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Domingo, 04 de agosto de 2024

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Sri Lanka festeja "fim do terror"; rebelde diz que luta continua

O presidente do Sri Lanka, Mahinda Rajapaksa, comemorou, neste sábado, a vitória daquele país "contra o terrorismo". Desde janeiro, o Exército realiza uma ofensiva contra os rebeldes da milícia separatista Tigres Tâmeis. Nas últimas horas, o Exército completou o cerco à zona de guerra onde os rebeldes estão confinados, ao lado de civis, e tomou a faixa litorânea pela primeira vez desde que o conflito começou, em 1983. 


"O meu governo, com o total comprometimento das nossas forças armadas, conseguiu, em uma operação humanitária inédita, finalmente derrotar militarmente o TLTE [nome oficial do grupo, Tigres de Libertação do Tâmil Eelam]", disse o presidente, que visita a Jordânia. "Eu retornarei para um país totalmente livre dos atos bárbaros do TLTE."

O site TamilNet.com, que defende a guerrilha, no entanto, divulgou uma mensagem assinada pelo líder tâmil S. Pathmanathan na qual ele diz que a abordagem do governo, "de encerrar a guerra em 48 horas por meio de uma carnificina e um banho de sangue de civis", não resolve "um conflito de décadas". "Pelo contrário, só agrava uma crise que já atingiu níveis inéditos."

O líder que assina a mensagem é apontado, há anos, como chefe do braço armado do grupo e é procurado pela Interpol (polícia internacional). Por promover assassinatos e explosões de homens-bomba, o grupo é considerado terrorista pelos Estados Unidos, Europa e Índia.

Especialistas afirmam que, uma vez derrotado militarmente, o grupo voltará às suas raízes, em uma guerrilha esparsa, com financiamento dos tâmeis.

Conflito

Os Tigres Tâmeis lutam para criar um território independente para a minoria étnica tâmil, que sofreu discriminação nos sucessivos governos da maioria cingalesa. No passado, os rebeldes chegaram a controlar uma parte do norte e do leste do Sri Lanka e a formar forças próprias, uma significativa frota naval e uma ínfima frota aérea. Em janeiro deste ano, o governo do Sri Lanka decidiu iniciar a sua "ofensiva final" contra a guerrilha.

Desde então, os rebeldes perderam terreno. Nos últimos meses, ficaram confinados a uma faixa estreita de floresta e de praia com com cerca de 3 km2 --equivalente a 30 campos de futebol-- na Província Oriental, que ficou anos sob controle efetivo dos rebeldes. Nesta zona de guerra estão, além dos rebeldes, entre 30 mil e 80 mil civis, estima a ONU (Organização das Nações Unidas).

Desde janeiro, conforme a ONU, cerca de 6.500 civis foram mortos na zona de guerra, à qual apenas a Cruz Vermelha tem acesso. Na quinta-feira passada (14), a Cruz Vermelha afirmou que o Sri Lanka passa por uma "catástrofe humanitária imaginável" e que a população "estava abandonada à própria sorte".

Sem saída


Com a tomada da faixa litorânea, o Sri Lanka inviabilizou qualquer fuga dos líderes dos Tigres Tâmeis pelo mar. Para o Ministério da Defesa cingalês, sem poder escapar, os Tigres Tâmeis devem estar preparando um suicídio em massa.

O principal alvo do governo cingalês é o líder rebelde Velupillai Prabhakaran, 54, que, para os militares, continua a frente dos Tigres Tâmeis. Não existe, porém, confirmação de que o líder ainda esteja em território rebelde.

Prabhakaran foi condenado por diversos ataques no Sri Lanka. Ele também é procurado na Índia, onde foi condenado pelo assassinato, em 1991, do ex-premiê Rajiv Gandhi, morto após a explosão de uma mulher-bomba, supostamente dos Tigres Tâmeis, em um comício, em um aparente ato de vingança pelo envio de uma força de paz ao Sri Lanka, em 1987.

Crise humanitária

Cerca de 11,8 mil civis fugiram da zona de guerra apenas neste sábado. No total, há cerca de 200 mil refugiados no país. "Não temos acesso ao processo. Tememos muito pela segurança das 30 mil a 80 mil pessoas que ainda estão na zona de guerra", afirmou o porta-voz da ONU Gordon Weiss. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, enviou à região Vijay Nambiar, cujo objetivo é, mais uma vez, negociar com as autoridades do Sri Lanka uma trégua humanitária.

O governo do Sri Lanka rejeita qualquer proposta de trégua por crer estar perto da vitória.

O premiê britânico, Gordon Brown, disse neste sábado que o governo do Sri Lanka sofrerá "consequências" se não permitir que a população civil tenha acesso à ajuda humanitária e se não colocar encerrar sua ofensiva. Em comunicado, o premiê lembrou que seu governo pediu "repetidamente o fim da violência" naquele país, antiga colônia britânica.

No final de abril passado, os chanceleres David Miliband (Reino Unido) e Bernard Kouchner (França) fizeram uma rara viagem ao Sri Lanka para pedir trégua, sem sucesso. Na época, Rathnasiri Wickremanayake, premiê do Sri Lanka, os chamou de "marionetes que se dizem especialistas" e os acusou de tentar evitar a prisão dos líderes tâmeis. Sob o Reino Unido, eram os tâmeis que gozavam de privilégios sobre os cingaleses.
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