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Segunda-feira, 29 de julho de 2024

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Governo do Paquistão acena com acordo, mas põe Exército de prontidão contra protestos

A Presidência paquistanesa anunciou neste sábado uma série de decisões políticas em resposta às principais reivindicações da oposição, para tentar encontrar uma solução à mais grave crise enfrentada pelo governo desde a queda do regime militar comandado por Perfez Musharraf, há um ano, mas também vai colocar o Exército em alerta antes dos protestos previstos para chegar à capital no início da próxima semana.


O governo vai apelar de uma decisão da Corte Suprema de 25 de fevereiro que proibiu o principal líder da oposição, Nawaz Sharif, e seu irmão Shahbaz de concorrerem a eleições e participarem de reuniões públicas, informou um comunicado da Presidência.

O presidente Asif Ali Zardari e seu primeiro-ministro, Yousuf Raza Gilani, também entraram no acordo sobre a querela envolvendo a reintegração dos juízes destituídos em 2007. "Elas serão resolvidas em acordo com os princípios da Carta de democracia", indicou o comunicado. Estas decisões foram anunciadas neste sábado durante uma reunião entre o presidente Zardari e seu premiê, acrescentou o texto.

A crise política no Paquistão teve origem na recusa do presidente Asif Ali Zardari em aceitar reivindicações de advogados ativistas para que readmita um grupo de juízes demitido pelo seu antecessor, o general Pervez Musharraf. A tensão aumentou no mês passado, quando o Supremo Tribunal proibiu o líder oposicionista Nawaz Sharif e seu irmão Shahbaz de concorrer a eleições.

Horas depois do veredicto do tribunal, Zardari substituiu o irmão de Sharif da administração da Província de Punjab por um governador nomeado por ele. Sharif exortou os paquistaneses para aderirem à planejada marcha dos advogados, o que colocou os dois maiores partidos políticos do país em rota de colisão.

A maioria dos juízes demitidos por Musharraf foram readmitidos nos cargos, mas o governo manteve a cassação de alguns, incluindo ex-presidente da Suprema Corte, Iftikhar Chaudhry.

Analistas dizem que o presidente tem medo de que Chaudhry possa anular a anistia que Musharraf concedeu a Zardari e a sua mulher, a ex-premiê Benazir Bhutto, assassinada em 2007. Zardari chegou a ser preso por corrupção, mas os 12 processos a que respondia foram suspensos pelo antecessor. Os defensores do presidente dizem que o ex-presidente da Suprema Corte tornou-se uma figura política e deixou de ser neutro.

Pressão dos EUA

O gesto de distensão do governo paquistanês, neste sábado, foi feito após manifestações de preocupação do governo americano de que o confronto poderia minar o governo e distraí-lo a do combate à violência crescente da rede terrorista Al Qaeda e do grupo fundamentalista islâmico Taleban, na fronteira com o Afeganistão.

Neste sábado, a secretário de Estado dos EUA, Hillary Clinton, manifestou preocupação com a crise em telefonemas a Zardari e Sharif informaram autoridades paquistanesas. Clinton "exortou para uma solução por meio de negociações", disse Pervaiz Rasheed, porta-voz de Sharif.

Horas depois, o governo anunciou que iria recorrer ao Supremo Tribunal nas próximas semanas.

Ao longo desta semana, os Estados Unidos fizeram uma grande mobilização diplomática no Paquistão, utilizando a embaixadora no Paquistão, Anne Patterson, e o enviado do governo Obama ao Paquistão e Afeganistão, Richard Holbrooke, para mediar as conversas entre os dois lados.

"Isso é parte da política do governo para resolver as questões políticas por meio de reconciliação e negociação", disse o porta-voz Farhatullah Babar. "Queremos baixar a temperatura política."

Não está claro se a iniciativa do governo será suficiente para mudar os planos dos advogados ativistas do Paquistão de dos apoiadores de Sharif que, após uma marcha iniciada nas Províncias, planejam chegar a Islamabad na segunda-feira para se postarem em frente ao Parlamento.

Ishaq Dar, um auxiliar de Sharif, disse que o apelo do governo foi uma "boa jogada". Ele disse que o tribunal poderá suspender a sua decisão anterior, restabelecendo o governo provincial. "O bom senso deve prevalecer", em face dos problemas econômicos que se agravam no Paquistão e da luta contra o extremismo, disse Dar à TV paquistanesa Dawn News.

Ainda assim, ele disse que o partido não se comprometeu a retirar o apoio aos protestos. "Não há uma troca", afirmou.

Censura

Em outro sinal de pressão sobre o governo pró-ocidental, o ministro de Informação, Sherry Rehman, anunciou neste sábado a sua demissão do cargo depois que o canal privado Geo TV queixou-se que as empresas de televisão a cabo tiveram sua programação bloqueada em várias cidades.

A TV Geo acusou Zardari de ordenar as restrições --uma alegação negada pelo porta-voz do presidente. Rehman, que frequentemente se manifestou em defesa da liberdade de imprensa, não explicou a sua decisão e, aparentemente, o canal estava disponível novamente neste sábado nas grandes cidades.

O governo afirmou que iria impedir o protesto em Islamabad, aumentando a probabilidade de confrontos violentos que poderiam lançar o país, que possui armas nucleares, em uma turbulência política apenas um ano depois que eleições democráticas deram fim a anos de regime militar.

A repressão continuou neste sábado, com a detenção de ativistas em todo o país, incluindo cinco pessoas em um encontro de centenas de advogados e defensores de Sharif no centro da cidade de Multan.

"Até agora, a nossa atitude é suave, mas podemos mudar a nossa estratégia", disse, em Quetta, Ali Ahmad Kurd, o líder do movimento dos advogados, depois que, segundo ele, autoridades o impediram de embarcar em um avião para a cidade de Lahore.

"Quando um caminho está bloqueado, Deus abre cem outros, e vamos chegar a Lahore e a Islamabad", disse Kurd, cujos comboio pela estrada foi bloqueado um dia antes pela polícia.

O porta-voz do Exército, o major general Athar Abbas, disse que o governo avisou ao Exército na sexta-feira que tropas poderão ser necessárias para proteger "zonas sensíveis" em Islamabad e em outras localidades.

"Quando a situação se deteriora, sai do controle dos policiais e [tropas] paramilitares, só então o Exército é empregado, disse Abbas.

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