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Quinta-feira, 18 de julho de 2024

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PF faz buscas na Eletronuclear em ação que mira fraude em Angra 3

A Polícia Federal deflagrou na manhã desta terça-feira a 16ª Fase da Operação Lava-Jato, denominada “Radioatividade”. Cerca de 180 Policiais Federais cumprem 30 mandados judiciais, sendo 23 de busca e apreensão, dois de prisão temporária e cinco de condução coercitiva em Brasília, Rio de Janeiro, Niterói, São Paulo e Barueri. No Rio, cinco andares da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, foram lacrados pela PF. Um dos presos é Othon Luiz Pinheiro da Silva - diretor-presidente afastado da estatal. Outro detido também no Rio é Flavio David Barra, executivo da Andrade Gutierrez.


Segundo a PF, o foco das investigações são contratos firmados por empresas já mencionadas na Lava-Jato. Dentre outros fatos investigados, são objeto de apuração a formação de cartel e o prévio ajustamento de licitações nas obras de Angra 3, além do pagamento indevido de vantagens financeiras a empregados da estatal. Os presos serão levados para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR), onde permanecerão à disposição da Justiça Federal.

Em São Paulo, um dos mandados de busca e apreensão foi realizado no escritório de Ricardo Ourique Marques, diretor da Techint Engenharia.

Os seguintes diretores de empresas com contratos com a Eletronuclear também foram alvos da operação: Renato Ribeiro Abreu, sócio e diretor do Grupo MPE; Petronio Braz Junior, da Galvão Engenharia; Fabio Andreani Gandolfo, da Odebrecht; e Flavio David Barra, da Andrade Gutierrez, que foi preso. Todos teriam participado de reunião em que teria sido acertado o pagamento de propina a agentes políticos, de acordo com a PF e o Ministério Público.Um funcionário aposentado da Andrade Gutierrez, Clovis Peixoto Primo, também foi levado para prestar depoimento, mas não figura entre os investigados na operação.O presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, foi preso em sua casa, em Niterói, no Rio de Janeiro. Completam a lista de investigados Maria Célia Barbosa da Silva, e as sócias, no papel, da empresa Aratec Engenharia Consultoria & Representações: Ana Cristina da Silvia Toniolo e Ana Luiza Barbosa da Silva Bolognani. A Aratec tem sede em Barueri, no interior de São Paulo.

AÇÃO APÓS DELAÇÃO DE DIRETOR DA CAMARGO CORRÊA

A nova operação da PF é baseada em informações prestadas em delação premiada pelo diretor da Camargo Corrêa Dalton Avancini a respeito do pagamento de propina a políticos e fraude na licitação da montagem da terceira usina do Complexo Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis (RJ) - mais conhecida como Angra 3.

Em depoimento prestado em março deste ano, Avancini afirmou que "havia um acordo de que o edital seria direcionado", para que sete empresas vencessem a licitação, mediante pagamento de propina a políticos do PMDB.

Os consórcios concorriam por dois pacotes de serviço, sendo que um grupo não poderia ser contratado para fazer ambos os pacotes. Com a habilitação de somente dois consórcios, ficou certo que cada um deles necessariamente levaria uma obra. Somente então os grupos foram chamados a apresentar os preços. Em 2014, os dois consórcios se fundiram e formaram um grupo único, chamado Angramon.

"O filtro para direcionamento da licitação seria aplicado quando da habilitação prévia das empresas, de modo a excluir as que não estivessem nesse grupo de seis empresas", afirmou Avancini, no depoimento, errando apenas no número total de empresas beneficiadas. Na verdade, sete firmas ganharam a concorrência.

Ao ser perguntado, pelo delegado Eduardo Mauat, por que a Eletronuclear lançou um edital de forma a privilegiar poucas empresas, Avancini respondeu que em "reuniões posteriores onde (foi) mencionado o pagamento de propinas". Segundo ele, elas "seriam uma possível explicação quanto a esse procedimento". Em depoimento posterior, o diretor da Camargo Corrêa apresentou o nome de executivos das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez que teriam participado de reunião em que se discutiu o pagamento de propina ao PMDB.

O encontro teria acontecido em agosto de 2014, na sede de outra construtora, a UTC, com a presença do presidente global da Andrade Gutierrez Energia, Flavio Barra, e o Diretor Superintendente na Odebrecht Infraestrutura, Fábio Gandolfo - dois alvos da operação desta terça-feira.

Também teriam participado do encontro, além de Avancini, representantes de outras empreiteiras participantes dos consórcios vencedores para instalação e montagem de equipamentos em Angra 3.

Por meio de nota, a Andrade Gutierrez informou que acompanha a nova fase da Operação Lava-Jato e disse estar sempre “à disposição da Justiça”.

“Os advogados (da empresa) estão analisando os termos desta ação da Polícia Federal para se pronunciar”, informou a empreiteira.

ENGENHEIRO CITOU CAMPANHA DE CABRAL

Em São Paulo, um dos mandados de busca e apreensão foi cumprido no escritório do engenheiro Ricardo Ourique Marques, diretor geral na Techint Engenharia e Construção, uma das empresas beneficiadas na licitação de Angra 3 e também participante da implantação do Comperj.

Em maio deste ano, Ourique Marques prestou depoimento em São Paulo a pedido do Supremo Tribunal Justiça (STJ) no âmbito do inquérito que apura se há envolvimento do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e seu sucessor, Luiz Fernando Pezão, também do PMDB, no esquema de propinas montado na estatal petrolífera, entre 2004 e 2014. Na ocasião, Ourique Marques afirmou ter se reunido em 2010 no Caesar Park, em Ipanema, com Wilson Carlos Cordeiro da Silva Carvalho, ex-secretário de Estado do governo do Rio e assessor financeiro da campanha à reeleição de Cabral, e com o diretor de Abastecimento da Petrobrás à época, Paulo Roberto Costa.

No encontro, Costa, teria pedido a Ourique Marques dinheiro para a campanha do peemedebista, como "forma de retribuição ao esforço do governo do estado pelo auxílio à Petrobras na obtenção de licenças e autorizações" relacionadas à implantação do Comperj", outra obra com participação da Techint. No depoimento À PF, Ourique Marques negou ter atendido à solicitação.

ELETROBRAS É ALVO DE AÇÃO NOS EUA

Após a Petrobras ser alvo de uma ação coletiva nos Estados Unidos, agora é a vez da Eletrobras. O escritório de advocacia americano Rosen Law entrou com uma ação coletiva na semana passada, em Nova York, contra a estatal, que teria sido alvo de corrupção e é citada na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Em sua página na internet, o escritório vem convocando investidores que compraram os papéis emitidos pela Eletrobrás entre 10 de fevereiro de 2014 e 29 de abril deste ano.

A ação cita a delação de Avancini. Ele teria afirmado que o consórcio de empresas contratadas para construir a usina nuclear Angra 3 fez pagamentos ao almirante Othon Luiz Pereira da Silva. Ele nega as acusações, mas se afastou do cargo e pediu licença "para que os fatos que estão sendo citados nas delações sejam apurados com bastante transparência, sem a sua presença na presidência da empresa.", disse um executivo próximo à estatal.

 
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