O financiamento público para a rainha Elizabeth 2ª e a família real britânica custou a cada contribuinte o equivalente a 69 pence (R$ 2,21) no ano passado, de acordo com as contas publicadas nesta segunda-feira. Mas a rainha teve de recorrer a um fundo de reserva para pagar as despesas da família, e funcionários reais esperam um aumento do financiamento público para poder fazer reformas na principal residência da monarca.

O gabinete da rainha informou que os custos anuais relacionados à família real foram de 41,5 milhões de libras (R$ 133 milhões) até 31 de março, um aumento de 1,5 milhão de libras (R$ 4,8 milhões) em relação ao ano anterior.

Isso significa que sustentar a família real britânica custou aos contribuintes 3 pence (R$ 0,10) a mais no ano passado. O governo cobre as despesas dos compromissos oficiais da família real em troca da renúncia da rainha às receitas das propriedades do Crown Estate (Domínio da Coroa), as propriedades imobiliárias historicamente em poder dos monarcas britânicos, e de outras fontes hereditárias, que atingiram 211 milhões de libras (R$ 676 milhões) em 2007.

O dinheiro público é usado para pagar as despesas de viagem e de funcionamento e de pessoal das residências usadas pela família real, incluindo o palácio de Buckingham, onde mora a rainha.

Sir Alan Reid, tesoureiro da rainha, disse que as despesas de viagem aumentaram porque poucas aeronaves Força Aérea estiveram disponíveis, o que significa que os membros da família real precisaram fretar aviões comerciais para visitas ao exterior, muitas vezes para viagens rápidas.

Os números mostram que as despesas de viagem subiram de 6,2 milhões de libras (R$ 19,5 milhões) para 6,5 milhões de libras (R$ 20,8 milhões). A rainha visitou a Eslovênia e a Eslováquia, no ano passado, enquanto o príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, visitou mais países, incluindo o Japão e a Indonésia.

O funcionário real disse que uma reformulação do site da família real, em fevereiro, ao custo de 400 mil libras (R$ 1,3 milhão), também contribuiu para o aumento dos gastos.
Graham Smith, administrador da campanha pela República, disse que não há justificativa para os custos.

"Muito claramente, eles não têm nenhum tipo de consideração pelas finanças públicas. Não há razão para que a rainha não possa receber um salário e alguns milhões para gastar com seu pessoal", disse Smith. Ele também critica a forma de apresentação dos custos.

"Todos os anos, o serviço de imprensa do palácio tenta justificar o custo da monarquia, dividindo o número oficial por 60 milhões", disse o porta-voz do grupo antimonárquico. "Com esse tipo de contabilidade pode-se justificar praticamente qualquer coisa."

As contas mostram que a limpeza das residências reais custa 300 mil libras (R$ 961), os gastos com comida foram de 500 mil libras (R$ 1,6 milhão) e festas no jardim custaram 400 mil libras (R$ 1,3 milhão).

Os custos de segurança para a família real, fornecida pela polícia e pelo Exército, não são incluídos nas contas.

Os dados divulgados mostram que a rainha teve de utilizar dinheiro de um fundo de reserva para complementar a verba fornecida pelo governo.

Em conformidade com um acordo fechado em 1991, a rainha recebe 7,9 milhões de libras (R$ 25,3 milhões) de dinheiro público a cada ano para pagar as despesas básicas, incluindo as despesas de pessoal.

As contas mostram que ela utilizou outros 6 milhões de libras (R$ 19,2 milhões) de um fundo de reserva -- acumulado ao longo de várias décadas com parte do orçamento.

Os parlamentares e a rainha vão negociar o orçamento real novamente em 2010, quando ela provavelmente vai pedir um aumento no financiamento básico.

Se a rainha continuar a utilizar o dinheiro do seu fundo de reserva no ritmo atual, ela vai ficar sem fundos em 2012 --o ano em que ela deve comemorar seu 60º de reinado.

O governo teria de aumentar em 4 milhões de libras a verba repassada à família real apenas para evitar atrasos na manutenção dos palácios, disse um alto funcionário do palácio de Buckingham.

Em consequência da insuficiência dos fundos, a rainha enfrenta uma longa espera para ordenar reparos no telhado do palácio de Buckingham. Também há, segundo ele, uma década de atraso na substituição dos sistemas de aquecimento e de eletricidade no palácio.

Mas com o Reino Unido em meio à mais grave desaceleração econômica em 60 anos, pode ser difícil para o governo justificar o envio de mais dinheiro dos contribuintes para a realeza.

Uma comissão parlamentar afirmou, no início deste mês, que a rainha deveria abrir o palácio de Buckingham mais frequentemente aos turistas para ajudar a arrecadar dinheiro para reparos, uma recomendação que os funcionários reais estão estudando.

Segundo o ranking da revista Forbes de 2008, a rainha Elizabeth 2ª era a 12º monarca mais rica do mundo, com uma fortuna de pouco mais de US$ 600 milhões.