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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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'Mentiu', diz advogado sobre audiência com sobrinho de sócio da Kiss

Sobrevivente do incêndio na boate Kiss e sobrinho de Elissandro Spohr, o Kiko, um dos sócios da casa noturna em Santa Maria, Wilian Renato Machado prestou depoimento na manhã desta sexta-feira (29), no Foro Central de Porto Alegre. Segundo Jonas Stecca, advogado da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), que acompanhou toda a audiência, o jovem mentiu em diversos pontos do depoimento.

"Com certeza, ele mentiu. Até porque não tinha a obrigação de dizer a verdade por ser parente do réu e ter sido arrolado como vítima pela defesa", disse Jonas Stecca. Já a defesa de Kiko, através do advogado Jader Marques, disse que a acusação, toda a vez que tem seus interesses contrariados pelos depoimentos, acusa o depoente de mentiroso.
Um dos pontos citados pelo advogado da AVTSM é sobre a utilização de artefatos pirotécnicos em apresentações musicais dentro da boate Kiss. No depoimento, a testemunha arrolada pela defesa disse que, na noite do incêndio, foi a primeira vez que viu fogos de artifício serem usados dentro da Kiss.
"A gente sabe que isso não é verdade. Os próprios músicos dizem que usaram artefatos pirotécnicos em outras oportunidades. No vídeo da banda, aparece o Kiko cantando e as labaredas ao lado. Isso é uma coisa que a defesa insiste, que o Kiko não sabia da utilização dos artefatos pirotécnicos, quando todos sabem que era uma praxe na boate a utilização de fogos durante os shows musicais", disse o advogado da AVTSM.
Wilian Renato Machado foi ouvido pelo juiz Ulysses Louzada na condição de vítima, pois estava na casa noturna na noite do incêndio. O advogado Jader Marques, que defende Kiko Spohr, disse que os depoimentos estão acabando com os argumentos levantados pela acusação.
"Cada vez mais está ficando evidente que a versão da acusação não se sustenta. Sejam pessoas conhecidas do Kiko ou pessoas ligadas a ele, alguns aspectos da acusação já foram completamente afastados com os depoimentos das vítimas. E toda a vez que isso acontece, o depoente é tomado como mentiroso pela acusação", disse Jader Marques.

Conforme o relatório elaborado pela Polícia Civil sobre o caso, um ex-funcionário da Kiss afirmou que o sobrinho de Kiko era responsável por gerenciar listas de aniversariantes para festas na casa noturna. O depoente confirmou apenas que ajudava na divulgação das festas pelas redes sociais, conforme a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do estado.
Wilian Renato Machado negou também a superlotação da boate. No entender dele, conforme relatou o juiz Ulysses Louzada, o ambiente estava confortável.
Com base em documentos oficiais da Justiça, o advogado da AVTSM entregou ao juiz Ulysses Louzada no final da audiência realizada nesta sexta-feira um requerimento pedindo a atualização do endereço de Kiko Spohr no processo.
"É preciso informar o endereço que o réu está residindo no processo, pois isso era uma condição para que ele fosse solto. O endereço que consta no processo é o endereço do escritório do advogado dele, onde já houve diligências e ele não foi encontrado, pois certamente ele não mora lá. Pedi que o juiz intime a defesa do réu no processo, sob pena do pedido de prisão preventiva ser decretado", disse Jonas Stecca.
Jader Marques disse que irá questionar o juiz sobre a possibilidade das intimações serem feitas no seu escritório. Segundo ele, caso a Justiça determine sigilo total no processo, o advogado da AVTSM não poderá mais ter acesso ao processo.
Jonas Stecca disse que Jader Marques apresentou uma proposta por escrito à Justiça requerendo a retomada das oitivas dos mais de 600 sobreviventes da tragédia na boate Kiss. Conforme o advogado da AVTSM, esta situação já foi decidida pelo juiz e não teria a necessidade de todos os depoimentos. Jader Marques diz que, se isso não ocorrer, todo o processo pode ser anulado.
"Caso o juiz não ouça as vítimas, o processo poderá, depois de longa tramitação, ser anulado. O advogado da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria assumirá a responsabilidade pela anulação do processo?', questiona Jader Marques.

No último dia 22, a namorada de Kiko, Nathalia Daronch, participou de uma audiência marcada por gritos de familiares de vítimas do incêndio. Ela afirmou ter sido ofendida durante o intervalo da sessão, e uma das mães de jovens que morreram na boate que acompanhavam a sessão jogou moedas na jovem e a acusou de mentir. Em seguida, outros pais também gritaram com a jovem.
O advogado de Kiko, Jader Marques, fez um requerimento pedindo a Louzada que as audiências com sobreviventes da tragédia fossem realizadas a portas fechadas. Novos protestos de familiares de vítimas foram registrados após a manifestação. Nathalia chorou ao ouvir acusações de pessoas que perderam seus filhos, e pediu ao júri para prestar depoimento sem presença do público. Na primeira parte da audiência, ela havia defendido que não achava justo Kiko ser tratado como um assassino.
"Não queríamos que nada disso tivesse acontecido, ninguém ganhou com isso. Ficamos muito tristes de estar sentados no sofá vendo TV com a nossa filha e ver pessoas chamando ele de ganancioso, assassino", disse Nathalia.
A namorada de Kiko repetiu diversas vezes que o trabalho de resgate do Corpo de Bombeiros no dia da tragédia não foi suficiente. Nathalia afirmou que não viu nenhuma pessoa vestida adequadamente para o combate ao fogo. Sobre a reforma da boate Kiss com espuma, onde o fogo se espalhou e gerou a fumaça tóxica no interior da casa noturna, Nathalia afirmou que foram engenheiros que insistiram na colocação do material.
"Na reforma não tinha espuma. Mesmo com todo o gasto, os vizinhos reclamavam do barulho. O engenheiro só resolveria se tivesse as espumas. Eles falaram que só a espuma resolveria o problema. O Kiko era resistente a esse material", declarou.

Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, na madrugada de domingo, dia 27 de janeiro, resultou em 242 mortes. O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco.
O inquérito policial indiciou 16 pessoas criminalmente e responsabilizou outras 12. Já o MP denunciou oito pessoas, sendo quatro por homicídio, duas por fraude processual e duas por falso testemunho. A Justiça aceitou a denúncia. Com isso, os envolvidos no caso viram réus e serão julgados. Dois proprietários da casa noturna e dois integrantes da banda foram presos nos dias seguintes à tragédia, mas a Justiça concedeu liberdade provisória aos quatro em 29 de maio.
Veja as conclusões da investigação
- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso no palco
- As faíscas atingiram a espuma do teto e deram início ao fogo
- O extintor de incêndio do lado do palco não funcionou
- A Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás
- Havia superlotação no dia da tragédia, com no mínimo 864 pessoas
- A espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular
- As grades de contenção (guarda-corpos) obstruíram a saída de vítimas
- A casa noturna tinha apenas uma porta de entrada e saída
- Não havia rotas adequadas e sinalizadas de saída em casos de emergência
- As portas tinham menos unidades de passagem do que o necessário
- Não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas
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