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Quarta-feira, 24 de julho de 2024

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Falsa psicóloga volta a ser presa no Rio

A falsa psicóloga que atendia crianças numa clínica em Botafogo, na Zona Sul do Rio, voltou a ser presa na manhã deste sábado (7). Segundo o titular da Delegacia do Consumidor, Maurício Luciano Almeida e Silva, um mandado de prisão temporária por 30 dias foi expedido pelo plantão do Tribunal do Justiça, na noite de sexta-feira (6). Um dia antes, a polícia já havia informado que a suspeita vai responder pelo crime de tortura. O marido, que é suspeito de ser conivente com os crimes, segue solto.


"Como a tortura é um crime hediondo, pedimos a prisão. Como havia também a necessidade de coleta de provas, para resguardar o êxito das investigações, pedimos também a busca e apreensão de documentos e dinheiro que comprovem a movimentação financeira dela. A prisão também é para que pais e terapeutas se sintam mais seguros para contar tudo que sabem", explica o delegado.

A suspeita foi presa num imóvel na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, que, segundo ela pertence a sua mãe. Outros dois imóveis, um no Méier, onde reside o pai da suspeita, e outro em Botafogo, que seria a sua própria residência, também foram vasculhados pela polícia. Na Barra, a polícia encontrou cerca de R$ 3.500, valor considerado pequeno pelo delegado.

"Vamos pedir a quebra do sigilo bancário e fiscal dela, do marido e da clínica que ela tinha. Sabemos, por exemplo, que ela arrecadou cerca de R$ 800 mil com os pais que foram à delegacia noticiar os fatos. Esse valor é apenas de 3 anos pra cá e de um grupo pequeno de pais que foram atendidos por ela. Teve um pai que contou que gastou R$ 270 mil com o tratamento do filho. Sabemos também que ela arrecadou R$ 500 com os convênios com a Marinha e a Aeronáutica".

O delegado informou ainda que a falsa psicóloga não costumava dar recibo aos pais pelos serviços prestados. "Ela não dava recibo, relutava em dar recibo. Vamos checar também o imposto de renda, porque ela era uma sonegadora. Sabemos também que não assinava carteira de nenhum terapeuta contratado por ela. Eles eram prestadores de serviço, recebiam em dinheiro vivo ou com depósito em conta", detallhou o titular.

A suspeita será levada para a Decon e de lá para uma unidade da Polinter.

Tratamento agressivo
Segundo relatos de testemunhas à polícia, a suspeita usava tratamentos agressivos para fazer com que as crianças autistas que travava se alimentassem.

“Ela dispensava um tratamento de intervenção familiar que não é correto. Terapeutas relataram em depoimento que ela imobilizava as crianças, amarrando pernas e braços para fazer com que elas comessem. Em alguns casos, cobria a boca das crianças para que elas não cuspissem a comida”, descreveu o delegado. A falsa psicóloga tratava de crianças autistas em um centro de tratamento especializado. Além do crime de tortura, a suspeita será indiciada por estelionato, propaganda enganosa e exercício ilegal da profissão.

De acordo com o delegado, o marido da falsa psicóloga também será indiciado pelos mesmos crimes que a mulher. “Ele será indiciado pois sabia que ela não era psicóloga e a ajudava a cometer esse crime. Ele era gerente financeiro, contador da clínica”, explicou.

Convênio com a Marinha
A polícia investiga ainda se a falsa psicóloga já teve convênio com o setor de saúde da Marinha. A denúncia veio de pais de um paciente que teriam usado o serviço para tratar o filho. Procurada pelo G1, a Marinha confirmou o convênio e afirmou que ela foi descredenciada em 2010.

Além de muitos pais, alguns ex-funcionários também foram ouvidos. “Muita coisa era só fachada. Os profissionais de lá não tinham vinculo empregatício e, como terapeutas, usavam métodos poucos ortodoxos, como colocar a comida à força na boca da criança. Estamos chamando os pais e, a partir destes depoimentos, a gente descobre os funcionários. Alguns não tinham formação para atuar como atuavam, mas não temos ainda elementos que afirmem que eles sabiam que ela não era psicóloga”, explica o delegado.

O propósito era que as crianças não melhorassem, disse funcionária
Ainda de acordo com Maurício Luciano, uma das funcionárias interrogadas chegou a dizer em depoimento que “sentia que o propósito era que as crianças não melhorassem e que os pais se eternizassem pagando as consultas”. Num outro depoimento, uma ex-funcionária contou que havia sido colega de faculdade da estelionatária e que acreditava que ela havia se formado.

“Cada um dos casos vai gerar um procedimento na Justiça”, afirma o delegado, que aguarda a decisão da Justiça sobre o bloqueio de bens da falsa psicóloga. “O objetivo é que ela não possa usufruir do dinheiro que auferiu mediante a fraude. A gente está juntando provas e indícios de crimes para verificar, para ver se pedimos uma nova prisão”, completa ele.

Entenda o caso
A falsa psicóloga foi presa em flagrante no dia 27 de abril, atendendo um paciente em Botafogo, na Zona Sul, onde funcionava um centro de tratamento especializado fundado por ela. De acordo com as investigações, ela não possui graduação em curso superior, nem especialização em psicologia.

Segundo a polícia, ela atuava há 12 anos e atualmente ‘tratava’ cerca de 60 pacientes. Imagens feitas no centro de tratamento mostram a suspeita conversando com uma delegada, pensando se tratar da mãe de um futuro paciente.

A fraude foi descoberta por Andréia e o marido, Gilson Moreira, que desconfiou quando pediu recibos para declarar as despesas no imposto de renda.

De acordo com a polícia, ela cobrava, em média, R$ 90 por hora. Na delegacia, segundo a polícia, a falsa psicóloga disse informalmente só ter cursado dois períodos da faculdade de psicologia.
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