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Domingo, 28 de abril de 2024

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Ricarte de Freitas

Política com Tempero: Alguém pode explicar?

Disse aqui, na semana passada, ao lembrar a história do Linhão que liga Cuiabá a Alta Floresta, que muitas das histórias já estavam perdidas e outras jamais seriam contadas por se perderem no tempo, pois não há em Mato Grosso, principalmente nas cidades criadas a partir da década de 70, um projeto eficiente de armazenar sons e imagens para as futuras gerações. A maioria dos moradores de Sinop e Alta Floresta já ouviu falar, mas nem sonha, quem foram Enio Pipino e Ariosto da Riva, muito menos imagina como nessas cidades surgiram aeroportos com pistas asfaltadas, com extensão e estruturas suficientes para pousos e decolagens de aeronaves de grande porte. Não passa pelas suas cabeças como isso aconteceu, uma vez que, já há tanto tempo incorporados à paisagem dessas cidades, ninguém se preocupa mais em saber como, de onde e por quê surgiram?


Acompanhei de perto a construção do aeroporto de Sinop, cuja impressão, que se tinha àquela época, pela distância de 12 km até o centro da cidade, era de que se estava construindo um aeródromo em outro estado, tamanhas eram as dificuldades de lá se chegar, principalmente em tempos de chuva. Era, literalmente, uma clareira enorme construída dentro da floresta, longe, muito longe da cidade. Estou falando de uma obra que se iniciou em 1982 e foi finalizada em 1984.
Esses aeroportos foram construídos pela COMARA (Comissão de Aeroportos da Região Amazônica) subordinada ao Comando da 1ª. Zona Aérea de Belém, cujo comandante, na ocasião, era o Brigadeiro-do-Ar Antonio Arison de Carvalho, irmão de uma figura extraordinária, João Pedro Moreira Carvalho, um dos sócios proprietários e também fundador da Colonizadora Sinop, que deu nome à cidade.

E durante os seus 53 anos de existência, a COMARA foi responsável pela construção e recuperação de mais de 150 pistas, além de viabilizar mais de 70 obras de reformas de instalações aeroportuárias e vias públicas, de interesse da Aeronáutica.
Alta Floresta é a porta de entrada do eco turismo na Amazônia mato-grossense e está assistindo a sua grande oportunidade de desenvolvimento real, com a Copa de 2014, esvair-se pelo vão dos dedos. A riqueza do turismo poderá ser o grande fator de mudança do perfil econômico da cidade e região. Com a Copa, Alta Floresta poderá deixar de ser a grande vilã dos telejornais nacionais, pelo título que ostenta de campeã de derrubada da floresta, podendo passar para os cadernos de turismo em publicações de todo o mundo, pela beleza cênica e a riqueza da sua fauna e flora que oferece para visitação como poucos lugares no planeta.

O fluxo de turistas, ainda incipiente, até porque a estrutura de receptivo ainda deixa muito a desejar, pela dificuldade de acesso à cidade, desanimando, por enquanto, a iniciativa privada, já começa a descobrir a exuberância da sua floresta, através do turismo de observação, um dos que mais cresce no mundo, com suas aves raras, além de sua pesca esportiva, com espécimes de rara beleza, aliada à uma consciência ambiental de que se pode pescar, mas é obrigatória a devolução do peixe à água. Muito, muito diferente do Pantanal, onde a pesca predatória começa com os próprios pescadores profissionais, destruindo a cada dia parte de sua riqueza.

Sinop, emancipada em 1979 e hoje com mais de 120 mil habitantes, além de ser a quarta economia do estado, com um projeto urbanístico que enche os olhos de quem a visita, tornou-se e se consolida como o maior pólo de serviços de todo o norte de Mato Grosso. Além de uma agricultura forte, uma pecuária de respeito e um setor madeireiro que foi o grande responsável pelo desenvolvimento da cidade, embora hoje reduzido a uma pequeníssima parte do que fora outrora, pelas próprias condições de adequação ambiental que o mundo de hoje existe, é outra jóia rara da Amazônia mato-grossense.
Sinop conta com uma estrutura educacional de causar inveja: além de um campus próprio da UFMT, outras quatro universidades ali estão instaladas, além de faculdades independentes que transformaram a cidade no maior pólo de educação ao norte de Cuiabá.

Na área de serviços médicos, Sinop é referência e para lá acorrem a maioria das pessoas que busca uma medicina de qualidade e resolutiva, com equipamentos de última geração. Agora mesmo, Sinop foi contemplada com um Centro de Pesquisas da Embrapa, o que, aliado ao conhecimento acadêmico da cidade, vai contribuir ainda mais para o desenvolvimento de toda a região. Sinop conta, ainda, com uma estrutura de comunicação de causar inveja.

Falei dessas cidades e dos seus aeroportos, porque ambas têm estrutura para receber aeronaves de grande porte e alavancar o seu desenvolvimento. E, isso, infelizmente, não acontece. Por quê?

