Olhar Direto

Quinta-feira, 02 de maio de 2024

Notícias | Mundo

"Arquiteto" da Guerra do Vietnã, McNamara passou anos tentando apagar erros do conflito

Robert S. McNamara, tido com um dos secretários de Estado americanos mais influentes do século 20, morreu nesta segunda-feira aos 93 anos, em sua casa em Washington. Intrinsecamente ligado à Guerra do Vietnã (1959-1975), pela qual foi considerado responsável, ele passou o resto da vida tentando apagar as consequências morais do conflito --e da derrota dos americanos.


Segundo a mulher de McNamara, Diana, ele sofria com problemas do coração há algum tempo e morreu dormindo, às 5h30.

McNamara foi secretário de Defesa por sete anos, entre 1961 e 1968, nas administrações dos presidentes John F. Kennedy (1961-1963) e Lyndon Johnson (1963-69). durante este período, supervisionou centenas de missões militares, milhares de armas nucleares e bilhões de dólares em gastos militares de um dos países mais belicosas do mundo.

Foi graças a McNamara, afirma o jornal "The New York Time", que o secretário de Estado ampliou sua atuação em Washington, ganhando força em temas de diplomacia internacional e coordenação de tropas para reforço de direitos civis.

Já em abril de 1964, lembra o jornal, o senador Wayne Morse, um democrata do Oregon, chamou a Guerra do Vietnã de "Guerra de McNamara". O então secretário não rejeitou o título e afirmou estar orgulhoso de ser identificado com a guerra. Anos depois, ele chegou a admitir que, assim como outras pessoas do governo americano, errou ao promover o conflito.

Mas não demorou tanto para que McNamara descobrisse que a guerra seria não um motivo de orgulho, mas seu próprio pesadelo pessoal --um pesadelo que tentou por anos esquecer. Nada que pudesse fazer mudaria o destino do conflito, a retirada das tropas americanas em uma derrota vangloriada pelos vietnamitas.

Depois de deixar o Pentágono --quando estava à beira de um colapso nervoso--, em 1968, ele se tornou presidente do Banco Mundial e devotou suas energias à crença de que melhorar a vida de comunidades rurais existentes em países em desenvolvimento era um caminho mais promissor à paz do que a construção de armas e exércitos. Um legado positivo que não evitou, contudo, que sua morte fosse reportada por todos como o fim da vida do "arquiteto" da Guerra do Vietnã.

Memórias

Uma pessoa reservada, por muitos anos o ex-secretário da Defesa se recusou a escrever suas memórias. Mas, no início da década de 90, ele começou a se abrir.

Em 1991, ele disse à revista americana "Time" que não acreditava que o bombardeamento do Vietnã --a maior campanha do tipo na a história até aquele momento-- iria funcionar mas que ele continuou com a operação "porque ele tinha que tentar provar que não iria funcionar, número um, e [porque] outras pessoas achavam que iriam funcionar".

Finalmente, em 1993, após o final da Guerra Fria, ele se comprometeu a escrever suas memórias porque algumas das lições do Vietnã eram aplicáveis ao período, segundo ele.

"In Retrospect: The Tragedy and Lessons of Vietnam" ("Em Retrospecto: A Tragédia e as Lições do Vietnã", em tradução livre), foi publicado em 1995.

No livro, McNamara revelou que até 1967 ele tinha dúvidas profundas sobre o Vietnã --até então ele havia perdido a fé na capacidade americana de vencer uma insurgência guerrilheira que havia levado os franceses a sair do mesmo países.

Apesar dessas dúvidas, ele continuou a expressar confiança que a aplicação de suficiente poder de fogo americano poderia levar os comunistas a fazer a paz.

Naquele período, o número de soldados dos EUA mortos, desaparecidos ou feridos passou de 7.466 para mais de 100 mil.

"Nós, das administrações [John F.] Kennedy e [Lyndon] Johnson, agimos de acordo com que o pensávamos ser os princípios e tradições de nosso país. Mas estávamos errados. Estávamos terrivelmente errados", disse McNamara em um entrevista na época à agência de notícias Associated Press.

Guerras


McNamara esteve entre ex-secretários de Defesa e de Estado que em 2006 se reuniram duas vezes com o presidente George W. Bush (2001-2009) para discutir as políticas da guerra do Iraque.

Na administração de Kennedy, ele foi uma das figuras principais na desastrosa invasão da Baía dos Porcos, em abril de 1961, e na crise dos mísseis cubanos, 18 meses mais tarde.

McNamara serviu como presidente do Banco Mundial por 12 anos. Ele triplicou os empréstimos da instituição para países em desenvolvimento e mudou sua ênfase de projetos industriais grandiosos para desenvolvimento rural.

Após se aposentar, em 1981, ele encampou as causas do desarmamento nuclear e da ajuda pelos países ricos para os mais pobres.
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 
xLuck.bet - Emoção é o nosso jogo!
Sitevip Internet