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Sábado, 27 de abril de 2024

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Embaixada em Honduras reúne companheiros improváveis

Nesta segunda-feira, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e sua mulher, Xiomara, completam duas semanas como "hóspedes" da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Com eles estão outras 66 pessoas, que dividem os cerca de 400 metros e seis banheiros da casa sob o cerco de dezenas de policiais e militares fortemente armados e encapuzados.


O repórter da Folha, há nove dias um dos moradores da casa, selecionou alguns dos personagens-chave dessa comunidade improvável.

1. O bailarino Hermes Estrada, 31, chegou à embaixada desmaiado e carregado - havia levado um golpe de cassetete de um policial. Diretor do Balé Nacional Folclórico de Honduras, perdeu a sensibilidade de parte do rosto e está com o olho roxo. "Todos os dias sangro pelo nariz." Mesmo assim, quer começar um jejum amanhã.

2. O "jornalista militante" americano Andrés Conteris, 48, só consome líquidos desde 15 de setembro. Foi ele quem convenceu Estrada a começar um jejum total. Inspirado por Gandhi, diz que será a "etapa final" da resistência. "O enfoque é a insurreição não violenta." O diplomata brasileiro de plantão, Lineu de Paula, proibiu a iniciativa na embaixada. "Mas queremos falar com Amorim para pedir sua permissão."

3. Com experiência em missões difíceis, como o resgate de brasileiros durante a guerra no Líbano, em 2006, o diplomata Lineu de Paula, 55, brinca que agora é o "diretor da cadeia". Suas tarefas nos últimos dias incluíram assistir a uma reunião de Zelaya com um enviado da OEA, impedir atos proselitistas dentro da casa e procurar a chave de um banheiro trancado pelo lado de fora.

4. Autodeclarado "médico da resistência", Marco Girón, 39, cuida de todos e monitora constantemente Zelaya. "Sua saúde está bem, mas nos preocupa que ele seja o alvo. Temos fortes suspeitas de que os militares usam aparelhos infrasônicos, que podem provocar confusão e dor de cabeça." Girón entrou na embaixada depois de um hora no teto da casa vizinha, durante confrontos entre policiais e manifestantes. Com autorização do Zelaya, pulou o muro.

5. Já a parte espiritual da casa está a cargo do padre Andrés Tamayo, 52. Salvadorenho de nascimento, perdeu a mãe aos três meses e foi entregue pelo pai a uma família pobre. "Meu compromisso nasce da minha condição de vida. Do contrário, seria uma traição." Ligado a disputas de terra, ele já sofreu cinco atentados.

6. Talvez o único socialista da casa, o escritor Milton Benítez, 33, não votou em Zelaya e é parte desse realinhamento político que uniu o presidente deposto à esquerda em torno da Constituinte. Diz que está lá para garantir a "transparência" do diálogo e impedir que a Constituinte seja descartada. "Que os acordos não passem por cima do sangue."

7. Se fosse um reality show de verdade (ou de mentira), o guianense naturalizado hondurenho Mahadeo Emmo, 53, ganharia disparado. Quando abre a boca, arranca risadas com seu forte sotaque e frases otimistas. É professor de inglês e tem 11 filhos. Está em Honduras há 34 anos. Queria ir para os EUA, mas o dinheiro acabou, e ele foi ficando. Aqui, sua missão é cuidar da limpeza.

8. Quando houve o golpe, em 28 de junho, a operária Itália Garcia, 34, foi à rua marchar. Apanhou da polícia e, quando voltou ao trabalho, foi despedida por seu envolvimento político. Dias depois, saiu da igreja evangélica Vida Abundante porque viu o pastor abraçando Micheletti na TV. Viúva, mandou seus três filhos à casa dos pais para se dedicar "por inteiro" às marchas pró-Zelaya.

Além de deixar o café pronto todos os dias às 7h, ela limpa todos os banheiros da casa. Com Emmo, toca no grupo de samba Amigos do Mel, com instrumentos improvisados.

9. Outra das poucas mulheres é Doris García, 48, única membro do gabinete que está na embaixada -em setembro, completaria um ano como ministra da Mulher. Com o golpe, passou a acompanhar Xiomara, da qual é assistente e amiga. "Aqui, ninguém tem um salário, cremos que a causa é justa."

10. Filho de esquerdistas, Abner Hernandez, 16, deixou o segundo ano do ensino médio para participar da campanha pela Constituinte. "Que importa estudar se eu não ia conseguir um trabalho? Com a Constituição, os pobres vamos ter o poder." Na casa, ajuda na vigilância.

11. Mario Irias, 36, é um dos 28 seguranças de Zelaya. Sua função é crítica: cuida, por 15 horas diárias, da porta de entrada da embaixada. É ex-militar e trabalha de técnico de manutenção de câmeras de segurança.
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