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Terça-feira, 23 de julho de 2024

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Padre Beto de Bauru comenta cena de excomunhão em Saramandaia

No último capítulo da novela Saramandaia, exibido pela Rede Globo na noite de sexta-feira (27), o padre Romeu foi excomungado pela igreja católica por celebrar o casamento entre um lobisomem e uma prostituta, contrariando as normas instituídas pela região. A cena da ficção escrita pelo autor Ricardo Linhares, inédita na versão da trama deste ano, lembrou o caso real de Padre Beto, expulso pela Diocese de Bauru (SP), no último mês de abril, acusado de heresia e cisma.


Linhares afirmou ao site do jornal O Globo que a cena foi apenas uma entre os desfechos diferentes que exibidos no decisivo capítulo. Já para a TVG, da Globo.com, o autor fez um balanço da novela, que também contou com vários elementos da sociedade atual. Em Saramandaia de 2013, ele manteve a essência dos personagens surreais, mas deu consistência psicológica às suas motivações e à inserção em uma trama contemporânea. “Eu usei os personagens com diferenciais para abordar a dificuldade que a maioria das pessoas tem em aceitar e respeitar os que fogem dos padrões, dos comportamentos tipos como usuais”.

Na novela, padre Romeu, interpretado pelo autor Maurício Tizumba, foi excomungado após realizar um casamento nada convencional, entre um lobisomem e uma prostituta. Na vida real, a Diocese de Bauru expulsou padre Beto depois que ele publicou em redes sociais declarações polêmicas sobre temas, como a homossexualidade, fidelidade e a necessidade de mudanças na estrutura da igreja católica.

Para o religioso bauruense, a cena da excomunhão em Saramandaia mostrou um dos lados negativos da cúpula católica. “Ele tentou trazer para a novela fatos mais atuais, não é só um quadro da igreja católica, como o da excomunhão. Mas, também uma forma de expressar solidariedade com a gente”, disse.

A assessoria do autor Ricardo Linhares informou que a cena da excomunhão foi inspirada em vários acontecimentos reais, sem citar especificamente o caso de padre Beto. No entanto, Linhares ressaltou que encarou um desafio ao adaptar uma novela escrita há mais de 35 anos. “Não ficou nada anacrônico ou datado. Tanto na forma quanto no conteúdo, foi uma novela ousada e moderna, que refletiu o mundo em que vivemos hoje, abordando assuntos relevantes da atualidade. Em momento algum foi uma obra convencional. Sinto-me recompensado por ter abordado a discriminação, o combate ao preconceito e a busca por respeito, aceitação e liberdade”.

Mesmo sem confirmar, a cena inédita de Saramandaia pode ter tido uma relação com o caso de padre Beto, o mais recente sobre o assunto dentro da igreja católica no Brasil. Segundo o pároco bauruense, foi um reconhecimento e mais uma amostra de que temas polêmicos precisam ser discutidos com a sociedade. “Fiquei sabendo porque um amigo me contou. O autor Ricardo Linhares não entrou em contato comigo. Mas fiquei super feliz e honrado. Quando saiu a novela Roque Santeiro, na década de 1980, o autor também colocou na novela assuntos polêmicos entre a igreja conservadora e progressista da época”, completou.

Padre na Justiça
A excomunhão de padre Beto pela Diocese de Bauru foi parar na Justiça. Os advogados de defesa já tiveram um pedido de medida cautelar negado. Agora, eles preparam a ação principal com a argumentação de que o padre não teve direito de defesa no processo de excomunhão.

“Estamos preparando a ação principal com provas de que houve um processo de excomunhão sem nenhuma possibilidade de defesa. Se for preciso vamos recorrer ao Papa para ter o direito de defesa. Agora é jogo duro”, informou um dos advogados de padre Beto, Tito Costa.

De acordo com o religioso de Bauru, nenhuma instituição pode fazer isso com uma pessoa. “Me senti um adolescente em um internato. Quero voltar a celebrar missas. Não deixei de ser padre. Não foi uma decisão minha. Continuo me sentindo um padre”, avisou.

A polêmica envolvendo o religioso começou em 23 de abril, quando a Diocese de Bauru divulgou uma nota em que pedia a retratação do padre por causa de vídeos e comentários publicados por ele nas redes sociais em que, segundo a Diocese, o padre ia de encontro às doutrinas da Igreja Católica. Quatro dias depois, o religioso anunciou que deixaria de exercer suas funções como padre. Mesmo após a renúncia do padre, a Diocese comunicou a excomunhão dele.
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