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Quarta-feira, 24 de julho de 2024

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"Não tinha costume de ficar discutindo política e brigando", lamenta irmão de petista morto com 15 facadas por bolsonarista

Foto: Reprodução

O assassinato de Benedito Cardoso dos Santos, de 44 anos, com 15 facadas surpreendeu o irmão, Paulo Cardoso, que afirmou que Benedito não era fanático por política e não tinha costume de se envolver em discussões. O crime aconteceu na noite da última quinta-feira (7), em Confresa, quando ele e Rafael Silva de Oliveira, apoiador de Bolsonaro (PL), se desentenderam no trabalho. 


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"Não respeitou a opinião política, achou que a única coisa para se vingar seria assassinar meu irmão. 
Na realidade não tinha mesmo, não era costume dele [de Benedito] estar discutindo política, brigando ou arrumando intriga. Se ele fosse um cara que fizesse isso não ficaria surpreso", lamentou Paulo. 

De acordo com boletim de ocorrência, Benedito e Rafael estavam sozinhos na casa de um chácara, na zona rural de Confresa. Em determinado momento, eles começaram a falar sobre política, sendo que a vítima era apoiadora do ex-presidente Lula (PT). 

Paulo contou que o irmão estava em Mato Grosso há pouco mais de 20 dias para trabalhar. A previsão era que ele voltasse para o Pará (PA), nesta segunda-feira (12). Benedito costumava trabalhar sozinho na propriedade rural, até que Rafael foi contratado para auxiliar no serviço de limpeza. 

Não há relatos da vítima para o irmão sobre desentendimentos ou brigas com o colega de trabalho. Benedito não tinha costume de reclamar do trabalho e passava a maior parte do tempo sozinho. 

"Conhecia o cara que matou ele há poucos dias. Eles nunca tinham se desentendido, foi uma coisa de uma hora para outra, não reclamava de nada, ficava lá sozinho trabalhando. Aconteceu de uma hora para outra. Ele tem várias passagens pela polícia, já é um cara cruel, um bandido". 

Morte cruel 

Rafael contou aos policiais militares que Benedito o agrediu com um soco no queixo e ele revidou. Os dois chegaram a se acalmar, mas o suspeito relatou que a vítima pegou uma faca e ficou parado. Rafael foi para cima do colega de trabalho e conseguiu pegar a faca. 

Depois de correr atrás da vítima, Rafael conseguiu esfaqueá-la nas costas e, em seguida, desferiu outros golpes. Benedito foi esfaqueado na testa, em um dos olhos e no pescoço. Com um machado, o suspeito ainda tentou degolar a vítima, que sobreviveu as facadas e estava agonizando.

Para Paulo, a crueldade de Rafael pode ser comparada a um "massacre". O irmão lamenta que, de início, sequer quis saber dos detalhes do crime, já que entrou em estado de choque com o assassinato de Benedito. 

"Tive que me manter firme e seguro para resolver, se eu caísse no momento ficaria díficil para resolver a situação. Eu que arrumei meu irmão no caixão, levei para o lugar que foi velado. Não é fácil ver um irmão esfaqueado, degolado, não é fácil, não".

Os familiares de Benedito estão arrasados com o crime, de acordo com Paulo. A vítima não deixou filhos e é lembrada pelo irmão como alguém "brincalhão" e "tranquilo". 

"Benedito era uma pessoa tranquila, não usava entorpecentes, não era agressivo com ninguém. Nunca deu um tapa, murro ou empurrão em ninguém. O que gostava mesmo de brincar, toda vida estava brincando, era assim, uma pessoa alegre. Não precisava de tanta brutalidade, pela quantidade de facadas que tiveram, machadadas, tentativa de degola". 

Bolsonarista buscou atendimento médico

Após esfaquear Benedito e fugir da chácara, Rafael procurou um hospital por conta de ferimentos nas mãos. Na unidade de saúde, ele afirmou que havia sido vítima de um roubo. No entanto, os militares já tinham conhecimento do homicídio e o bolsonarista era considerado suspeito.  

De acordo com boletim de ocorrência, Rafael disse para outro colega de trabalho, listado como testemunha do caso e responsável por ter achado o corpo de Benedito, que dois homens invadiram a chácara e mataram a vítima. 

O trabalhador desconfiou da versão e alertou a patroa. Rafael ainda chegou a pedir dinheiro para a chefe, que decidiu acionar a Polícia Militar. 


O delegado representou pela conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva. O juiz da 3ª Vara de Porto Alegre do Norte, Carlos Eduardo Pinho, acatou o pedido em audiência de custódia realizada quinta-feira (8). 

Na decisão, o juiz cita que há indícios suficientes para a qualificação da prisão, uma vez que, o acusado já responde por outros crimes contra a vida.  Ele diz ainda que a intolerância não deve e não será admitida.

"Assim, em um Estado Democrático de Direito, no qual o pluralismo político é um dos seus princípios fundamentais torna-se ainda mais reprovável a conduta do custodiado. A intolerância não deve e não será admitida, sob pena de regredirmos aos tempos de barbárie. Lado outro, verifica-se que a liberdade de manifestação do pensamento, seja ela político-partidária, religiosa, ou outra, é uma garantia fundamental irrenunciável". 

O delegado Victor Oliveira, responsável pelo inquérito, descarta a tese de legítima defesa. Para ele, a quantidade de facadas configuram "meio bastante cruel" e ressaltou que a vítima já estava "praticamente indefesa". 

"No meu entendimento não configurou jamais legitima defesa, ele poderia ter desistido, a vítima já estava correndo, desarmada. Mesmo assim ele continuou, no meu entendimento já está descartada a legítima defesa". 
 
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