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Terça-feira, 16 de julho de 2024

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Aluno tem nota por 'curtidas', e autora do 'Diário de Classe' critica método

Aluno tem nota por 'curtidas', e autora do 'Diário de Classe' critica método
Isadora Faber, criadora da página “Diário de Classe”, questionou em uma rede social a metodologia utilizada por um de seus professores do segundo ano do ensino médio de uma escola particular de Florianópolis, para dar nota a um trabalho em grupo. Ele deu uma semana para que os alunos postassem um vídeo em uma rede social abordando a prevenção de doenças. Os estudantes irão receber três pontos no trimestre, se conseguirem 250 curtidas.


“Avaliar os alunos pelo número de curtidas é um absurdo. Acho injusto com quem não utiliza redes sociais ou não tem muitos amigos. É difícil conseguir 250 curtidas em uma semana”, avalia a adolescente de 16 anos.

De acordo com o professor de biologia, Marcelo Soccio, a ideia surgiu para estimular os estudantes a abordarem assuntos conhecidos de forma que seja atraente. Ele dividiu a turma em grupos de três a oito alunos e cada um abordou a forma de prevenção de doenças como HPV, aids, sífilis, gonorreia, tuberculose, toxoplasmose, meningite, gripe aviária, leptospirose e peste bubônica.

Três pontos do trimestre são pelas curtidas, quatro pela produção do trabalho, três pelas demais atividades e um pelo comportamento e educação em sala de aula.

“É o que eles mais gostam de fazer: curtir. Se eu pedir para fazer um cartaz com papel pardo e colar na parede vão rir da minha cara. O quadro negro e o giz já foram uma tecnologia. Hoje é a internet. É uma forma de incentivá-los a fazer um bom trabalho e a trabalhar em equipe. As pessoas vão curtir se gostarem. O título era uma propaganda preventiva, tinham que abordar temas conhecidos de forma criativa, atraente, que agradassem os amigos”, detalha o professor.

Outra aluna da turma, de 16 anos, também não gostou da avaliação, mas acredita que seja uma maneira de compartilhar o conhecimento com os amigos.

"Meu grupo conseguiu até agora 160 curtidas. Estou mandado mensagens para os amigos e pedindo para curtirem, pois vale nota. A gente achou estranho ganhar nota em cima das curtidas, mas o fato de compartilhar o que aprendeu é legal”, afirma a garota que está fazendo trabalho sobre leptospirose.

Até a publicação desta reportagem, ela tinha alcançado mais de 900 curtidas no trabalho sobre a prevenção de HPV compartilhado por ela na página do Diário de Classe nesta terça (7).

Propaganda preventiva
A metodologia de avaliação foi aplicada em quatro turmas de duas escolas particulares da Grande Florianópolis, em junho. A última turma, onde estuda Isabela Faber foi autorizada pelo professor a postar o material na rede na última sexta-feira (3) e tem até a próxima sexta (10) para cada trabalho alcançar 250 curtidas.

“Na hora que propus, não teve um aluno que não reclamou. Mas depois, quando viram que as pessoas estavam curtindo, gostaram da ideia. Eles tinham medo de que as pessoas não gostassem”, detalha o professor.

Ele conta que teve apoio da direção de ambas escolas para aplicar a metodologia. O resultado deve ser utilizado na especialização que está fazendo em Ensino da Ciências. Ele disse que um dos critérios é que, ao menos um participante do grupo, tenha cadastro na rede social.

No entanto, conforme a criadora do Diário de Classe, o professor não explicou a ideia em sala. “Ele só disse que a nota era pelas curtidas e quem não alcançasse, teria uma nota menor. Não teve justificativa. Muitos colegas estão correndo para conseguir essas curtidas”, diz a jovem.

Marcelo Soccio contesta as críticas. “Vi as críticas, mas tem que ter respeito. Alguns me chamaram de burro. Li e pensei. Quem é essa pessoa para me criticar? Ela estudou para isso? Quem trabalha com educação elogiou. Fiz com base em leituras e no que estou estudando”, comenta.

Ele diz que, independente dos comentários negativos, pretende fazer outras avaliações semelhantes. "Vou fazer outros trabalhos que eles terão que postar na rede, mas as regras vão mudar: será por visualizações, compartilhamentos. Tem que mudar a regra, adolescente não gosta de mesmice”, afirma o professor de biologia.

O G1 não conseguiu contato com a direção da escola e com o Conselho Estadual de Educação. Questionado sobre a questão, o Ministério da Educação não havia se posicionado sobre o assunto até a publicação desta reportagem.

Diário de Classe
Isadora faber ficou conhecida após criar a página no Facebook 'Diário de Classe', em 2012. Ele ganhou repercussão nacional rapidamente ao denunciar problemas em uma escola pública onde a adolescente estudava.

Atualmente, 590 mil pessoas ‘curtem’ a página na rede social. O exemplo de Isadora passou a ser referência para outros perfis semelhantes e, em fevereiro de 2013, a adolescente entrou para a lista do jornal inglês Financial Times entre os 25 brasileiros de destaque.

Em agosto de 2013, ela lançou uma organização não governamental (ONG) batizada com seu nome. Agora, Isadora está lançando um site para denúncias de problemas em escolas de todo país.

"Agora estudo em escola particular, mas meu objetivo com o Diário de Classe continua sendo melhorar o ensino público. Este site agora é para todas as escolas, públicas e privadas", explica.
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