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Quarta-feira, 17 de julho de 2024

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Mais de 2 milhões saíram da miséria

RIO - Depois de ter subido em 2013, a pobreza extrema no Brasil caiu fortemente no ano seguinte, a ponto de o ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos Marcelo Neri já considerar a parcela de miseráveis equivalente a zero. Pelos cálculos do pesquisador do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), Samuel Franco, deixaram a miséria 2,4 milhões de pessoas. A parcela da população nessa situação precária caiu de 6,2% para 4,8%. Franco considera miserável pessoas que vivem em lares com renda per capita de até R4 130,84. Já Neri, usando US$ 1,25 por dia, viu a parcela de extremamente pobres baixar de 3,47% para 2,34%:


— O resultado é consistente com o que vinha acontecendo até 2012. Em 2013, houve resultado atípico. É um fenômeno fantástico no Brasil. É uma tendência de quase todos os estados. Os efeitos da política do benefício de superação da pobreza, lançado em 2012, e que só apareceram agora. Acredito que iniciativas fortes de melhoria do cadastro único (que reúne a população elegível ao Bolsa Família) e a busca ativa pelos pobres também ajudaram — afirma Franco.

O benefício de superação da pobreza foi criado pelo governo em 2012 e prevê uma complementação extra aos inscritos na Bolsa Família com renda muito baixa. O programa prevê um benefício variável para as famílias, de forma que a renda per capita no domicílio alcance R$ 77. São exigidas, para isso, as mesmas contrapartidas previstas no Bolsa Família, de frequência escolar e vacinação em dia.

Cálculo feito por Marcelo Neri aponta que o número de pobres no Brasil caiu de 20,4 milhões em 2013 (10,13% da população) para 17 milhões em 2014 (8,38%), um recuo de 3,4 milhões. A conta leva em conta renda mensal de R$ 184 por pessoa. Já a extrema pobreza passou de 7 milhões de pessoas (3,47% do total) em 2013 para 4,7 milhões (2,34%) em 2014. Neste caso, é considerada uma renda de US$ 1,25 por dia, ou cerca de R$ 75.

— O Banco Mundial considera que uma parcela de 3% da população em pobreza extrema é equivalente à pobreza zero. Acho que atingimos, pela visão do Banco Mundial, um nível de pobreza zero, já que sempre terão pessoas entrando e saindo da pobreza — diz o ex-ministro.

Diante dessa conquista, Marcelo Neri defende a mudança de foco nas políticas de redução de pobreza. Em vez de dar prioridade à parcela da pobreza extrema, ele acredita que é preciso “olhar para os pobres de maneira mais abrangente".

— Não dá para olhar só para os 2%. Em vez de cuidar apenas da pobreza extrema, é preciso ampliar o foco do debate e olhar para os 40% mais pobres da população — diz Neri.

Pelos cálculos de Franco, do Iets, a redução da pobreza (com renda domiciliar per capita de até R$ 261,67) também foi intensa. Saíram da pobreza 2,69 milhões. A parcela de pobres caiu de 17,6% para 15,8%, num movimento que se repete desde 2004 (quando o IBGE incluiu o Norte rural nas pesquisas domiciliares). Naquele ano, a pobreza afligia 37,5% da população.

Retrocesso com inflação e ajuste fiscal

A explicação para esse fenômeno está na alta maior do rendimento domiciliar per capita nas faixas de renda mais baixas.

— Entre os 10% mais pobres, a alta da renda chegou a 24,2%. Houve alta forte entre os 20% mais pobres também, de 8,6%.

A pergunta agora é se, com a recessão de 3% prevista para este ano, esses ganhos sociais da última década vão se manter. Para Sergei Soares, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), é inevitável um aumento da pobreza este ano:

— Deve ser uma catástrofe, o pior dos anos. É impossível que a pobreza não aumente. Para que isso fosse evitado, teria que ter havido aumento colossal do Bolsa Família, com as políticas compensatória indo lá para cima, mas o ajuste fiscal vale para todos. É inevitável (o aumento da pobreza extrema), infelizmente.

O economista, que já foi presidente do Ipea, lembra que a inflação que deve passar dos 10% e atinge mais fortemente os mais pobres, que gastam a maior parte da renda com alimentação.

Moradora há mais de 30 anos da Avenida Mutirão, em Campo Alegre, bairro de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a doméstica Marilene de Souza, de 60 anos, retrata esse quadro descrito pelo pesquisador. Ela diz que, ano passado, as contas deram um alívio e foi possível pintar a casa de dois quartos que divide com dois filhos e nora. Mas a realidade é outra este ano.

— O dinheiro apertou, principalmente para as coisas mais caras. Queria comprar manilhas para fechar o esgoto que passa na frente do portão e dentro do quintal, mas não deu. Luz e gás aumentaram muito também. Agora, cozinho o feijão para o mês todo e congelo para economizar. Já comecei a fazer o mesmo com o arroz — conta a doméstica.

Mas Neri diz que, mesmo com o corte de despesas exigido pelo ajuste fiscal, há espaço para políticas a partir de parcerias internacionais e com o setor privado.
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