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Terça-feira, 06 de agosto de 2024

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Corte paquistanesa liberta suposto mentor de ataques de Mumbai; Índia protesta

O fundador Lashkar-e-Taiba, grupo que o governo indiano responsabiliza pelos ataques do ano passado em Mumbai, foi libertado nesta terça-feira da prisão domiciliar por um tribunal paquistanês. A decisão aumentou a tensão entre os dois países, que têm um conflito histórico em relação à soberania sobre a região fronteiriça da Caxemira, e levou a críticas sobre o compromisso do Paquistão no combate ao terrorismo.


Na cidade de Lahore, no leste do país, um colegiado de três juízes da Suprema Corte paquistanesa determinou que Hafiz Mohammed Saeed, um clérigo islâmico detido desde uma operação policial em resposta aos ataques de Mumbai, não poderia ser mantido preso porque não havia provas contra ele, disse a jornalistas o advogado de defesa A.K. Dogar. O tribunal não divulgou a decisão.

A Índia acusa o Lashkar-e-Taiba de ter enviado os homens armados que atacaram hotéis luxuosos, uma estação de trem e pontos de concentração de estrangeiros durante três dias em Mumbai em novembro de 2008, matando cerca de 170 pessoas.

Uma das 38 pessoas acusadas pela Índia como os principais mentores dos atentados, Saeed está sendo mantido nos últimos seis meses dentro de sua casa, perto de Lahore, e não está claro se há outras formalidades a cumprir antes que ele possa sair.

O procurador-geral Sardar Latif Khosa disse que o governo estava avaliando entrar com um recurso contra a decisão, mas que era necessário tempo para estudar o julgamento.

Saeed fundou o Lashkar-Taiba (exército dos devotos), no fim da década de 1980 com a aprovação dos serviços de inteligência do Paquistão, mas deixou o grupo logo depois que a Índia acusou os seus membros por um atentado ao Parlamento indiano, em 2001. O grupo tem uma longa e sangrenta história de guerrilha e atentados contra o domínio indiano em parte da Caxemira e foi colocado na ilegalidade em 2002.

À frente do Jamaat-ud-Dawa, Saeed mantinha até recentemente uma extensa rede de bem-estar em todo o Paquistão, financiada por doações. O grupo desempenhou um papel importante no auxílio aos sobreviventes do terremoto que matou 73 mil pessoas no norte do país em 2005, mas tem sido alvo de ações do governo paquistanês, pressionado pelos americanos e pela ONU, que veem ligação do grupo com a rede terrorista Al Qaeda e com o Taleban. Em dezembro, após os ataques de Mumbai, a organização foi oficialmente banida.

A ONU (Organização das Nações Unidas) considera o Jamaat-ud-Dawa terrorista e diz que o grupo é uma fachada para o Lashkar-e-Taiba.

Procuradores indianos dizem que provas encontradas com o único dos dez pistoleiros de Mumbai que sobreviveu, Mohammed Ajmal Kasab, apontam para o envolvimento do Lashkar-e-Taiba nos ataques. Kasab, um paquistanês, está sendo julgado na Índia e pode ser condenado à morte. As autoridades indianas dizem que o Paquistão ainda não mostrou progressos nas investigações.

A libertação de Saeed foi determinada no momento em que os Estados Unidos e outros aliados ocidentais do Paquistão pressionam o país a focalizar seus esforços de segurança no combate aos militantes do grupo fundamentalista islâmico paquistanês Taleban, mobilizado principalmente do lado oposto à Caxemira, na região fronteiriça com o Afeganistão.

Como parte do esforço para combater os talebans, o enviado especial do presidente americano Barack Obama para o Paquistão e o Afeganistão, Richard Holbrooke, tem uma visita marcada a Islamabad nesta quarta-feira para discutir a ofensiva militar que começou há um mês contra insurgentes islâmicos no vale do Swat, no noroeste do país.

Reação indiana

Autoridades indianas manifestaram descontentamento com a libertação de Saeed e especialistas indianos avaliam que a decisão pode prejudicar as relações entre Paquistão e Índia, que entraram em guerra duas vezes pelo território da Caxemira desde a separação com a independência em relação ao Império britânico, em 1947.

"Sua libertação levanta sérias dúvidas sobre a sinceridade do Paquistão em agir com determinação contra os grupos terroristas e as pessoas que operam no seu território", disse nesta terça-feira Vishnu Prakash, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia.

"Isso [a libertação de Saeed] só mostra que a seriedade do Paquistão na luta contra o terrorismo ainda está sob uma nuvem", disse, em Nova Déli, o novo ministro indiano das Relações Exteriores, Somanahalli Mallaiah Krishna.

"Parece que não há correspondência entre as palavras e a ação no Paquistão neste momento", disse Naresh Chandra, um ex-diplomata que serviu em Washington.
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