudo, incluindo os seus carros alegóricos.

Para refazer um ano de trabalho a um mês do desfile na Sapucaí, os componentes da Grande Rio correm contra o tempo. Apesar da tragédia, o carnavalesco Cahê Rodrigues garante: a escola vai pisar na Avenida completa.

Do antigo barracão da Grande Rio sobrou apenas um monte de ferro retorcido dos carros alegóricos atingidos pelo fogo no dia 7 de fevereiro: “Nós já tínhamos um carnaval 98% pronto aqui dentro. E hoje a gente não tem absolutamente nada”, lamentou o carnavalesco da tricolor de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Antes do incêndio, as alegorias já estavam em fase de acabamento e as fantasias luxuosas quase prontas: “Eu prefiro às vezes nem lembrar os detalhes do que tinha pronto dentro desse carnaval porque a cada ateliê que eu lembro dói o meu coração”, completou Cahê Rodrigues.

Vice-campeã do carnaval do ano passado, a Grande Rio sonhava com o título em 2011. Agora, sonha apenas em rafazer seu desfile a tempo de entrar na Avenida, no dia 7 de março (segunda-feira). Nas últimas três semanas, uma equipe do Fantástico acompanhou o carnavalesco Cahê Rodrigues.

Quarta-feira (9 de fevereiro) – 26 dias para o desfile
Dois dias depois do incêndio a Grande Rio já ocupava um novo barracão na Cidade do Samba. Ela dividiu o espaço com a União da Ilha. “A gente agora está tentando ver através de outras escolas bases de carro que podem ser emprestadas para que a gente possa construir alguma coisa para o desfile”, disse, na época, o carnavalesco.

A Grande Rio vai contar na Sapucaí o enredo “Y-Jurerê Mirim: a encantadora Ilha das Bruxas (um conto de Cascaes)”, que vai homenagear Florianópolis, capital de Santa Catarina. “Amanhã a gente começa a visualizar outros setores, as costureiras chegando, os aderecistas, mas hoje, em especial, a gente não sai dessa sala enquanto o carnaval não estiver todo redesenhado”, completou Cahê, dois dias após incêndio.

Quinta-feira (10 de fevereiro) - 25 dias para o desfile
No dia 10 de fevereiro, muitos caminhões descarregaram material e madeira para a confecção dos carros e das fantasias. Mas muita coisa ainda tinha para comprar. “A Grande Rio tinha um acervo com centena de peças fabricadas, criadas. Dentro do barracão tinha toda essa estrutura de vácuo, dessas máquinas no seu barracão. Isso tudo foi destruído”, disse.

Neste mesmo dia, os carros alegóricos da União da Ilha começaram a deixar o espaço e seguiram para uma tenda que a prefeitura montou num terreno em frente à Cidade do Samba. “Essas sucatas que vocês estão vendo aqui vão se tornar grandes alegorias que vão fazer sucesso na Avenida”, disse o carnavalesco apontado para um monte de ferros.

Sexta-feira (11 de fevereiro) - 24 dias para o desfile
O carnavalesco teve mais um dia de compras. Dentro das lojas, Cahê Rodrigues analisava cada peça, cada adereço que pudesse ser usado nas alegorias: “Eu tenho que usar a criatividade”, disse o carnavalesco. No meio do caminho, a equipe da escola tem que lidar com todos os tipos de problema, até com uma pane na kombi usada por ela.

Neste dia, segundo Cahê, os componentes já tinham começado a produzir as fantasias e os carros. Eles cortaram moldes de papelão, costuraram e montaram as estruturas dentro do novo barracão. Enquanto isso, o carnavalesco e sua equipe visitam outras lojas a procura de material a preços mais baratos para a montagem dos carros alegóricos.

Sábado (12 de fevereiro) - 23 dias para o desfile
O ritmo de trabalho na Grande Rio continuava acelerado: “Hoje, sábado, todo mundo está aqui ajudando, são amigos, vizinhos que vieram ajudar, voluntários. Minha irmã está aqui. Tem aqui Silvana que é minha prima. Tem o Hélio que é meu vizinho e Evandro que está fazendo aniversário hoje”, disse na época o carnavalesco.

