Enquanto as duas partes parecem estagnadas nos esforços por uma saída negociada à crise política em Honduras, o diretor da Universidade Autônoma de Honduras, Ramón Romero, defende que a resistência ao golpe de Estado não é um movimento em defesa do presidente deposto Manuel Zelaya, mas uma luta pela retomada da democracia no país.

Romero, que lança nas próximas semana um livro sobre o golpe de 28 de junho, afirma em entrevista a Ana Flor, enviada especial da Folha de S. Paulo ao país, que muitos países no mundo estão esperando o desfecho da crise e a posição dos EUA. "Em Honduras, Obama está mandando uma mensagem ao mundo", diz .

"A dependência econômica trouxe dependência política. Os americanos se converteram em uma força decisiva em Honduras. A manifestação política e militar mais importante disso foi durante a década de 1980, quando a crise centro-americana instalou a revolução nicaraguense e insurreições em El Salvador e Guatemala", explica o professor.

Para Romero, a mudança nas relações bilaterais é resultado da chegada do presidente Barack Obama, que propõe relações "menos verticais". "A evidência mais importante é que os EUA não apoiam o golpe. Mas, em sua atuação em Honduras, Obama está mandando uma mensagem ao mundo", diz.

Romero diz ainda que as eleições não podem ser a solução à crise se acontecerem sob o governo do presidente interino de Honduras.

"Como pode haver eleições quando os cidadãos não têm direitos cidadãos, quando os meios de comunicação são fechados e reprimidos, quando as pessoas que se expressam contra o governo são objeto de repressão?", disse. "Como um governo ilegítimo vai conduzir eleições legítimas? Como as Forças Armadas, que há três meses derrubaram um presidente, vão garantir as eleições? É como pôr um lobo para cuidar das ovelhas", completou.