Será que a creche é a melhor solução para o desenvolvimento de crianças com idade entre 0 e 3 anos? Este foi o questionamento levantado pelo pesquisador Ricardo Paes de Barros, do Instituto Pesquisa e Economia Aplicada (Ipea), na Conferência Global sobre Desenvolvimento na Primeira Infância.
De acordo com Paes de Barros, menos de 40% das crianças no Brasil, mesmo entre as famílias mais ricas, estão em creches. Ele lembrou que o Programa Infância Melhor (PIM), que vem sendo aplicado desde 2003 no Rio Grande do Sul, pode ser uma solução tão eficaz quanto as creches do ponto de vista do desenvolvimento da criança e a um custo menor.
Com o PIM a criança permanece sob os cuidados da família, que é acompanhada por um visitador que monitora todas as condições para que a criança receba atenção e cuidados educacionais de qualidade. As famílias recebem uma ajuda do estado.
“Com este programa, hoje o Rio Grande do Sul tem um acompanhamento universal de todas as crianças, principalmente a de famílias pobres do estado. E não apenas dos 25% de bebês que estão matriculados nas creches. Ou seja, é possível fazer um acompanhamento universal de todas as crianças”, disse o pesquisador.
Paes de Barros está a frente de um estudo que, desde 2007, vem acompanhando o desenvolvimento de cerca de 4.500 crianças de cem creches das cerca 250 instituições públicas do Rio. Num primeiro levantamento, ele descobriu que os pais consideram uma boa creche a instituição que atende basicamente suas necessidades de horário, férias e fins de semana.
“Os pais não levam em consideração o desenvolvimento da criança. Fizemos uma pesquisa com 470 itens de avaliação e constatamos que o valor a ser pago deve levar em conta a evolução da criança. É preciso verificar se essa crianças está sendo bem atendida e está se desenvolvendo de acordo com sua idade ou sofrendo algum atraso”, destacou o pesquisador.
Paes de Barros destacou que não existem estudos conclusivos sobre o impacto que a creche ou programas como o PIM exercem sobre o desenvolvimento das crianças ou sobre o bem-estar dos pais. E que essa discussão deve ser levada adiante.
“Os primeiros resultados da pesquisa com as crianças das creches do Rio só deverá sair em um anos. Mas até lá fica a discussão: em que medida esses dois direitos – o da mãe de trabalhar ou estudar – e o da crianças – de ser bem atendida e desenvolvida - deve pesar. O PIM é voltado para o bem-estar da criança, enquanto que a creche atende melhor as necessidades dos pais. Temos de encontrar uma solução para resolver esse conflito”, disse Paes de Barros após a conferência.
O evento que prossegue até sexta-feira (19), está sendo realizado em Copacabana, na Zona Sul do Rio, é promovido pela prefeitura e pelo Banco Mundial.
