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Terça-feira, 06 de agosto de 2024

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Dubai deixa em tudo um gostinho artificial

Foto: Divulgação

Dubai deixa em tudo um gostinho artificial
Se houvesse um troféu para o lugar mais "fake" do mundo, iria certamente para Dubai, com suas maluquices típicas de Las Vegas, prédios altos e envidraçados como em Miami, praias azuis como as do Caribe, deserto como na Somália e pitadas de tradição árabe como na Síria. É muita coisa para um espaço tão pequeno, onde tudo é grandioso, surpreendente, às vezes chocante e artificial.


Mas Dubai, um dos sete Emirados Árabes Unidos, pode receber muitos outros troféus, porque as palavras chaves ali são "mais", "maior" e "melhor", desde o momento em que você entra no voo da Emirates Airlines, com 180 canais de filmes disponíveis e "home theater", ou quando pisa no novo --e impressionante-- terminal do aeroporto.

Os hotéis mais luxuosos do mundo, o Burj al Arab e o Atlantis. A maior torre do mundo, a Burj Dubai, que está para ficar pronta sem revelar qual será sua altura final. As mais extraordinárias, maiores e melhores ilhas artificiais do mundo.

Espremida numa faixa habitada entre a praia e o deserto, Dubai se expandiu para o mar. Suas três ilhas --a trilogia Palm (porque a primeira é em forma de palmeira)-- conferem 500 km a mais de extensão. Nem há tantos moradores assim que justifiquem a extravagância. Mas há turistas, milhões de turistas.

Como comparação: o Brasil, com seus mais de 190 milhões de habitantes, litoral privilegiado, cachoeiras e diversidade, recebe em torno de 5 milhões de turistas por ano. Dubai, com 1,2 milhão de habitantes, recebeu o dobro, 10 milhões, no ano passado.

Na verdade, ninguém vai mesmo para Dubai. Vai para algum ponto do planeta e passa por lá, graças a um grande trunfo, ou sacada: a Emirates Airlines, que é privada e foi criada em 1985 para repetir nos nossos tempos uma vocação histórica do lugar.

Discos voadores

Encravada num ponto superestratégico entre Europa, Ásia e África, Dubai fica num histórico centro distribuidor de mercadorias entre os continentes. Hoje, é de turistas. Já que você vai das Américas ou da Europa para a Índia, a China, a Tailândia, a África do Sul ou o Líbano, por exemplo, por que não dar uma paradinha de dois, três, sete dias em Dubai?

É o tempo necessário para se surpreender com prédios moderníssimos, shoppings imensos e sem taxas (Dubai é zona franca), uma praia exclusiva pela manhã, um rali pelo deserto à tarde (com direito a dança do ventre), um "souk" (mercado árabe) entre uma e outro e as coisas mais absurdas o tempo inteiro.

Consegue imaginar uma estação de esqui dentro de um shop-ping, com pista de neve de 400 m, trenós e até cadeirinhas para levar esquiadores morro acima? E num país-cidade onde a temperatura média no inverno é de 20ºC? 20ºC! Pois é. Existe, fica no Emirate's Shopping e, de fora, lembra algo como uma pista de lançamento de discos voadores.

E que tal almoçar caviar negro num dos mais de dez restaurantes do hotel Burj Al Arab, diante de um aquário de parede inteira, e de repente dar de cara com um mergulhador dando tchauzinho para você entre os peixes?

São surpresas ao sabor de clientes milionários. Gente como xeques do petróleo, jogadores de futebol ou tênis, astros da música pop.

Os hotéis são cheios de dourado (quando não de ouro mesmo), peixes vermelhos, paredes azul-rei, vidraças imensas, suítes presidenciais de deixar boquiaberto. Mais pela suntuosidade do que propriamente pela beleza.

E os shoppings vendem de Dior e Ferragamo a sandálias havaianas. Há um "souk" só de ouro e os hóspedes invariavelmente voltam a seus apartamentos abarrotados de sacolas. Eles só têm de ter alguns cuidados. Exemplo: é proibido beber na rua.

Ruas limpas e impecáveis

Naquele solo desértico --onde nada se cria, tudo pode ser transformado--, até uma mera palmeira esconde segredos e curiosidades. Palmeiras? Mas como falar em palmeiras ali? Se olhar bem de perto, a resposta está naquelas mangueiras pretas e discretas enroscadas em cada uma delas.

