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Quinta-feira, 25 de julho de 2024

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Copan já tem 'promessa' de R$ 5 milhões para fachada, diz síndico

Um dos sonhos do administrador de empresas Affonso Celso Prazeres de Oliveira está cada vez mais próximo de se realizar. Síndico do edifício Copan, localizado no Centro de São Paulo, ele já conseguiu uma “promessa” de investimento de R$ 5 milhões para a restauração da fachada do prédio caso outros parceiros também adotem o projeto, orçado em aproximadamente R$ 24 milhões. O maior desejo de Oliveira, no entanto, não poderá ser realizado.


“Seria restaurar o projeto original do Oscar Niemeyer, mas isso é inviável, é impossível, é utopia. Como a gente só pode sonhar de olhos abertos, se eu conseguir entregar, ao final da minha gestão, esse prédio restaurado na sua fachada para os próximos 50 anos, se tiver certeza de que quem vier a me substituir manterá esse esforço que foi feito, eu estarei realizado”, diz.

O edifício tem 30 andares e se destaca na Avenida Ipiranga por sua fachada de linhas curvas, como uma grande onda. O projeto original de Niemeyer, da década de 50, previa a construção de um edifício residencial de 30 andares e de um hotel com 600 apartamentos. A obra acabou prejudicada por problemas financeiros das empresas responsáveis, e apenas o prédio residencial foi construído. Os primeiros moradores chegaram no início da década de 60.

São 1.160 apartamentos e 1.453 mil moradores atualmente - 754 homens e 699 mulheres, segundo Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O edifício tem 121 moradores de até 14 anos, 327 pessoas na faixa de 15 a 29 anos, 762 adultos de 30 a 59 anos e 243 idosos com mais de 60 anos.

Mas, segundo a administração do Copan, uma pesquisa realizada por alunos da Universidade de São Paulo (USP) há cinco anos contabilizou 3,6 mil moradores.

A restauração da fachada deve valorizar ainda mais o edifício, exemplo do boom imobiliário no país. Superadas algumas décadas de decadência, o Copan tem quitinetes de 26 metros quadrados sendo vendidas por R$ 160 mil e apartamentos de 219 metros quadrados por R$ 800 mil. Atualmente, por onde se anda no edifício, há barulho de reforma nos apartamentos – sinal do ritmo frenético de valorização e de novos moradores chegando.

“Antigamente tinha apartamento alugado para programa. Acontece que os aluguéis foram aumentando e esse tipo de apartamento começou a ficar deslocado. E agora como o Copan está na crista da onda, os preços subiram”, analisa a jornalista Laís Fagundes Oreb, que mora ali há 26 anos.

“Tenho dois pedreiros que moram aqui e tenho banqueiro aqui dentro também. Tem atriz. Tem pessoas da Alemanha, Coreia, China, Paraguai, Bolívia, Colômbia, EUA, Argentina, França, Portugal, Itália, tem japoneses. Temos um pouquinho do mundo aqui”, diz o síndico.

Investimento
A secretária Jerra Schuessler trocou de apartamento três vezes desde 1997, mas sempre dentro do Copan. Ela começou morando sozinha num apartamento menor e se mudou para outros maiores para acomodar melhor o filho, que hoje tem 11 anos.

“Se tiver que morar em outro lugar, eu vou. Mas vender meu apartamento, não. É o futuro do meu filhote”, diz.

O filho dela, Igor, é uma das minorias entre os moradores, segundo o levantamento do IBGE. O Censo aponta que 8,3% da população do Copan têm menos de 14 anos.

“Acho o prédio legal. Sempre no Ano Novo a gente vai lá em cima (no terraço), que é bem alto”, afirma. Sem playground, ele acaba ficando dentro do apartamento e se distraindo com televisão, computador e videogame.

Severino Avelino da Silva Filho, de 35 anos, um dos encarregados da limpeza do Copan, tem uma quitinete no prédio, mas prefere alugar para morar em uma casa maior com a família.

É ele quem recebe equipes de gravação de comerciais com atores e atrizes e turistas. Para ele, câmeras e gente famosa não são mais novidade. “Participei de um documentário de um pessoal da Alemanha. Me acompanharam de casa até o trabalho. Já fiz mais de oito entrevistas”, diz.

