O deputado federal e líder da bancada do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), foi escolhido na semana passada pelo Planalto como um valioso aliado e interlocutor entre o Governo e sua base rebelde. O parlamentar, que sempre foi aliado de todas as horas do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não conseguiu, porém, entregar aquilo que o Executivo espera em troca de uma reforma ministerialque agraciou a legenda com mais uma pasta: unificar a bancada para que vote alinhada aos interesses petistas.
A insatisfação dos peemedebistas com a mandatária ficou evidente esta semana: por duas vezes tentou-se votar os vetos da presidenta — que implicam uma economia bilionária para os cofres públicos —, mas as sessões foram suspensas devido à falta de quórum. Dos 65 deputados do PMDB, hoje só 37 registraram presença na sessão, ontem foram apenas 35. Picciani minimiza as defecções. Diz que a legenda tem apenas "uns 10 deputados que estão contrários ao Governo, e embarcaram na estratégia da oposição". A blindagem do Governo na Câmara também é essencial para barrar qualquer tentativa de aprovar umpedido de impeachment.
Pergunta. Por que o Governo não conseguiu colocar em votação os vetos da presidenta na sessão de hoje?
Resposta. Houve uma obstrução de parte dos partidos da base, sobretudo PP, PR e outros, que têm demandas ao Governo, demandas que eu desconheço quais são. Eles resolveram obstruir o plenário.
P. Muitos parlamentares do PMDB também não compareceram à sessão desta quarta e da terça...
R. A bancada do PMDB está unida, é evidente que temos divergências internas, mas há uma unidade grande da maioria da bancada. O PMDB está alinhado, tínhamos a maioria absoluta da bancada nas duas sessões, de ontem e hoje.
P. Dos 65 deputados da bancada, só 37 registraram presença na sessão de hoje. Apenas dois a mais do que na sessão de ontem...
R. Alguns ausentes são críticos de fato com relação ao Governo, temos uns 10 deputados que estão contrários ao Governo, e embarcaram na estratégia da oposição [de não registrar presença para votar os vetos]. Além disso oito deputado estavam fora de Brasília, e alguns chegaram atrasados, depois que a sessão havia sido encerrada.
P. Falta disciplina partidária para a bancada?
R. Não falta disciplina para a bancada. O partido contempla as posições divergentes, há uma tolerância interna com isso.
P. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, estão em atrito por causa da votação dos vetos?
R. Eu não vejo dessa forma, com o Renan e Cunha se entranhando. Isso ocorreu semana passada, mas não essa semana. Não houve posicionamento do Cunha para evitar que se formasse quórum na sessão de hoje.
P. É possível que o número de deputados insatisfeitos com o Governo na bancada do PMDB cresça caso as contas de Dilma sejam rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União?
R. A votação do TCU não alterará o quadro da bancada do PMDB, rejeitando as contas ou não.
P. E quanto ao processo de impeachment da presidenta, ganha força com a rejeição das contas?
R. Acho que o processo do impeachment está fragilizado. Falta consistência jurídica e política para o processo.