A comercialização de automóveis está aquecida no Brasil, motivada principalmente pela grande disposição de descontos oferecida pelas concessionárias e montadoras. Segundo a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), no primeiro semestre de 2019, o número de carros vendidos teve expansão de 11,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Já é o terceiro ano seguido em que o setor apresenta uma alta significativa.
O cenário, no entanto, é diferente do que indicam os números. A recessão econômica brasileira somada à crise da Argentina (maior exportadora de veículo do país, que recuou a demanda em 50% em 2019) obrigou as montadoras a escoar os excessos de produção, aumentando a competição e reduzindo preços. Para vender mais, as concessionárias precisaram baixar os preços para fazer negócio, o que também afetou a arrecadação do Governo com imposto.
Dentro desse contexto, aumentou o poder de barganha tanto por parte das empresas, como a pessoas físicas. Os carros estão sendo vendidos principalmente para pessoas jurídicas - que têm benefícios fiscais e maior limite de crédito para a aquisição - e são os modelos mais caros que estão saindo das lojas. Dos 2,4 milhões de automóveis e comerciais leves emplacados em 2018, segundo a Fenabrave, 512 mil foram SUVs, o que representa 20,73% do mercado.
A venda de automóveis para empresas cresceu 23,5% no primeiro semestre, enquanto que para os consumidores comuns, avançou apenas 2,1%. Com isso, a participação da venda para empresas - as vendas diretas - subiu para 45% neste ano. Em 2012 esse número era de 25%.
A demanda por carros populares para pessoa física continua baixa, portanto, as concessionárias perceberam a necessidade de fazer negociações e dar descontos mais altos para esse público. Além disso, a
alta do desemprego e o retrocesso econômico dificultam a liberação de crédito para as classes mais baixas.
"Por não ter condições financeiras para de fazer uma compra à vista desse tipo de bem, os consumidores das classes C e D - maior público de demanda dos carros populares - estão de braços atados. A maioria depende da liberação de crédito para aquisição de automóveis, mas não consegue devido ao cenário instável da economia", analisa Ana Santos, editora do site de Guias de Compra
ReviewBox.
Para o Governo, na prática, significa que a arrecadação do Estado com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na comercialização de automóveis retrocedeu. Em tese deveria estar crescendo no mesmo ritmo de vendas, porém caiu 3,1% no período (retirados os efeitos da inflação). Como os preços estão menores, a arrecadação cai, apesar do registro de alta nas vendas.
De acordo com o último relatório mensal divulgado pela Fenabrave, a General Motors (GM) é a empresa com maior participação no mercado, considerando o acumulado do ano até julho de 2019, representando 18,55% dos emplacamentos no país no período. A empresa é seguida pela Volkswagen (VW), que tem 14,9% de participação no mercado. Em terceiro lugar está a Renault, com 9,45% dos emplacamentos.