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Domingo, 21 de julho de 2024

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'A guerra comercial não tem benefício para ninguém', diz Roberto Azevêdo

O brasileiro Roberto Azevêdo ocupa um dos postos estratégicos mais importantes do mundo: ele é o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, a OMC. Hoje, ele é o responsável pelas relações comerciais entre 160 países e já mostrou sua liderança e habilidade de grande mediador, destravando negociações que estavam bloqueadas há 20 anos.


"Eu já vi negociação quebrar por causa de uma vírgula", conta ele em entrevista exclusiva para Roberto D'Avila, em Genebra. O embaixador relembra diversas negociações difíceis, como o caso do litígio do Brasil com os Estados Unidos e a Rodada de Doha. Para ele, o comércio internacional tem um impacto direto no custo vida do cidadão, por mais que ele possa não saber disso. “Atinge tudo, o sapato que ele está usando no pé", diz o embaixador.

Azevêdo nasceu em Salvador, na Bahia, tem 56 anos, e comenta que o espírito baiano continua muito presente. “Na maneira de se comportar, de ver a vida, de ter um lado um pouco mais calmo e paciente com as coisas. A vida baiana me influenciou muito”. Ele viveu até os 15 anos no estado, de lá foi fazer um intercâmbio nos Estados Unidos e na volta ficou em Brasília.

Formado em engenharia elétrica, ele só entrou na vida diplomática por causa da sua esposa, que tinha entrado no Instituto Rio Branco assim que os dois se casaram. "Essa se tornou uma opção quase que inevitável. Quando ela entrou, achei que faria bem para o casamento eu entrar também". Confira a entrevista completa no vídeo ao lado.
Vida diplomática e OMC
O primeiro posto de Azevêdo foi em Washington, onde serviu a parte econômica. Em seguida, seguiu para Montevideo, em 1991, onde acompanhou a reta final para o lançamento do Mercosul.

Ele conta que a primeira vez em Genebra foi em 1997, quando a OMC tinha apenas dois anos. A partir dessa data, o embaixador nunca deixou de estar envolvidos nos assuntos da organização, nem quando voltou para o Brasil, em 2002. Ele terminou voltando para a Suíça em 2008 e ficou até 2013 como embaixador do Brasil junto à OMC e outros organismos econômicos.

2013 foi um ano decisivo para Azevêdo, quando ele se candidatou para a direção-geral da organização. “A campanha foi muito difícil de todos os aspectos, pela própria imponderabilidade do resultado, era difícil saber se ia dar certo ou não. E foi difícil emocionalmente”, comenta ele.

Para colher apoio, o brasileiro conta que percorreu mais de 40 países em 60 dias. Azevêdo explica que era importante ter o apoio da maioria dos membros e também dos grandes, ainda que no sentido de não-rejeição.
Para o embaixador, o comércio internacional tem um impacto direto no custo vida do cidadão, por mais que ele possa não saber disso. “Atinge tudo, o sapato que ele está usando no pé, quando ele vai no supermercado e vê que tem carne ou não, o preço da passagem aérea. Tudo. A vida do cidadão comum é afetada pelo que nós fazemos aqui no dia a dia”.
Arte da negociação

“A negociação multilateral é um tabuleiro de xadrez, e como em qualquer jogo, você não pode ignorar nenhuma das peças. Qualquer peão, pode reverter a posição do tabuleiro inteiro. É importante ter uma estratégia de jogo, que você pense em todos os movimentos, e não só os imediatos, e pensar que aquele movimento terá consequências durante anos”, conta Azevêdo.

O brasileiro destaca que é importante ter credibilidade, caráter, saber o tom e o tempo exato de falar, como usar a psicologia. "Eu digo sempre que 20% está no processo, na maneira como você negocia, 20 % no teor, na substância da negociação, e 60% é psicologia, como você fala e apresenta uma situação", diz Azevêdo. Ele lembra ainda que é essencial entender a cultura do interlocutor com quem você está lidando.

Roberto Azevêdo ressalta que há uma maior percepção global de que a cooperação na área econômica e comercial é o melhor caminho e fala que os países tem aos poucos evitados políticas unilaterais e com o cunho revanchista. 'A guerra comercial não tem benefício para ninguém', diz o embaixador.
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