O ex-ditador cubano Fidel Castro voltou a acusar o governo do México de ter encoberto a existência da gripe suína e afirmou que nada mudou nesse país em oito anos. Ele também disse que os Estados Unidos e Canadá esconderem no início a existência do vírus, o que, segundo ele, impediu medidas para evitar que a infecção se espalhasse. A doença, denominada oficialmente gripe A (H1N1), afeta 6.497 pessoas em 33 países, incluindo 65 mortes.

Em mais um artigo na coluna "Reflexões", divulgado pela mídia estatal, Fidel afirma que México e Estados Unidos "se tornaram exportadores mundiais da epidemia" e que "talvez essa fulminante expansão pudesse ter sido evitada".

As declarações do líder cubano foram feitas três dias depois que ele acusou o governo mexicano de não informar sobre a doença na visita do presidente americano, Barack Obama, ao México.

"Seria possível que no México, nos dias 16 e 17 de abril [datas da visita de Obama] ninguém conhecesse uma palavra do obséquio que, a partir desse país, seria feito ao mundo seis dias depois?", comentou Fidel.

"Nem sequer os organismos de inteligência dos EUA, especialistas em informação, conheciam o que estava a ponto de ocorrer?", questiona o ex-presidente, que assegura que "nada mudou no México durante os últimos oito anos, exceto o vírus".

O ex-governante, de 82 anos, acusa o governo mexicano de mentir e questiona a razão de "falar de supostas represálias como foi suspender uma viagem já suspensa?", em alusão à visita que o presidente mexicano, Felipe Calderón, tinha previsto realizar a Cuba em abril ou maio.

"Por acaso é mais importante o dinheiro do turismo e as linhas aéreas que a vida de um compatriota? Por que ameaçar?", afirma.

Fidel havia acusado pela primeira vez o governo do México de encobrir a doença no último dia 11, em artigo que gerou enorme polêmica no país, e suas palavras foram desmentidas pelas autoridades de saúde mexicanas.

Ele disse que o México enviou uma semana antes da Cúpula das Américas, realizada em Trinidad e Tobago de 17 a 19 de abril, amostras a um famoso laboratório do Canadá, que teria diagnosticado o vírus no dia 23 desse mesmo mês, após o que o governo de Calderón lançou o alerta.

Ressarcimento

Apesar das críticas de Fidel, o governo do México considera ter feito um serviço à humanidade pela forma como tratou a crise de saúde. Nesta quinta-feira, o ministro da Saúde mexicano, José Angel Córdova, disse que o país pedirá na Assembleia Anual da OMS (Organização Mundial da Saúde) um "ressarcimento financeiro" por ter alertado o mundo sobre a epidemia de gripe suína.

"Há uma posição de pedir um apoio de ressarcimento econômico para o país que foi o mais afetado pelo vírus H1N1", disse à imprensa, destacando que o México cumpriu com as normas sanitárias internacionais ao lançar um alerta pela gripe suína.

"Se o alerta não tivesse sido dado, o dano em saúde e economia para estes países [que registraram casos da doença] teria sido enorme", afirmou o ministro, insistindo que o México deu "informação oportuna, clara e transparente para ter um melhor conhecimento desta doença".

Córdova afirmou que o método de ressarcimento foi criado depois que da Síndrome Respiratória Aguda Grave da Ásia (Sars), em 2003, matou centenas na Ásia.

Sintomas

A gripe suína é uma doença respiratória causada pelo vírus influenza A, chamado de H1N1. Ele é transmitido de pessoa para pessoa e tem sintomas semelhantes aos da gripe comum, com febre superior a 38ºC, tosse, dor de cabeça intensa, dores musculares e articulações, irritação dos olhos e fluxo nasal.

Para diagnosticar a infecção, uma amostra respiratória precisa ser coletada nos quatro ou cinco primeiros dias da doença, quando a pessoa infectada espalha vírus, e examinadas em laboratório. Os antigripais Tamiflu e Relenza, já utilizados contra a gripe aviária, são eficazes contra o vírus H1N1, segundo testes laboratoriais, e parecem ter dado resultado prático, de acordo com o CDC (Centros de Controle de Doenças dos Estados Unidos).