No terraço, Severino explica que o 32º andar equivale a uma altura maior, dada a galeria do térreo, e que o local com uma vista privilegiada para a cidade era frequentado por usuários de droga no período de decadência do Copan. Agora, cabe a ele guardar as chaves que dão acesso ao terraço e fazer rondas constantemente pelo prédio.

Sempre carregando um rádio para se comunicar com a equipe de funcionários, ouve queixas de moradores, fiscaliza a manutenção dos elevadores, desce todos os dias os 32 andares da escada externa para verificar a limpeza e nunca deixa de prestar atenção às visitas para evitar prostituição. “Se você vê alguém trazendo três ou quatro pessoas já fica esperto”, diz.

A auxiliar administrativa Vera Lúcia Vidal, moradora do prédio há 15 anos, reconhece que a “fiscalização” dos funcionários mudou o perfil do prédio. “Quando eu me mudei, tinha 18 anos e morava sozinha no 28º andar. Tinha muita briga de casais, muita garota de programa. De lá pra cá mudou bastante, tem segurança em todos os andares que passam a cada meia hora. Então, melhorou muito”, reconhece.

Salão de estética e loja de orgânicos
A jornalista Laís Oreb aproveita a vantagem de ter um centro comercial com 48 lojas ao alcance do elevador, no térreo do edifício. Há restaurantes de comida japonesa, italiana e mexicana, lojas de lingerie, de roupas e calçados, de chocolate, óptica, alfaiataria, lavanderia, lan house, clínica odontológica e muitos salões de beleza. Atualmente, o local preferido dela é uma loja de produtos naturais. Sim, os orgânicos chegaram ao Copan e estão fazendo sucesso.

“O movimento surpreendeu, e não fizemos nenhuma ação de marketing ainda. Fomos bem aceitos”, conta Helena Loterio Terentin, sócia da loja, aberta há cerca de um mês. Um dos hits do local é a feirinha de verduras e legumes orgânicos, montada numa banca logo na entrada da loja ao lado de uma geladeira com sucos de amora e outras frutas que fogem do básico. Quem quiser almoçar tem a opção de escolher pratos preparados por uma nutricionista.

Outra novata no comércio do Copan é a esteticista Janaína Eid Ferraz. Há menos de um ano, abriu um salão de beleza no térreo, ao lado de outro salão, e resolveu captar um público disposto a pagar por serviços mais especializados – e caros - como massagem e estética.

“É difícil ser novo onde todo mundo tem 15, 20 anos. Estamos formando clientela”, diz ela.

Publicidade no Copan
Se viabilizado, o projeto do Copan será o segundo na capital paulista a utilizar um decreto que regulamentou a Lei Cidade Limpa para financiar sua própria restauração com publicidade estampada em telas protetoras ou tapumes. Neste ano, o edifício Guinle, na Rua Direita, começou a ter a fachada restaurada. O projeto foi financiado por uma empresa de calçados que é proprietária do prédio.

No caso do Copan, a contrapartida oferecida aos investidores é um painel de cerca de 2 mil metros quadrados a ser estendido na fachada do prédio enquanto durarem os trabalhos de restauração, estimados em três anos. O “outdoor” traria os logotipos das empresas patrocinadoras e luzes de LED para destacar o anúncio também à noite. A expectativa é vender até quatro cotas, ou seja, ter, no máximo, o nome de quatro empresas diferentes anunciadas no painel.

“O trabalho de prospecção está indo bem, melhor do que a gente esperava. Chamamos o grande programa de master. É o que vai ficar com a maior proporção de investimento e vai ter a garantia de ter sua imagem 24 horas por dia. Os três outros parceiros terão apenas parte da noite como espaço publicitário. Mas isso pode ser ajeitado de acordo com o interesse dos investidores. (...) Só tenho uma promessa de aporte de R$ 5 milhões. Preciso buscar o resto”, diz Oliveira.

O painel ocupará um percentual de aproximadamente 10% da área total da fachada.

O síndico não diz quantos apartamentos serão afetados pela colocação da tela porque, alega, isso ainda dependerá da posição em que ela ficará. É certo que o painel vai reduzir a visibilidade e a claridade nos apartamentos que cobrir. Mas, segundo ele, a medida foi votada em assembleia.

A diretora de paisagem urbana da Prefeitura de São Paulo, Regina Monteiro, diz que a administração do Copan ainda precisa fazer ajustes no projeto e apresentar uma proposta final. Segundo ela, a publicidade do patrocinador não será um slogan, mas uma mensagem informando que a empresa está cooperando com o projeto.
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