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Domingo, 19 de maio de 2024

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Criticada, matança de porcos devido à gripe suína deixa lixo acumulado no Egito

Seis meses depois de o Egito sacrificar os porcos do país como uma criticada forma de combate à gripe suína (A H1N1), a medida não só deixou milhares de criadores à beira da miséria como gerou a acumulação de lixo.


"O porco era como uma palmeira que dava frutos. Cada vez que tínhamos fome, comíamos dela. Agora, do que viveremos?", disse Alnuqrashi Sedki, catador de lixo que criava porcos.

Como Sedki, dezenas de milhares de catadores chamados de "zabalin" no Egito que vivem na parte leste do Cairo, nos arredores da montanha de Muqatam, se sentem inseguros após perderem os porcos dos quais dependiam para viver.

Em abril, as autoridades egípcias ordenaram o sacrifício de 350 mil porcos para evitar a propagação da gripe suína, apesar de não haver registros de casos da doença no país até então e de a medida ter sido classificada de inútil pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Embora esta gripe tenha tido origem nos porcos, os animais não são mais o centro do problema.

Entre montes de lixo e rodeado por moscas, Sedki, que tem seis filhos, disse à agência de notícias Efe que sua renda caiu 80%. O catador, de 40 anos, diz que vivia bem quando cobrava 1.500 libras egípcias (quase US$ 300) ao mês por recolher lixo.

Além disso, vendia lixo para usinas de reciclagem e a carne dos porcos que tinha para restaurantes.

O recolhimento de quase 14 mil toneladas de lixo por dia do Cairo sempre foi o negócio dos zabalin, quase todos da minoria cristã, que passavam de casa em casa para levar o lixo em um carrinho até seu bairro. Os muçulmanos, maioria da população egípcia, não consomem carne de porco por motivos religiosos.

Ali, separavam o lixo em seus próprios lares para alimentar os porcos com resíduos orgânicos e para vender os produtos de plástico e de papelão às fábricas de reciclagem.

Nos últimos anos, o sistema de coleta de lixo mudou em alguns lugares do Cairo, já que várias companhias estrangeiras se encarregaram de recolher os resíduos substituindo os carrinhos puxados por burros por caminhões.

Em outras zonas do Grande Cairo, no entanto, se mantém o sistema tradicional, o que gerou uma inusitada acumulação de lixo nas já sujas ruas da capital.

"Agora não temos porcos para vender e não cobramos das casas porque não recolhemos mais seu lixo", conta Sedki.

Sentada em cima de uma montanha de papéis sujos, a irmã de Sedki, que não quis se identificar, disse à Efe que as autoridades sacrificaram os mil porcos que criava no pátio de sua casa.

"Quando vieram aqui para matar nossos animais, nos pagaram 50 libras egípcias (US$ 9) por cabeça, mas agora que renda teremos?", perguntou a mulher, que divide o negócio com Sedki e com o resto de sua família.

Os únicos "zabalin" que não sofreram com a perda dos porcos são os que trabalham nas usinas de reciclagem.

"Para nós, o sacrifício dos porcos foi bom. Há menos mau cheiro em Muqatam e o bairro está mais limpo", disse Gerguis Gamal, enquanto fazia cabides de plástico reciclado.

Alguns lixeiros ainda sobrevivem da coleta dos resíduos recicláveis, enquanto outros tiveram que mudar de profissão.

Como já não há porcos, os lixeiros se negam a recolher os restos orgânicos que antes serviam como comida para estes animais.

Também não passam de casa por casa para levar seus sacos de lixo e escolhem os resíduos de que precisam e deixam todo o resto nas avenidas do Cairo.

Como consequência, o lixo se acumulou nas ruas e o mau cheiro que antes dominava o bairro dos "zabalin" se transferiu para diversas esquinas da capital do Egito.

Para piorar, as companhias de lixo estrangeiras, com suas tecnologias avançadas, não puderam competir com o lixeiro tradicional nem cumprir com as condições impossíveis dos contratos que assinaram com o Governo egípcio. Além disso, houve greves que agravaram ainda mais o problema.

"O dinheiro que ganhávamos com a criação dos porcos nunca voltará. Então, o que pedimos é voltar a recolher o lixo das casas", disse Sedki.
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