Robert S. McNamara, tido com um dos secretários de Estado americanos mais influentes do século 20, morreu nesta segunda-feira aos 93 anos, em sua casa em Washington. Intrinsecamente ligado à Guerra do Vietnã (1959-1975), pela qual foi considerado responsável, ele passou o resto da vida tentando apagar as consequências morais do conflito --e da derrota dos americanos.
Segundo a mulher de McNamara, Diana, ele sofria com problemas do coração há algum tempo e morreu dormindo, às 5h30.
McNamara foi secretário de Defesa por sete anos, entre 1961 e 1968, nas administrações dos presidentes John F. Kennedy (1961-1963) e Lyndon Johnson (1963-69). durante este período, supervisionou centenas de missões militares, milhares de armas nucleares e bilhões de dólares em gastos militares de um dos países mais belicosas do mundo.
Foi graças a McNamara, afirma o jornal "The New York Time", que o secretário de Estado ampliou sua atuação em Washington, ganhando força em temas de diplomacia internacional e coordenação de tropas para reforço de direitos civis.
Já em abril de 1964, lembra o jornal, o senador Wayne Morse, um democrata do Oregon, chamou a Guerra do Vietnã de "Guerra de McNamara". O então secretário não rejeitou o título e afirmou estar orgulhoso de ser identificado com a guerra. Anos depois, ele chegou a admitir que, assim como outras pessoas do governo americano, errou ao promover o conflito.
Mas não demorou tanto para que McNamara descobrisse que a guerra seria não um motivo de orgulho, mas seu próprio pesadelo pessoal --um pesadelo que tentou por anos esquecer. Nada que pudesse fazer mudaria o destino do conflito, a retirada das tropas americanas em uma derrota vangloriada pelos vietnamitas.
Depois de deixar o Pentágono --quando estava à beira de um colapso nervoso--, em 1968, ele se tornou presidente do Banco Mundial e devotou suas energias à crença de que melhorar a vida de comunidades rurais existentes em países em desenvolvimento era um caminho mais promissor à paz do que a construção de armas e exércitos. Um legado positivo que não evitou, contudo, que sua morte fosse reportada por todos como o fim da vida do "arquiteto" da Guerra do Vietnã.
Memórias
Uma pessoa reservada, por muitos anos o ex-secretário da Defesa se recusou a escrever suas memórias. Mas, no início da década de 90, ele começou a se abrir.
Em 1991, ele disse à revista americana "Time" que não acreditava que o bombardeamento do Vietnã --a maior campanha do tipo na a história até aquele momento-- iria funcionar mas que ele continuou com a operação "porque ele tinha que tentar provar que não iria funcionar, número um, e [porque] outras pessoas achavam que iriam funcionar".
Finalmente, em 1993, após o final da Guerra Fria, ele se comprometeu a escrever suas memórias porque algumas das lições do Vietnã eram aplicáveis ao período, segundo ele.
"In Retrospect: The Tragedy and Lessons of Vietnam" ("Em Retrospecto: A Tragédia e as Lições do Vietnã", em tradução livre), foi publicado em 1995.
No livro, McNamara revelou que até 1967 ele tinha dúvidas profundas sobre o Vietnã --até então ele havia perdido a fé na capacidade americana de vencer uma insurgência guerrilheira que havia levado os franceses a sair do mesmo países.
Apesar dessas dúvidas, ele continuou a expressar confiança que a aplicação de suficiente poder de fogo americano poderia levar os comunistas a fazer a paz.
Naquele período, o número de soldados dos EUA mortos, desaparecidos ou feridos passou de 7.466 para mais de 100 mil.
"Nós, das administrações [John F.] Kennedy e [Lyndon] Johnson, agimos de acordo com que o pensávamos ser os princípios e tradições de nosso país. Mas estávamos errados. Estávamos terrivelmente errados", disse McNamara em um entrevista na época à agência de notícias Associated Press.
Guerras
McNamara esteve entre ex-secretários de Defesa e de Estado que em 2006 se reuniram duas vezes com o presidente George W. Bush (2001-2009) para discutir as políticas da guerra do Iraque.
Na administração de Kennedy, ele foi uma das figuras principais na desastrosa invasão da Baía dos Porcos, em abril de 1961, e na crise dos mísseis cubanos, 18 meses mais tarde.
McNamara serviu como presidente do Banco Mundial por 12 anos. Ele triplicou os empréstimos da instituição para países em desenvolvimento e mudou sua ênfase de projetos industriais grandiosos para desenvolvimento rural.
Após se aposentar, em 1981, ele encampou as causas do desarmamento nuclear e da ajuda pelos países ricos para os mais pobres.