Nos mais de 50 bairros atingidos pela cheia do Rio Acre, em Rio Branco, ainda é possível encontrar famílias que resistem em deixar suas moradias, na esperança de que as águas baixem. Em situação de calamidade pública, Rio Branco enfrenta a pior cheia de sua história, com mais de 8,4 mil desabrigados e 86 mil afetados diretamente pela enchente. Nesta quarta-feira (4), o nível do rio chegou a 18,33 metros, às 8h.
A aposentada Ângela Maria dos Santos mora há 60 anos no bairro Seis de Agosto, um dos mais atingidos pela enchente, e garante que nunca viu a água invadir sua casa. "Chegava na rua, mas nunca precisei suspender nenhum móvel. É a natureza, a gente não pode fazer nada", diz conformada.
A casa de Ângela foi construída em cima de palafitas e tem mais de 2 metros de altura. Ela conta que faltam apenas poucos centímetros para a água invadir sua residência. Confiante, a aposentada diz que prefere não sair de casa para vigiar os objetos. "Ainda não entrou dentro de casa, não é possível que vá entrar. Acredito que logo comece a baixar", conta esperançosa.
Maria Raimunda Barbosa, de 45 anos, vive há seis meses no bairro Seis de Agosto. Sem energia há vários dias, ela insistia em continuar na casa mesmo com a água dentro do imóvel. Nesta terça, ela decidiu se mudar para casa da irmã, no bairro Calafate, deixando para trás toda mobília já danificada pela enchente. "Gosto daqui, mas nunca passei uma alagação na minha vida. Já me arrependi de ter vindo embora para cá", diz.
Para ela, depois dessa experiência, não há mais possibilidade de morar na região. "Quando secar tudo vou colocar uma plaquinha de vende-se", afirma.
Do alto da varanda, Vera Lúcia da Silva, de 38 anos, observa o movimento de barcos em frente da casa onde mora com o marido e a filha de 14 anos. A dona de casa arrumou metade dos móveis na sala da residência, outros na varanda e os que conseguiu pendurar no teto, amarrou com cordas para não cair. Perguntada se vai deixar a casa, Vera é firme com a resposta.
"Mesmo se encher mais, vou continuar dentro de casa com minhas coisas. Não vou e nem quero sair, tenho medo de roubarem. À noite, a polícia sempre está por aqui, mas não é toda hora. Tenho que ficar para guardar minhas coisas", afirma.
A casa de Francileudes Pessoa de Souza se destaca entre as demais moradias alagadas do bairro Seis de Agosto. Sentada em uma cadeira de balanço, Leuda, como é conhecida pelos vizinhos, observa os passantes ao lado do coelho de estimação e o cachorro da família, que foi colocado em cima do telhado para pegar sol.
A dona de casa conta que também não pretende deixar a casa, pois teme que seus móveis sejam furtados. Ela suspendeu os móveis com tábuas que foram pregadas no meio da casa. "Ir para abrigo é muito ruim, podem levar minhas coisas. Conforme a água for subindo, vou subindo minhas coisas, mas não saio de casa", diz enquanto prepara uma panela de arroz para a filha, o genro e o marido almoçarem na varanda alagada da casa.
Campanhas
Uma campanha para ajudar as vítimas da enchente foi lançada pelo programa Acre Solidário, encabeçado pela primeira-dama do estado, Marlúcia Cândida. Os donativos podem ser entregues na Central de Serviço Público (OCA), na Avenida Brasil; Palácio das Secretarias; Quartel da Polícia Militar; Casa Civil; Igreja Batista do Bosque; Supermercados Araújo do Tangará, Aviário, Izaura Parente e Via Chico Mendes; Secretarias e autarquias estaduais.
Outra campanha 'SOS Enchente Acre', em parceria com a Diocese de Rio Branco, disponibilizou uma conta bancária para que sejam feitos depósitos de qualquer quantia. A campanha recebeu o apoio de famosos de várias parte do país. As arrecadações podem ser enviadas para a conta corrente 500-2, agência 0071-X, Banco Brasil.
