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Segunda-feira, 29 de julho de 2024

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Rotatividade e falta de mão de obra prejudicam mercado de trabalho

Cerca de 150 vagas abertas há mais de dois meses e nenhum profissional capacitado ou interessado para ocupar a função. Esta situação curiosa foi registrada em Uberaba, no Triângulo Mineiro, pela Associação dos Supermercadista da cidade (Assuper). Para os especialistas em comportamento e recrutamento de profissionais, a dificuldade de preencher vagas de trabalho abertas é uma realidade em diversos setores, inclusive na indústria e no setor de serviços.


Para o supervisor de um supermercado de Uberaba, Cristiano Luiz dos Santos, a dificuldade de se encontrar profissionais para completar o quadro de funcionários é uma realidade enfrentada desde 2010 e que está piorando a cada ano. Ele que acompanha diretamente os processos de contratação e treinamento de profissionais alegou que uma das principais dificuldades enfrentadas na hora de selecionar os trabalhadores é em relação ao público jovem que não foi capacitado e não está preparado para o mercado. “A dificuldade começa no próprio processo de seleção já que muitos nem comparecem para a entrevista. De forma geral essa faixa etária mais jovem não foi preparada para a rotina de trabalho em uma empresa. É uma geração que começou a trabalhar muito tarde e que, em muitos casos, não assumiu ainda responsabilidades. Já vi casos de funcionários que faltam sem motivo ou explicação e isso prejudica a escala da empresa”, disse o supervisor.Segundo o diretor executivo da Assuper, José Albino, o problema enfrentado pelo setor vai além da idade. A falta de interesse pelos cursos de capacitação e pelas vagas abertas é uma realidade. “A cidade oferece cursos para os setores de panificação e açougue que são demandas dos supermercadistas. Os cursos são de graça e sem custo para a pessoa e praticamente após a conclusão a pessoa tem emprego garantido. Mesmo assim percebemos que em alguns casos não há interesse do público em buscar capacitação”, afirmou Albino.

A empresária do setor de recrutamento de profissionais e também consultora de recursos humanos, Luciene Villa Maia, acredita que a dificuldade em encontrar profissionais é geral e afeta setores como a indústria e de serviços, por exemplo. O problema, segundo a especialista, está relacionado a dois aspectos: a ausência de profissionais capacitados e o nível de exigência das empresas. “A dificuldade é geral em todas as áreas, principalmente para as vagas operacionais que não exigem formação completa. As empresas estão mais exigentes e a formação da população não acompanhou este desenvolvimento. Existem empresas que preferem ficar com a vaga aberta durante meses e escolher o profissional certo do que contratar alguém que não seria o ideal para a vaga. Tenho alguns cargos com vagas abertas há mais de quatro meses”, lembrou a especialista.

Sobre as questões relacionadas ao jovem no mercado de trabalho, Luciene acredita que o perfil desse trabalhador mudou ao longo dos tempos e que a rotatividade está relacionada ao falto de que não existe mais fidelidade às empresas. “O jovem hoje tem pouca qualificação, nenhuma experiência e a autoestima elevada. Saímos de um mercado onde a fidelidade à empresa não é tão importante e, quanto mais jovem, mais carreirista a pessoa é. Isso é preocupante para as empresas que sofrem com essas questões. Antigamente as pessoas tinham mais afinco, mais comprometimento”, finalizou.

Para o sociólogo e professor universitário, Renê Bernardes, a questão precisa ser avaliada com cautela. Ele lembrpu que hoje com a grande oferta do mercado de trabalho as pessoas podem escolher melhor o local e a função em que querem trabalhar. Além disso, a qualidade de vida e o horário de trabalho dos profissionais são levados em conta na hora de tomar esta decisão. “O trabalhador hoje coloca na ponta do lápis os pontos positivos e negativos de uma empresa na hora de aceitar uma oferta de trabalho. A realidade mudou e as pessoas têm mais chances para escolher, pois existe muita oferta. A qualidade de vida do profissional é sempre levada em conta. No caso dos supermercados e setores de serviços que têm que lidar diretamente com o consumidor, o horário de trabalho mais exigente torna a situação mais difícil. O trabalho no açougue de um supermercado e em um açougue comum tem algumas diferenças que são levadas em conta pelo trabalhador, como o horário de trabalho, além da pressão e as cobranças relacionadas à função”, concluiu o sociólogo.
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