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Domingo, 21 de julho de 2024

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Carcereiro diz que 75 estavam mortos no Carandiru antes de PM entrar

O carcereiro Francisco Carlos Leme afirmou nesta terça-feira (18) que 75 presos já estavam mortos antes da entrada da Polícia Militar no Pavilhão 9 do presídio do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo, no dia do massacre que deixou 111 mortos em 1992. “Aproximadamente 75. Pode ser mais, pode ser menos”, afirmou em depoimento no segundo dia de julgamento de 15 policiais. Trata-se da terceira etapa do julgamento – outros 48 PMs já foram condenados.


O carcereiro compareceu ao Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste, como testemunha de defesa. Ele afirmou que "muitos" presos tinham ferimentos de armas brancas e as brigas eram comuns no pavilhão. “Essa rebelião foi por causa do tráfico”, disse.


Ainda segundo ele, era comum haver armas brancas nas celas, feitas com peças retiradas de janelas. As informações foram bastante exploradas pelo advogado que defende os PMs, Celso Vendramini, que questionou detalhes sobre como as armas entravam no presídio, onde eram feitos os acertos de contas entre os presos, etc.

Francisco Carlos Leme afirmou que pelo menos 50 presos morreram no primeiro pavilhão. Inicialmente, disse que vários tinham ferimentos de armas brancas, mas depois disse que era difícil dizer já que os presos estavam vestidos. Ele contou que apenas viu os presos nus ao serem retirados do pavilhão. O carcereiro foi o responsável pela contagem dos 111 presos que morreram em 2 de outubro daquele ano.

Os promotores Eduardo Olavo Canto e Márcio Friggi de Carvalho lembraram dois depoimentos dados à Polícia Militar e à Polícia Civil ainda em 1992, na qual não constaram informações de que havia mortos antes da chegada da PM. O carcereiro afirmou que reportou que havia visto 75 mortos à época, mas que não sabe por que o relato não foi documentado. A informação nunca esteve no processo. Disse ainda que assinou seus depoimentos sem ler.

Dos supostos 75, 50 seriam no primeiro pavilhão. No entanto, nesta terça Leme disse que não teve acesso aos outros andares e foi questionado pelos promotores onde estariam, então, todos os mortos relatados. “Eram aproximadamente 50, podia ser 25, 30”, disse o carcereiro.

Após o massacre, o carcereiro foi mudado de setor, e passou a atuar no Pavilhão 5. Hoje ele atua no Centro de Detenção Provisória de Santo André.

Antes de Leme, o ex-secretário da Segurança Pública de São Paulo Pedro Franco de Campos prestou depoimento por cerca de 15 minutos e afirmou que "havia a necessidade da intervenção da PM no Carandiru".
A testemunha de defesa disse que a informação que recebia do local era de que a intervenção era necessária. "Podendo até ficar algo sem controle", disse. O receio era que a revolta chegasse a outros pavilhões, explicou.
O grupo de 15 policiais acusado de participar do massacre começa a ser interrogado na tarde desta terça.
Primeiro júri

Outros dois julgamentos relacionados ao Massacre do Carandiru já foram realizados, com condenação de parte dos réus. No primeiro, em 21 abril do ano passado, 23 policiais militares foram condenados pela morte de 13 presos. A pena foi de 156 anos de prisão para cada um, mas eles recorrem em liberdade. Três dos 26 réus que eram julgados foram absolvidos. A sentença foi lida pelo juiz José Augusto Nardy Marzagão, que presidia o júri.
As absolvições foram pedidas pelo promotor Fernando Pereira da Silva, que também solicitou aos jurados que desconsiderassem duas das 15 vítimas inicialmente previstas no processo.

Segundo ele, esses detentos foram mortos por golpes de arma branca, o que pode significar que foram assassinados pelos próprios presos. Por isso, os 23 PMs foram condenados por 13 mortes.
Segundo júri
No dia 3 de agosto do ano passado, outros 25 policiais e ex-policiais militares foram considerados culpados de homicídio qualificado e responsabilizados por 52 mortes, sendo sentenciados a 624 anos de reclusão em regime inicialmente fechado. A sentença foi lida pelo juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo.
"Houve inequívoco abuso de poder", disse o juiz em sua sentença. Os réus, porém, puderam recorrer da sentença em liberdade. Os policiais também perderam o cargo público ainda em exercício, mas essa decisão só vai valer depois de julgados todos os recursos.

À época do massacre na Casa de Detenção, na Zona Norte da capital, os réus integravam as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), tropa de elite da Polícia Militar. Lá dentro, eles teriam efetuado mais de 300 disparos no segundo andar, terceiro pavimento, do Pavilhão 9.

O júri havia sido determinado com 29 réus. Dois deles, no entanto, morreram, um passou por avaliação de sanidade mental e outro respondeu a processo separadamente. Os policiais respondiam inicialmente por 73 mortes. Durante o julgamento, porém, o promotor Fernando Pereira pediu que os réus respondessem por 52 mortes.

Massacre

Os julgamentos do massacre no Carandiru ocorrem mais de 20 anos após a invasão na Casa de Detenção, na Zona Norte de São Paulo. A ação terminou com a morte de 111 presos após a Polícia Militar entrar no Pavilhão 9 para controlar uma rebelião.

Antes destes júris, desde 2 de outubro de 1992, somente um acusado havia sido julgado: o coronel Ubiratan Guimarães. Ele foi condenado em 2001 a 632 anos de prisão, em júri popular, por ter dirigido a operação. Em 2006, o júri foi anulado pelos desembargadores do TJ. Meses depois da absolvição, Ubiratan foi morto a tiros no apartamento onde morava, nos Jardins. O processo do Carandiru tem ao todo 57 volumes, 111 apensos e 50 mil páginas.
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