Para criar aquele ar de Miami ou de Bahamas, a "fake" Dubai importou milhares de palmeiras, plantou ao longo de ruas e avenidas e criou um complexo sistema de irrigação para mantê-las.

Das três ilhas artificiais, a primeira e mais curiosa é a Palm Jumeirah, que foi construída justamente em forma de palmeira, com "tronco" (a avenida de entrada), "galhos" e "folhas" onde há hotéis (o plano é chegar a 30 só nessa ilha), além de casas, lojas e tudo o que uma cidade comum costuma ter.

Justamente ali fica o Burj Al Arab --com formato de barco a vela--, que se transformou num dos mais badalados cartões-postais de Dubai. O país, aliás, é chamado de "playground de arquitetos". Esses profissionais são atraídos do mundo todo justamente pela possibilidade de poder brincar à vontade sendo regiamente remunerados. Nada é proibido.

E o passado, a tradição, a cultura árabe? Fácil. Basta dar um pulo na "old town", mas fique logo sabendo que de "old" ela não tem nada. Foi construída há menos de dez anos, fingindo ser original, com barro, cor acinzentada, paredes e janelas levemente arredondadas. Digamos que seja... uma excrescência.

Então, o melhor é fazer um passeio no "Creek", que é de fato o que há de mais antigo em Dubai. Pega-se um "abra", ou "dhow", barco tradicional, de madeira e a motor, que serve como ônibus para a população local e para os turistas, e vai-se do bairro de Deira ao Bur Dubai, ou seja, de uma ponta à outra da baía onde entravam e saíam mercadorias entre os continentes. 

Era ali também que, um dia distante, ficava o ponto de venda das pérolas naturais de Dubai, as mais famosas do mundo, até que a crise mundial de 1929 e o advento (?!) das pérolas cultivadas do Japão acabaram com o encanto e com o negócio.

Há um "souk" de roupas e tranqueiras indianas, outro com especiarias, bem ao gosto árabe, e o de ouro, que é inacreditável. As vitrines das barracas são cobertas por braceletes, correntes, anéis, brincos, tiaras, que reluzem feito... ouro mesmo. Tirar fotos é até complicado. O lugar é quase penumbra, mas o flash estoura de tanto brilho.

O que há de ouro, de turistas e de surpresas, falta em gente local e pobres. Segundo a imprensa inglesa, pobres há, geralmente indianos ou paquistaneses, mas escondidos. Assim, encontram-se canadenses, australianos, italianos, portugueses e, claro, brasileiros, falando no mínimo inglês fluentemente, trabalhando em hotelaria, restaurantes ou construção civil. Sabem que está tudo muito bom, tudo muito bem, mas há prazo para terminar.

Dubai tem dois tipos de gente: para os locais, tudo; para os estrangeiros, tudo, mas só por enquanto. A riqueza do petróleo, descoberto na virada dos anos 1960 para os 1970 (hoje apenas de 3% a 5% do PIB), se reverteu em água, luz, casa, escola e hospital de graça e aposentadoria garantida para os locais. Já os de fora só têm permissão para ficar até três anos, tendo que arcar com as próprias despesas e a escola para os filhos. E estrangeiro não compra nem vende imóvel em Dubai; só arrenda a perder de vista.

Nas ruas, limpas, impecáveis, é fácil identificar quem é quem: os homens locais usam túnicas geralmente brancas até os pés, e as mulheres, vestes pretas. Nas praias, só estrangeiras. Às locais é vetado o uso de maiô, e biquíni, nem pensar. Naquele calorão, com um mar tão azul, seria uma tortura. Mas elas nem sentem.

E não se engane: a bela morena de cabelos longos que exibe a dança do ventre com o sol se pondo no deserto, sobre tapetes árabes muito coloridos e a poucos metros de camelos cansados, não tem nada de Dubai. Ou é síria, ou libanesa, quem sabe egípcia? Uma dubaiense tão "fake" quanto a própria Dubai. E igualmente extravagante.

PARA QUEM
Busca, além de luxo, exotismo e efervescência num mundo de superlativos.

QUANDO IR
A melhor época para visitar vai de outubro a março e abril, com média de 26ºC; nos meses de junho e julho, a temperatura oscila entre 26ºC e 38ºC.

DICA A vantagem é que todos os lugares (hotéis, shoppings e até pontos de ônibus) contam com ar-condicionado.
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