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Terça-feira, 06 de agosto de 2024

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Vitória do Hizbollah em eleições pode isolar Líbano, dizem analistas

Uma eventual vitória do grupo xiita libanês Hizbollah nas eleições parlamentares no Líbano neste domingo pode isolar o país, na opinião de analistas ouvidos pela BBC Brasil. Nas eleições, estão em jogo as 128 cadeiras no Parlamento, e o bloco que sair vencedor vai formar o novo governo.


Especialistas indicam para um páreo apertado entre os movimentos rivais 14 de Março (pró-Ocidente, que junta os principais grupos sunitas, cristãos e drusos do país), atual maioria no Parlamento, e o 8 de Março (liderado pelo Hizbollah, reúne xiitas, drusos e cristãos pró-Síria), apoiado por Síria e Irã.

"Os Estados Unidos e a comunidade internacional poderão reagir de forma exagerada. Haverá uma comparação de uma vitória democrática do Hizbollah com a tomada de poder feita pelo [grupo palestino radical] Hamas em Gaza ou pelo [grupo radical islâmico] Taleban em Islamabad [Paquistão]", diz o diretor do Centro Carnegie para o Oriente Médio em Beirute, Paul Salem.

Este cenário, segundo Salem, poderia levar a um colapso da ajuda internacional ao Estado libanês e às Forças Armadas do país.

O mundo árabe poderia agir de forma semelhante, com a Arábia Saudita e outros países do Golfo suspendendo a ajuda financeira, levando a um precipitado pânico social e econômico.

O cientista político da Universidade Americana de Beirute Hilal Khashan acredita que outra consequência seria o aumento da tensão com Israel, já que o grupo xiita poderia usar sua chegada ao governo como um pretexto para se rearmar. "O governo israelense poderia agir de forma precipitada e veria um governo do Hizbollah, apoiado por seus inimigos Irã e Síria, como ameaça à sua segurança", enfatizou Khashan.

Neste caso, o professor não descarta um novo conflito com Israel, o que seria devastador para o Líbano.

Divisão

Khashan diz que o país continuará dividido entre dois campos após o pleito, mas terá seu mapa político redefinido. "Nós não acordaremos com um Estado islâmico no dia seguinte, em caso de vitória do Hizbollah, mas teremos sim uma nova estagnação política que só será resolvida com uma negociação entre os dois lados", salientou Khashan.

Já Salem acredita em uma polarização ainda mais acentuada com uma eventual vitória do Hizbollah. "Não estariam descartados confrontos armados entre os dois lados por causa da pressão que isso causaria sobre o novo governo".

Pesquisas de opinião feitas por universidades libanesas mostraram uma pequena vantagem na coalizão do 8 de março como vencedor das eleições. Para Salem, nenhum dos lados deve obter uma maioria muito ampla em caso de vitória, embora o grupo liderado pelo Hizbollah tenha maiores chances de formar a maioria.

"O apelo do Hizbollah aumentou, com uma forte coalizão baseada em alianças com vários grupos, incluindo cristãos", disse ele, salientando que nenhum dos dois lados poderá governar sozinho. "No Líbano, um lado só governa em acordo com o outro, e eu só vejo um novo governo de união nacional como solução".

O professor disse que o presidente Michel Suleiman, considerado neutro e confiável por ambos os lados, pode ter um papel decisivo para intermediar a criação de um novo governo. "O Ocidente deveria encorajar a formação de um governo de coalizão, o que seria o melhor para a estabilidade do Líbano".

Hilal Khashan também espera que um governo de união nacional seja criado e que o 14 de Março não decida boicotar um governo liderado pelo Hizbollah. "O 14 de março servirá muito mais aos interesses do Líbano, se participar de um governo mesmo como minoria".
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