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Quarta-feira, 07 de agosto de 2024

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Onda de manifestações toma capital do Irã por conta de resultados eleitorais

O Irã enfrenta uma forte onda de manifestações desde o anúncio da reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, na votação da última sexta-feira (12). Desde o sábado, opositores foram às ruas para denunciar o que consideram uma fraude eleitoral, o candidato derrotado, o reformista Mir Hussein Moussavi, pediu anulação do resultado e a polícia reagiu prendendo dezenas de pessoas ligadas a grupos de oposição. Mas Ahmadinejad também recebe manifestações de apoio, e comemorou na tarde deste domingo sua conquista eleitoral junto a uma multidão estimada em cem mil pessoas.


Em entrevista coletiva concedida neste domingo, o presidente comparou os protestos da oposição à reação de torcedores de futebol inconformados com a derrota do seu time. Segundo ele, perdedores sempre reclamam do resultado, e o Irã é um modelo de democracia para o mundo. Membros da oposição, por outro lado, denunciam o que chama de “golpe de Estado”, e prometem continuar protestando contra o resultado e a repressão.

Censura

Pelo menos seis jornalistas ocidentais foram detidos e sofreram repressão enquanto faziam a cobertura dos protestos contra a reeleição do presidente em Teerã. Dois jornalistas belgas foram detidos, informou a radiotelevisão pública belga. Willy Vandervorst, da radiotelevisão francófona "RTBF", e Jef Lambrecht, da cadeia flamenga "VRT", ficaram retidos por cerca de uma hora nos porões do Ministério de Informação iraniano. Eles foram libertados uma hora depois, com a condição de que não façam mais fotos nem imagens.

A polícia iraniana deteve e expulsou do país dois jornalistas da TV pública holandesa que gravavam uma reportagem em frente ao escritório de Mir Hussein Moussavi, o principal adversário do chefe de Estado Mahmoud Ahmadinejad nas eleições presidenciais de sexta-feira.

O governo iraniano está interferindo até nas transmissões em persa da "BBC" no Irã, onde um jornalista e um câmera da rede britânica foram presos brevemente, disse hoje o diretor do Serviço Mundial da emissora, Peter Horrocks. Em declarações à agência britânica "Press Association", Horrocks disse que a transmissão de sua emissora para espectadores do Irã, Oriente Médio e Europa tem sido afetada por uma interferência eletrônica dos satélites utilizados para emitir o sinal do canal em persa.

Repressão a opositores

Além dos jornalistas, a detenção de opositores e novos protestos aumentaram neste domingo a tensão no Irã, após os distúrbios pela contestada reeleição do presidente, que disse que os iranianos manifestaram o seu repúdio aos "opressores" que governam o mundo.

O principal candidato opositor, Mir Hosein Moussavi, fez um pedido formal de anulação do resultado da eleição, que deve ser analisado pelo Conselho dos Gardiões, órgão que coordena parte do processo eleitoral no país. Moussavi fez um apelo para que as manifestações sejam mantidas "de forma pacífica" para pedir uma revisão das eleições que, a seu ver, foram manchadas por irregularidades.

Cerca de 170 pessoas, 70 delas consideradas "organizadoras" dos protestos, foram detidas, indicou o subchefe da Polícia, Ahmed Reza Radan, citado pela agência oficial IRNA.

No domingo ao meio-dia, novos incidentes eclodiram em Teerã entre cerca de 200 partidários do candidato opositor Mir Hosein Musavi e as forças de segurança, que usaram bombas de gás lacrimogêneo para dispersá-los.

À tarde, a Polícia efetuou tiros para o alto para obrigar os manifestantes a recuar em uma avenida da capital.

'Duro golpe'

Ahmadinejad, que no final da tarde participou das celebrações por sua reeleição (com presença de 100 mil eleitores, segundo dados oficiais), afirmou que a alta taxa de participação nas eleições (mais de 84% dos eleitores) foi "um duro golpe (...) para o sistema de opressão que governa o mundo".

Durante o comício, o presidente acusou hoje a imprensa internacional de refletir uma imagem negativa e equivocada do Irã e de se intrometer nos assuntos internos do país.
"As eleições iranianas criaram uma guerra psicológica na imprensa (internacional), que não aprendeu as lições do passado", disse.

O presidente iraniano assegurou que isto não é nenhuma novidade. É uma estratégia da imprensa que se repete desde o triunfo da Revolução Islâmica, em 1979, que tirou o último Xá da Pérsia, Mohammad Reza Pahlevi, do poder. "A imprensa fez o mesmo (nas eleições passadas) e durante 30 anos. Não querem uma democracia que não esteja ligada a seus interesses", disse.

"Eles dizem que tudo está ruim (no país), porque não era o que eles esperavam. São eles que estão mal. Os 40 milhões de pessoas que votaram são contra essa intromissão internacional", acrescentou o presidente iraniano.

Ahmadinejad, de 52 anos, recebeu no sábado o apoio do aiatolá Ali Khamanei, líder supremo e maior nome da hierarquia do Estado iraniano, que saudou a reeleição e pediu ao país que se una em torno do presidente.

Apelação

O candidato derrotado, o reformista Mir Hussein Moussavi, apelou através de uma carta ao Conselho dos Guardiães - que deve validar os resultados - divulgada em seu site.

Moussavi pediu neste domingo (14) a seus seguidores que mantenham "de forma pacífica" sua "oposição" aos resultados oficiais das eleições de sexta-feira (12), que deram a vitória ao mandatário atual. "Os aconselho novamente a manter a oposição civil e legal, de forma pacífica, em todo o país", afirmou no site de sua campanha, Kalam News. O anúncio feito no sábado da reeleição de Ahmadinejad, em eleições que, segundo Musavi, registraram "irregularidades", provocou violentas manifestações em Teerã.

Segundo a rede de TV CNN, Moussavi não chegou a ser formalmente detido, como chegou a ser noticiado por alguns veículos de comunicação iranianos e israelenses. A reportagem diz, entretanto, que não há informações seguras sobre a situação dele no momento, e que ele poderia estar em alguma forma de prisão domiciliar.

Minutos depois que a carta foi publicada, o site de Moussavi foi censurado.

Os protestos de sábado provocaram violentos enfrentamentos entre manifestantes e policiais em Teerã. A capital não vivia atos de violência desta magnitude desde os distúrbios estudantis de julho de 1999.

A eleição tornou evidentes as profundas divisões do país. Ahmadinejad tem seu principal apoio no coração rural do país e entre os pobres, enquanto as grandes cidades, os jovens e as mulheres são a base de Musavi.

A reeleição frustrou as esperanças ocidentais de uma mudança na cúpula do poder iraniano, após quatro anos de tensões devido às supostas intenções de Ahmadinejad de produzir a arma atômica na República Islâmica e por seu discurso contra Israel.

Relações internacionais


Em suas declarações deste domingo, o presidente reiterou a sua rejeição em iniciar as negociações nucleares, assegurando que esse debate "é coisa do passado". O programa nuclear iraniano é a principal preocupação dos países ocidentais. A maior parte desses países se demonstrou preocupada com o resultado da eleição e com os protestos que acontecem desde então.

O vice-presidente norte-americano Joe Biden disse que há "uma enorme dúvida" sobre o resultado das eleições iranianas. França e Alemanha expressaram sua preocupação com a violenta repressão dos protestos. Israel pediu que se ponha fim "ao terrorismo iraniano".

Os países e movimentos amigos do Irã -Síria, Venezuela, o movimento islâmico palestino Hamas e o Hezbollah libanês- felicitaram o atual presidente iraniano por sua reeleição.
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