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Sexta-feira, 26 de julho de 2024

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Mãe amarra filho dependente de crack com corrente para interná-lo

“Tive que prender meu filho numa corrente, no pé, amarrada na cama”. Esse é o relato de mais uma mãe que sofre com as consequências dos efeitos da dependência química do crack. Vinda de Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo, a dona de casa Sônia Aparecida Klein, de 48 anos, foi obrigada a prender o filho em casa para trazê-lo ao Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod), na Rua Prates, no Centro da capital, na manhã desta terça-feira (22).


No segundo dia da parceria firmada entre o Cratod, Justiça e Ministério Público, familiares e dependentes químicos aguardavam pelo atendimento em busca de uma vaga para tratamento na rede pública. Nesta segunda (21), o governo estadual iniciou um programa de internação compulsória e involuntária de dependentes químicos.

Atormentada por ter um filho drogado que vive perambulando pelas ruas procurando formas ilícitas para sustentar o vício, Sônia diz não ter mais vida. “Não vivo mais, não trabalho, não me cuido, apenas vegeto”, desabafa. O filho de 22 anos vive há sete nas ruas e passa a maior parte do tempo na região da Cracolândia, no Centro. Depois de passar por quatro clínicas particulares e não ter tido sucesso, o jovem foi trazido à força pela mãe. “É pior ver meu filho na Cracolândia no meio dos zumbis do que preso a uma corrente”, afirma a mãe.

Apesar do pé e perna machucados pela corrente que o mantinha prisioneiro, o jovem concordou com a atitude da mãe. “Se ela não me amarrar, fujo na certa. Ela faz isso pro meu bem”. Na abstinência há três dias, ele reluta em ser internado e conta que já correu grandes perigos na rua. “Quase morri roubando um mercado”, conta ele que rouba alimentos para comprar drogas.

Nesta segunda-feira, uma filha foi obrigada a dopar o pai de 62 anos para conseguir trazê-lo ao local. O homem foi o primeiro caso de pedido de internação involuntária. A filha deve comparecer ao Cratod nesta terça para comunicar a internação ao Ministério Público. O segundo caso foi de uma jovem trazida pela mãe.

O sofrimento está presente nos rostos de todos que passam pela unidade no Centro da capital. O caso da dona de casa Maria das Graças Luz, de 52 anos, não é diferente. Ela veio pedir a internação involuntária da filha que tem 30 anos de idade e é viciada há 17 anos. Maria conta que a filha, que já engravidou sete vezes está grávida novamente. Um dos netos é criado pela avó, as outras crianças foram vendidas pela mãe.

“As pessoas ficam com dó porque ela está grávida, começam a dar as coisas pra ela e ela dá as crianças e pede dinheiro em troca para comprar drogas”, disse. Confiante de que agora vai conseguir afastar a filha do vício e da vida nas ruas, ela espera por uma orientação dada pela equipe de saúde. “Agora vai dar certo, antes tarde do que nunca”.

De acordo com a coordenadora de saúde Rosângela Elias, nesta segunda-feira, 39 pessoas entre pacientes e familiares foram atendidas no Cratod e 11 passaram a noite na unidade. Desses casos, três foram internações voluntárias e duas involuntárias. Na manhã desta terça-feira, 12 pessoas já receberam atendimento, além de dez ligações de familiares solicitando informações.

O dependente Marcelo Antunes, de 38 anos, não tem mais resistência e quer mudar de vida. Ele veio procurar uma vaga para internação. “Quero começar de novo, to tentando sair desse vício, arrumar um trabalho e construir uma família.”

Internações
A capital paulista não registrou até o momento pedidos de internação compulsória. Segundo o juiz Samuel Karasin, que irá decidir sobre a compulsoriedade do tratamento de dependentes de crack no Cratod, cada caso será analisado separadamente após o usuário ser ouvido e os médicos atestarem que realmente é preciso uma internação, pois há risco de vida para o dependente.

Quando a internação é involuntária (a pedido da família e com recomendação médica), o juiz nem sempre é chamado a participar. O magistrado interfere, em especial, quando há menores de idade envolvidos ou há necessidade de uma vaga com urgência que não é disponibilizada no serviço público.

“Acho que a maioria dos casos analisados será de internação involuntária, as internações compulsórias são exceções, quando realmente será necessário tomarmos uma atitude e a família não for localizada. O juiz aqui terá um papel maior para garantir uma vaga para quem quiser se internar. E se não houver vaga no sistema público, eu penso que o Estado terá a obrigação de arcar com os custos de uma internação em clínicas privadas”, disse o juiz Iassim Issa, da Vara da Infância e da Juventude.
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