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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

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Baixa procura por mão de obra dificulta saída de imigrantes no Acre

Há um mês o haitiano Thelot Abelandy, de 26 anos, chegou ao abrigo de imigrantes, localizado na cidade de Brasiléia, em busca de uma vida melhor e emprego no Brasil. Com o passar dos dias e a falta de empresas a procura de empregados, ele começou a se preocupar. "Não quero ficar aqui [no abrigo], quero conseguir trabalho pra mandar dinheiro pra minha família", diz.


Mesmo com todos os documentos, ele não consegue sair do abrigo. Thelot conta que deixou para trás a esposa e o filho, fez o caminho mais usado pelos imigrantes haitianos que chegam ilegalmente no país. O percurso inicia na capital do Haiti, Porto Príncipe. De lá, os imigrantes vão de ônibus até Santo Domingo, capital da República Dominicana, que fica na mesma ilha. Compram uma passagem de avião e vão até o Panamá. Da Cidade do Panamá, seguem de avião ou de ônibus para Quito, no Equador.

Por terra, vão até a cidade fronteiriça peruana de Tumbes e passam por Piura, Lima, Cuzco e Puerto Maldonado até chegar a Iñapari, cidade que faz fronteira com Assis Brasil (AC), por onde passam até chegar à Brasiléia.
"Eu passei por muito problemas, não tinha comida, tiraram meu dinheiro, meus sapatos, me tiraram tudo no caminho. Eu tive que pedi para o meu pai por mais dinheiro, para conseguir chegar até o Brasil", lembra Thelot.
O estudante de Ciências Econômicas Saint Victor Frantzno, de 25 anos, também abandou o Haiti. Ele diz, emocionado, que espera encontrar a irmã, que já mora no Brasil. "Não sei o nome do estado, mas falei com ela por telefone. Todo o resto da minha família ficou no Haiti. Minha mãe já faleceu, mas meu pai e meus irmãos estão lá", conta.

Ele espera conseguir um emprego e retornar os estudos. "Trabalho no Haiti não é impossível, mas é muito difícil. Meu pai me ajudou a pagar meus estudos, a comer, pagou tudo. Eu quero ajudar a mim mesmo e meu irmão", diz

Saint explica que decidiu ir pelo caminho ilegal porque, mesmo com as dificuldades do percurso, é mais rápido do que pela embaixada, mas até agora não sabe se tomou a decisão mais sábia. "Eu paguei o dinheiro e vim. É difícil conseguir o visto no Haiti, é muito difícil. Eu escolhi esse caminho porque é mais fácil. Não sei se foi a melhor decisão, viver aqui é muito difícil, dormir, comer, é tudo difícil", afirma.

Falta de empresas
O secretário de Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, explica que a crise enfrentada neste início de ano é diferente do que ocorreu em 2013. A falta de empresas em busca da mão de obra dos imigrantes estaria diminuindo o fluxo de saída, enquanto um número alto de pessoas estão entrando pelas fronteiras.
"No ano passado, os imigrantes se acumularam porque a Polícia Federal, a Receita e o Ministério do Trabalho não davam conta de documentá-los. Agora a documentação está fluindo normalmente, o problema são as instalações e o contingente de imigrantes que estão chegando em um número assustador. Não temos como abrigá-los, a não ser que passemos a edificar, readaptar dois ou três novos abrigos", explica.

O secretário conta ainda que as empresas que procuram contratar imigrantes diminuem a procura de contratações nesta época do ano, o que dificulta a saída dos imigrantes para outras partes do país. "As empresas param de contratar no final do ano, é período de férias, planejamento, tradicionalmente elas começas a trabalhar de forma continuada a partir de março", diz.

Damião Borges é coordenador do abrigo de imigrantes em Brasiléia. Há anos ele trabalho no abrigo e explica que muitas empresas desistiram de contratar imigrantes durante, principalmente na área de construção. Ele acredita que muitas empresas não estão vendo mais vantagens nesse tipo de contratação.
"As empresas também dizem que de 10 que eles levam, cinco desistem do trabalho com 30 ou 60 dias. Aí elas ficam retraídas. Diminuiu por esse fator. Mas ainda tem procura, essa semana embarquei 150 trabalhadores para uma empresa do Rio Grande do Sul. Nos últimos dois anos, mais de 300 empresas já vieram buscar imigrantes. Ultimamente vem mais na área industrial, abatedores de carnes bovinas, aves e suínas. A construção parou de vir buscar", diz
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