Tradicionalmente, o mês de junho é um período festivo em toda a região Nordeste do Brasil. São muitas as comemorações, nas quais os jovens perdem a noite comendo canjica, bebendo licor e dançando forró. Rodrigo Guedes, de 22 anos, também é um apreciador das festas juninas, mas o motivo das suas noites em claro é outro. “Viro a noite pensando nos detalhes da homenagem a Santo Antônio”, revela.
Os detalhes são pensados cuidadosamente pelo rapaz, que a cada ano define uma temática, estrutura e cores diferentes para homenagear o santo. “Para 2011 escolhi o tema ‘O santo que pregou para os peixes’, por causa de uma passagem da bíblia em que Santo Antônio foi pregar e ninguém quis ouvir a mensagem, então ele foi para a beira de um lago e os peixes saíram da água para ouvi-lo. Além disso, este é o ano das águas”, explica Rodrigo.
Corredor da casa arrumado para a procissão
(Foto: G1 BA/ Brenda Coelho)Há mais de 50 anos, a família de Rodrigo homenageia o santo conhecido como padroeiro dos pobres, casamenteiro e ajudante na busca de objetos perdidos. A tradição familiar começou na Rua Direita de Santo Antônio, no Largo de Santo Antônio, em Salvador. A devoção não podia ser diferente. “Nasci e me criei no bairro de Santo Antônio, fui coroinha da sua igreja, onde cresci participando das suas trezenas, já está no meu sangue”, conclui o jovem.
Desde que ele assumiu a organização das homenagens ao santo, há cinco anos, as portas da casa de Dona Maria do Socorro, uma das avós de Rodrigo, passaram a ser abertas para a participação do público. “A tradição não pode morrer, temos que compartilhar e é o que estou tentando fazer ao abrir as portas de casa para louvar Santo Antônio trazendo o povo dele para se reunir com a gente”, justifica Rodrigo.
Imagem de Santo Antônio no altar
(Foto: G1 BA/ Brenda Coelho)Artista por inspiração, Rodrigo uniu a devoção às suas habilidades para realizar um antigo desejo de Dona Maria do Socorro. “Minha avó sempre dizia que sonhava em ter um altar armado em casa, no canto da sala. Como vi que na igreja havia muitas obras, quis fazer de um modo artesanal a minha homenagem”, explica.
Atendendo à vontade de Dona Maria, anualmente Rodrigo monta um altar para Santo Antônio no primeiro dia do mês de junho. Desta data até o dia do santo, 13 de junho, a casa fica aberta para visitação. Nas noites dos dias 11, 12 e 13 do mesmo mês acontece o tríduo a Santo Antônio, composto por cânticos e orações.
“As portas permanecem abertas para a reza. Muita gente vem por curiosidade e se emociona, agradece as graças alcançadas, tira fotos. A gente faz isso em nome da fé, em primeiro lugar, depois para manter a tradição. É muito bonito ver a emoção do povo. Ele é um santo popular, a gente começa a rezar e o povo acompanha, conhece”, destaca.
As avós de Rodrigo rezavam para Santo Antônio de um modo mais tradicional, a portas fechadas, reunindo apenas os familiares. O rapaz lembra que caixas de sapato e flores de papel crepom serviam para ornamentar o santo nos dias de oração. “Hoje toda essa tradição passou para as minhas mãos. Modernizo a tradição preservando a essência da sua origem”, define o rapaz.
Rodrigo prepara a casa para a homenagem
(Foto: G1 BA/ Brenda Coelho)Organização
Os preparativos para a festa começam bem antes do mês de junho. Para ornamentar o altar, Rodrigo reúne materiais como latinhas, tecidos, papelão, caixas e tecidos. A ajuda dos familiares também é fundamental. “Toda a verba é arrecadada com doação familiar e cada um auxilia como pode. Este ano minha avó fez algumas flores de papel e minha tia os fuxicos (técnica artesanal com tecido)”, relata.
Além do altar que é montado, o corredor da casa também é decorado para a passagem de uma pequena procissão. Modelos diferentes de convites são confeccionados a cada ano para chamar os vizinhos e nunca falta o lanche típico que é distribuído aos participantes depois das orações e cânticos: o mungunzá e o licor. “Cada ano é um milagre, porque é trabalhoso organizar, há dificuldades, mas sempre conseguimos fazer. Muitos falam que é perda de tempo, maluquice, mas eu não ligo, nasci com isso”, conta Rodrigo.
Altar pronto para Santo Antônio
(Foto: G1 BA/ Brenda Coelho)O 'casamenteiro'
De acordo com Rodrigo, Santo Antônio é mesmo o santo casamenteiro. A fama se deve ao fato dele ser o único padre que realizava casamento de pessoas pobres, além de existirem relatos de casais que dizem ter casado depois de recorrer ao santo.
"Em um dos anos em que fiz a ornamentação do andor da igreja eu fui à sacristia buscar as flores e quando voltei o menino Jesus tinha sumido dos braços do santo. A imagem muito bonita, tombada, até hoje está sem o menino. Das duas uma, ou a pessoa que pegou não devolveu porque a imagem era muito bonita ou porque até hoje não arranjou marido!", brinca Rodrigo sobre a crença de que quem procura matrimônio deve tirar a criança da imagem de Santo Antônio, só devolvendo após ter o pedido atendido.
Simpatia
Ao final do encontro nas comemorações ao santo, os participantes levam para casa um saquinho contendo um pedaço de barbante e um papel com as orientações de como recorrer a ele. De acordo com as instruções, quem precisa de ajuda por intercessão de Santo Antônio deve:
'Kit' tem orientaçãoes para simpatia
(Foto: G1 BA/ Brenda Coelho)Fazer o pedido (até três);
Dar um nó no barbante para cada pedido, com um intervalo de 1cm entre cada um;
Enrolar o barbante na cintura de uma imagem de Santo Antônio.
A cada graça alcançada um nó deve ser desfeito. Cada pessoa deve agradecer ao santo da forma que achar conveniente, mas sempre com um ato de bondade.
Programação
1º de junho - Altar é armado para visitação
11 de junho - Procissão na rua é realizada a partir das 20h
12 de junho - Homenagem aos namorados, a São Francisco por ser pai da ordem de Santo Antônio, além de serem feitas orações e contada a história do santo
13 de junho - Pequena procissão dentro de casa, seguida por cânticos e orações.