A porta-bandeira Squel Jorgea também colocou a mão na massa: “Eu estou como voluntária. Estava agoniada de ficar em casa. Prontamente eu vim para ajudar no que for necessário, varrer, lavar, me botaram para cortar. Estou aqui cortando, se é assim que eu posso ajudar, estou ajudando”, disse.

O barracão da Grande Rio começou a ganhar uma nova cara: “Todos os carros praticamente já entraram e os ferreiros já estão começando a trabalhar. As ferragens estão subindo. Daqui a dois dias já tem muita coisa pronta aqui embaixo. Vai sair, vai ficar pronto”, afirmou Cahê.

Terça-feira (15 de fevereiro) - 20 dias para o desfile
Na segunda semana de produção, componentes começaram a trabalhar nas esculturas. Segundo o carnavalesco, como a escultura é um processo demorado, a escola não terá tempo de fazer muita peça. “A gente está fazendo só a bruxa do abre-alas”, disse. A bruxa terá cerca de nove metros de altura.

“Na verdade, a ideia foi fazer a bruxa rindo de tudo aquilo que aconteceu. Na verdade, não tem mais do que chorar. A gente vai sorrir porque carnaval é festa, alegria. A bruxa que tinha um aspecto de bruxa malvada no outro carnaval ganhou um sorriso, porque é através do sorriso que a gente vai conseguir reconstruir o nosso desfile”, completou.

Com sorriso e samba no pé, os carros alegóricos começam a subir. Uma das alegorias vai representar a ponte Hercílio Luz, cartão postal de Florianópolis. Cahê criou oito alegorias. Algumas são versões menores do desfile original:

“O carro do boi era o quarto carro da escola e era uma alegoria muito grande, era um boi enorme, agora a gente vai reproduzir o boi, em tamanho menor, que o boi de mamão é uma das maiores manifestações folclóricas da ilha de Florianópolis”, explicou.

Quinta-feira (17 de fevereiro) - 18 dias para o desfile
As estruturas de ferro ganharam novos detalhes. “O caldeirão já está todo forrado de madeira. Hoje a gente começa a espelhar todo o caldeirão. Essa torre central aqui é a torre que levanta a bruxa, que vai levar a bruxa a nove metros e 40 de altura”, disse.

De acordo com o carnavalesco, uma das alas coreografadas vai representar um cardume de tainhas, com cem pessoas. A ideia inicial da roupa era com vários peixes, e eles viriam fazendo movimento de um cardume. No entanto, a fantasia precisou ser adaptadas e o novo modelo virá com um peixe na cabeça e a roupa vai representar água.

Domingo (20 de fevereiro) - 15 dias para o desfile
No domingo (20), o carro do boi já estava com a cabeça. O caldeirão já ganhou formas. Muitas fantasias já estavam prontas. Foi dia de ensaio técnico na Marquês de Sapucaí, o último antes do desfile oficial.

“Para todas as pessoas envolvidas nessa construção é um momento único para quem está aqui dentro., com todo trabalho, com todo sacrifício, com as horas excessivas de trabalho. Eu acho que todos os profissionais envolvidos na reconstrução desse projeto, na hora da Grande Rio desfilar, a emoção vai ser diferente”, disse Cahê.

Quarta-feira (23 de fevereiro) - 12 dias para o desfile
Apesar de muita coisa ainda para fazer antes do desfile na Avenida, o desfile da Grande Rio vai ganhando a sua forma. O abre-alas ganhou motor. Muitas fantasias também já estão prontas e empacotadas.

Sexta-feira (25 de fevereiro) - 10 dias para o desfile
“Vocês podem perceber que o carnaval da Grande Rio já está novamente de pé”, disse o carnavalesco na sexta-feira. A ponte Hercílio Luz ganhou neon. A bruxa do abre-alas ganhou chapéu. “Em menos de um mês nós reconstruímos um carnaval que parecia perdido. O desfile da Grande Rio não vale ponto, mas no quesito superação, eu acho que a gente merece nota dez”, disse Cahê Rodrigues.