01 Mar 2009 - 05:43
G1
Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU e mediador no conflito que estourou após as eleições do ano passado, assinalou que "se o Quênia quiser evitar um novo episódio de violência, as raízes da crise deverão ser eliminadas".
"Os quenianos se sentem frustrados pelo lento caminho em direção à paz. Um caminho que deve incluir a reforma da Constituição, das instituições e da política de terras", afirmou Annan.
Além disso, o ex-responsável da ONU destacou a "necessidade de criar mais postos de trabalho para jovens, estabelecer uma igualdade de oportunidades, promover a harmonia étnica e acabar com a cultura da impunidade para os corruptos e criminosos".
Dentro do próprio Governo há vozes críticas, como a de Ben Musau, membro da Comissão de Reforma Eleitoral, que disse à Agência Efe que "a coalizão não foi capaz de conduzir os desafios que enfrentava, como revisar a Constituição ou criar um tribunal local que julgue os culpados pela violência pós-eleitoral".
A criação de um tribunal local foi uma das condições que a Comissão de Investigação pós-eleitoral, formada por juízes, políticos e representantes da sociedade civil, impôs ao Governo para não levar o caso ao Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia.
Embora o Parlamento tenha votado recentemente contra sua constituição, Annan concedeu ao Quênia em 18 de fevereiro um novo período de dois meses para que a Câmara crie o tribunal.
Se isso não acontecer, passará ao TPI o envelope com os nomes dos supostos instigadores da violência pós-eleitoral, identificados pela Comissão, entre os quais se encontram pelo menos seis ministros e cinco parlamentares em atividade.
"A duração do Governo depende dos nomes que estiverem nesse envelope. Se o presidente Mwai Kibaki, o primeiro-ministro Raila Odinga ou algum de seus homens fortes estiver na lista, a coalizão desaparecerá", acrescentou Musau.
O escândalo mais recente surgiu na quarta-feira passada, quando Philip Alston, especialista da ONU em assassinatos extrajudiciários, acusou a Polícia e alguns políticos de formar "esquadrões da morte que cometem crimes de forma sistemática e organizada".
A crise que levou à formação do Governo de colação começou após as últimas eleições gerais, realizadas em 27 de dezembro de 2007, quando a oposição, liderada por Odinga, denunciou uma fraude na reeleição de Kibaki como presidente.
Após quase dois meses de choques de caráter étnico instigados por seus líderes - que deixaram mais de 1.500 mortos e 400 mil deslocados -, Kibaki e Odinga formaram a coalizão em 28 de fevereiro de 2008, em um pacto auspiciado por Annan e a ex-secretária de Estado americana Condoleezza Rice.
Um ano depois, o país segue imerso na miséria, com cerca de 60% de sua população sobrevivendo com menos de US$ 2 por dia.