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Quarta-feira, 17 de julho de 2024

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Presa que teve filha em cela surtou por não tomar remédio, diz família

A família de Bárbara Oliveira de Souza, detenta que deu à luz uma filha em uma cela do presídio Talavera Bruce, no Complexo Penitenciário de Bangu, na Zona Oeste do Rio, alega que ela foi privada de medicação para controle de distúrbios mentais. Grávida de nove meses, ela teria sido levada para a solitária da cadeia após um surto psicótico e acabou fazendo o próprio parto sozinha. A Secretaria de Administração Penitenciária não quis comentar o caso.


Segundo o primo de Bárbara, Alace Machado, a família só teve confirmação da gravidez quando a criança nasceu. Ele contou que foi informado sobre a prisão da prima em agosto, por meio de uma funcionária do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) no qual ela era tratada. Na ocasião, ele também foi informado sobre a gravidez, que teria sido negada pela Seap aos profissionais do Caps.

Somente 15 dia após o parto, ocorrido no dia 11 de outubro, a família recebeu a confirmação de que Bárbara esperava um filho na prisão. “Foi um susto e eu fiquei desesperado. Eu comecei a passar mal e fui deitar. Quando passou no jornal e a minha esposa me chamou, aí eu fiquei pior ainda e fui para o hospital. Aí eu soube das circunstâncias”, contou o primo, que só conheceu a criança no dia 27 de outubro.

Sofrimento no parto
Alace só reencontrou a prima no dia 29 de outubro no hospital onde ela começou a ser tratada após a repercussão do parto na cadeia. Ela contou a ele que pediu socorro enquanto estava em trabalho de parto, mas não foi atendida. Ela enfatizou ao primo ainda que, após dar à luz, ficou com a filha no colo por longo tempo, com o cordão umbilical ainda ligado ao seu corpo.

“Foi emocionante reencontrá-la. Ela olhou para mim e perguntou se poderia pedir uma coisa. Aí ela disse ‘Cuida bem dos meus filhos’. Aí eu não aguentei, eu tive que chorar”, contou Alace.

A criança, que segundo Alace tem olhos verdes como a mãe, nasceu saudável, com 48 cm e 3,090 kg. Após o parto, ela foi levada ao Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, e, depois, encaminhada a um abrigo.

Bárbara entregou ao primo uma lista de itens, a maioria de cuidados pessoais, para que ele leve para ela no presídio. No bilhete, ela brinca com Alace, torcedor do Flamengo, escrevendo o nome do Vasco, principal rival do rubro-negro, ao lado de um coração. Na mesma mensagem, ela registrou o nome que gostaria de dar à filha: Crisma Oliveira de Sousa. Os familiares, no entanto, preferiram outro nome para registrar a menina – o nome foi preservado.

Descaso no presídio
Alace afirmou que foi atendido por uma assistente social e pela diretora do presídio Talavera Bruce, mas que nenhum esclarecimento lhe foi dado a respeito do tratamento dispensado a Bárbara. “Elas foram evasivas e não responderam às perguntas que foram feitas. Ela folheou um prontuário e disse que sabia da gravidez desde o início. Mas se sabiam que ela estava grávida, porque negaram ao Caps?”, questionou Alace.

A família também questiona a versão de que Bárbara teria tido um surto por conta de uma suposta abstinência de drogas. “O Caps já enviou um relatório para o Ministério Público alegando que a Bárbara não estava com abstinência de drogas. Era a falta da medicação. Porque é muito mais fácil acusar a abstinência do que falar que foi por falta da medicação, já que eles negaram várias vezes o Caps entrar com a medicação”, afirmou Alace.

“A Bárbara, com todos os problemas que ela tem, merecia ter essa bebê de uma maneira digna”, afirmou o primo. A família ainda avalia se vai processar o Estado por negligência. “Eu fui procurado pela Defensoria Pública. Mas ainda não tive tempo de conversar para saber o que eles pensam do caso”, ressaltou Alace.

Questionada pelo G1, a Seap afirmou que só vai se pronunciar sobre o assunto ao fim da sindicância instaurada para apurar o caso.

A Justiça decretou o afastamento temporário da diretora da penitenciária feminina Talavera Bruce, Andreia Oliveira, e da sub diretora Ana Paula.

Distúrbios psicológicos e gestações
O primo contou que os problemas mentais de Bárbara foram desencadeados após a morte da mãe, há 15 anos. O primeiro surto da jovem teria acontecido em um bar, quando ela subiu em uma mesa de sinuca e começou a agredir as pessoas. Na ocasião, ela foi resgatada pelo Corpo de Bombeiros e internada onde atualmente o Caps Torquato Neto.

“Foram diagnosticadas a esquizofrenia e outras doenças mentais. E eu lembro dela bem. Depois disso, ela desapareceu. Até que o meu pai a reencontrou com um rapaz, que ela disse que estava namorando”, contou Alace.

Acolhimento familiar
Bárbara teve um filho com esse namorado. Inicialmente, os profissionais que a atenderam acreditaram que ela poderia cuidar do menino. Mas, após ela sofrer um acidente, caindo com o bebê sofre uma mesa de vidro, a Justiça passou a guarda da criança para a mãe de Alace. Atualmente, o garoto tem 9 anos de idade.

Cinco anos depois, Bárbara teve outra filha, cuja guarda ficou com Alace e a mulher, Débora Esteves. Hoje a menina tem 4 anos. Quando o casal a adotou, já tinha um filho biológico e Débora enfrentava tratamento contra um câncer no colo do útero. Curada da doença, ela teve outros dois filhos, cujas gestações foram consideradas de risco.

A caçula de Bárbara é a mais nova criança cuidada pela família, já que a Justiça concedeu a guarda dela para a mãe de Alace. “Fui filha única até os 16 anos. Eu me sentia sozinha”, comentou Débora, se dizendo mais completa com a presença de tantas crianças em casa. "Vamos dar todo o carinho que ela [a caçula] merece, depois de tudo o que passou", acrescentou Alace.
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