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Sábado, 20 de julho de 2024

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‘Ele venceu sozinho', diz irmã de ex-usuário de crack que virou modelo

Foto: (Foto: Adriano Lugoli/Arquivo Pessoal)

Adriano Lugoli mudou de vida após sair das drogas

Adriano Lugoli mudou de vida após sair das drogas

Ele vivia nas ruas de Uberlândia, era viciado em crack, sofria e fazia muita gente sofrer. Hoje, o uberlandense Adriano Lugoli, de 34 anos, mora em Brasília e trocou as drogas pelas passarelas, o sorriso ganhou forma e a família tem orgulho. As mudanças levaram tempo, mas a irmã do modelo garante: "ele venceu sozinho".


A enfermeira Ana Cláudia de Lima e Freitas, de 41 anos, conversou com o G1 e não escondeu a satisfação de ver o irmão em revistas, nas telinhas e até desfilando por aí. “É muito gratificante. Sempre quis que ele ficasse bem, estudasse e trabalhasse”, disse.

Ela relembrou que na época em que Adriano Lugoli morava no Triângulo Mineiro tentou por diversas vezes sair do “mundo das drogas” e encarar algo novo, mas as recaídas e os altos valores investidos em tratamento acabavam fazendo com que ele desistisse.

Segundo Ana Cláudia, o irmão passou por algumas casas de recuperação, mas a chance de sair de Uberlândia aconteceu depois de um “empurrãozinho” dela.

“Eu estava sentada dentro de um ônibus quando vi um rapaz falando de um local de recuperação para usuários de drogas em Brasília. Foi coincidência, mas achei interessante. Lá não era necessário pagar nenhum valor pela internação e isso era um ponto positivo, visto que na época estávamos sem condições para arcar com mais despesas. E como era uma casa evangélica ele podia também estabelecer mais contato com a própria fé”, relembrou.

Na época, quando desceu do ônibus, Ana Cláudia sabia o que tinha que fazer. Ela conseguiu uma folga no trabalho e levou o irmão para o Distrito Federal. “Não foi fácil, mas ele conseguiu vencer. Lembro que como ele sempre foi muito grudado na nossa mãe às vezes ele vinha para Uberlândia, passava algum tempo, mas retornava a Brasília. Lá ele se destacou, conseguiu trabalhar, foi crescendo e com força de vontade chegou aonde está”, complementou.

Foi em 2005 que Adriano Lugoli deixou de vez Minas Gerais e conseguiu, talvez pela primeira vez, caminhar sozinho e seguro. Ele ficou seis meses na casa de recuperação. “Ele é o caçula e teve a chance de escolher um novo caminho e foi incrível na decisão. Tenho certeza que ainda vamos nos surpreender mais com as vitórias dele”, disse.

Atualmente, os irmãos estão separados pela distância - Ana Cláudia em Uberlândia e Adriano Lugoli em Brasília, mas isso não impede que eles fiquem sempre "perto". “Ele já conhece as sobrinhas e a gente conversa muito por telefone e videoconferência. Como não nos vemos sempre, inventamos formas de matar a saudade”, concluiu.

Adriano Lugoli
Uberlandense, de sorriso fácil, comunicativo e confiante. Quem vê Adriano Lugoli não imagina as pedras que ele já enfrentou no “meio do caminho”. Ele é o caçula da família e perdeu o pai aos seis meses de vida.
Adriano Lugoli contou para a reportagem que sempre enfrentou, desde a infância, muitos problemas devido ao preconceito e racismo e foi por falta de informação que entrou no “mundo” que para muitos é sem volta.

Aos 19 anos ele foi apresentado por amigos ao cigarro, ao álcool e às demais drogas, como a maconha e o crack. “Vivi uma fase muito intensa até meus 21 anos. Ia em festas, raves, experimentava tudo quanto era droga. Cheguei a me endividar e a gastar mais do que ganhava trabalhando como telemarketing. Senti um ‘eu’ extravagante e às vezes silencioso, calado”, relembrou.

Em Uberlândia, devido ao vício, Adriano Lugoli chegou a trocar a casa pelas ruas. “Eu não podia ficar em casa, pois vendia tudo que via pela frente para comprar drogas. Fiquei quase dois anos na rua pedindo dinheiro para me sustentar. Quantas vezes eu tive fome e troquei um alimento pelo crack. Andava sujo, descalço e vivia entre mendigos. Na rua ninguém tem nome e eu era só mais um”, acrescentou.

Ele só conseguiu sair das ruas e seguir em frente depois da internação por seis meses em uma casa de apoio em Brasília (DF), de abril a outubro de 2005. “Logo que saí fiquei vendendo mel dentro dos ônibus de transporte público. Ganhava 50% das vendas e o restante ia para a casa de recuperação. E eu, que um dia pensei em voltar para Uberlândia, vi ano a ano a minha vida sendo construída em outro local”, contou.

Adriano Lugoli ficou cerca de quatro anos com as vendas e graças a uma rede social descobriu que tinha talento para outro tipo de mercado. “Coloquei uma foto minha com o filho no Orkut e as pessoas começaram a falar que eu tinha jeito e sorriso de modelo. Que eu era fotogênico. De tanta insistência resolvi procurar uma agência, mas nunca me imaginei nesse ramo”, disse.

O uberlandense levou alguns “nãos”, mas depois que emplacou o primeiro trabalho não parou mais. E as recaídas não voltaram mais. “O Adriano de hoje tem outro vício – malhar. Malho de domingo a domingo. Tenho dois filhos, Moisés e Samuel, e eles são a minha certeza de que a vida segue para frente e que o passado já se foi. Eu venci e acredito que todos têm a capacidade de vencer. Não há nada irreversível e eu sou prova disso”, garantiu.

Questionado sobre o futuro, o uberlandense confessa com riso que quer aprender a dirigir e conseguir estabilidade financeira. “É engraçado, mas deixei por tempos de sonhar, mas hoje recuperei muito do que perdi, inclusive a esperança e os sonhos”, finalizou.
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