Porque Alta Floresta e Sinop não dispõem em seus aeroportos, na Seção Contra Incêndio, de um equipamento adequado, exigido pela ANAC, para dar a segurança necessária em casos de emergência. Ou seja, falta-lhes um caminhão-bombeiro, com capacidade específica para aeroportos que operem com aeronaves de grande porte. É um caminhão com um custo que foge à realidade dessas prefeituras e tem um tempo de demora de mais de seis meses para entrega após a compra. Somado a isso o processo licitatório que leva pelo menos, 45 dias. É muito tempo de espera.

Alta Floresta já perdeu os vôos que eram operados pela Ocean Air. Sinop, além de não obter autorização da ANAC para operação dessa companhia, vê-se obrigada, como Alta Floresta, pela falta de concorrência, a ver os seus usuários, que poderiam ser em numero muito maior, serem escorchados pelas altas tarifas cobradas pela empresa TRIP. Uma passagem de Sinop a Curitiba custa 299 reais enquanto que de Sinop a Cuiabá o custo chega a 630 reais. Pode?

Não posso acreditar que se houvesse vontade política por parte do governo do estado, avaliando apenas o retorno em impostos e o aumento de infraestrutura turística, isso não pudesse ser resolvido imediatamente, a tempo de inserir esses dois pólos como destinos turísticos de verdade junto à comunidade internacional.

Até quando vamos assistir a decisões tomadas em que o verdadeiro interesse não seja o coletivo, mas sim o favorecimento de minorias com alto poder de influência, capazes de transformar mega projetos em coisas miúdas, pequenas, que só interessam a eles mesmos.
Abordo essa questão, que é da maior importância econômica, social e ambiental para Mato Grosso, porque nesse instante de grandes confusões políticas que ocorrem em Brasília e, lamentavelmente, também pelos lados do legislativo cuiabano, talvez se esteja fazendo passar despercebidas coisas inexplicáveis que ocorrem em nosso estado.
Li, durante a semana que passou, com muita preocupação, que o governo do estado resolveu mudar tudo: o projeto de reforma do estádio do Verdão, aprovado pela FIFA, a um custo aproximado de 330 milhões de reais, foi para a lata do lixo. Não serve mais. Servia até ontem. Não será mais executado.

Do nada, já no finalzinho do jogo, na prorrogação do segundo tempo da partida, sem tempo pra mais nada, resolve o governo contratar, sem licitação, um novo projeto, uma nova reforma, ao custo de uma ninharia: 14 milhões de reais! A desculpa? Não haveria tempo de se licitar um novo projeto, uma vez que o prazo dado pela FIFA, para quaisquer alterações é inferior ao prazo de uma nova licitação e Cuiabá poderia perder a condição de ser uma das sub sedes. Estou falando de 14 milhões de custo apenas do projeto. Não da obra. E a obra que custaria 330 milhões vai ter seu custo acrescido em mais de 100 milhões de reais. Alguém consegue explicar isso sem enrolar?
Aí tem. Claro que tem. O quê? Não sei. Mas que tem, tem.

Com o tempo que houve pra se montar o projeto que, a duras penas, foi aprovado, motivo de orgulho para todo Mato Grosso, aparece agora esse jabuti em cima do pau que ninguém consegue imaginar quem o colocou lá. Será que era possível imaginar que a reforma proposta para o Verdão estava fora da realidade, aquém das exigências da entidade que veio, viu, examinou e aprovou?

Mais triste ainda que se trate de mexer exatamente na obra de menor uso pela coletividade no pós copa. Não estamos falando de aeroportos, centros de treinamento, redes de distribuição de energia, infraestrutura hospitalar, melhoria na qualidade da educação, melhoria da qualidade da saúde, melhoria do plano urbanístico, de ampliação de redes de esgoto, redes de água, asfalto, enfim, de tantas coisas que ficarão e mudarão o perfil da cidade e do estado graças a essa tão sonhada Copa do mundo. Estamos falando de um estádio que terá em seu melhor momento, em 2014, no máximo três ou quatro partidas e, a partir daí, uma utilização muito aquém das outras obras de infraestrutura que a Copa exige. Por que o que já estava aprovado – aliás, nada barato - não é o suficiente?

Acredito que com menos de 20% dos 14 milhões que se irá gastar no novo projeto de reforma do Verdão se resolveria, em definitivo, a questão da segurança de incêndios em Sinop e Alta Floresta, doando-se a esses municípios os caminhões tão necessários para o progresso ainda maior da região e, conseqüentemente, do estado.
É hora de usar temperos adequados para evitar sabores cáusticos e indigeríveis à hora de se sentar para o banquete.


Ricarte de Freitas é advogado e ex-parlamentar estadual e federal por mato Grosso – ricartef@gmail.com
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